Trata-se de um caso diferente da “regra comum” da família Formicidae. A professora e orientadora da pesquisa, Ronara Souza revela que “a regra básica da formiga é: ela é fechada na mesma colônia, com a própria rainha e as próprias operárias que trabalham naquela mesma colônia. Então, é como se fosse uma sociedade fechada e protegida. Mas, a formiga nunca funciona só pela regra.”
De todas as estimadas mais de 20 mil espécies de formigas existentes, apenas 3% vivem a partir da relação interespecífica do parasitismo, na qual uma tira vantagem da outra. Ronara explica que, nesses casos, trata-se de uma adaptação evolutiva em que uma espécie cria estratégias, sejam químicas, de comunicação ou de comportamento, para burlar a defesa inicial de colônias de outra espécie e conseguir entrar. Assim, essas formigas parasitárias garantem a sobrevivência e sucesso na reprodução.

3.A: S. schulzi; 3.B: S. denticulata; 3.C: S. subedentata; durante as análises de comportamento por microscópio e vídeo, as espécies são diferenciadas pelo tamanho da mandíbula [Imagem: Reprodução/Thalles Rocchel Bezerra Muniz]
Durante a pesquisa, as colônias coletadas foram armazenadas em ninhos artificiais, filmadas por longos períodos e os comportamentos e interações entre as espécies foram observados considerando as variáveis de disponibilidade de comida, quantidade de larvas e organização. O que o pesquisador constatou é que as duas espécies fazem todas as funções de forrageamento, proteção do ninho, limpeza e transporte de larvas, o que caracteriza uma relação ecológica de benefício mútuo (mutualismo).

Ninho artificial confeccionado com mistura de gesso e carvão [Imagem: Reprodução/Thalles Rocchel Bezerra Muniz]
Para isso, o pesquisador analisa 12 colônias por meio de gravações microscópicas de 10 horas cada uma. Assim, ele contabiliza as interações (quantificando duração e frequência para cada espécie) nesse período e busca um padrão para construir dados concretos. As interações entre as rainhas de cada colônia também são consideradas, mas a hipótese geral que está sendo comprovada e analisada é de que não haja comportamentos agressivos entre as espécies, mas de cooperação.
A defesa da dissertação de mestrado ocorrerá em agosto de 2024 e será aberta ao público. Fique atento no site do Instituto de Psicologia da USP (https://www.ip.usp.br/site/defesa/) para não perder.
Por: Beatriz Garcia, para o AUN USP, 28/05/2024