Chico Mendes: O Filho da Floresta

Legenda: Há 36 anos morria Chico Mendes, que um dia ousou sonhar com a convivência harmoniosa entre homem e natureza e com um mundo onde seria possível promover o desenvolvimento e manter a floresta em pé, servindo de abrigos para seus habitantes. Diversas atividades (já) foram realizadas para homenagear o líder sindical e ex-seringueiro (Foto: Gleilson Miranda/Secom). Adaptado de Wikimedia Commons. Disponível em https://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Chico_Mendes . Acesso em 01/11/2024.

O ativista ambiental Chico Mendes é homenageado no número 8 da Revista BALBÚRDIA.

Prazer, sou Química formada pela UNESP; Mestra em Ensino de Ciências no Programa Interunidades do PIEC-USP e atualmente sou doutoranda no mesmo programa. Atualmente estou como professora do Ensino Médio e Técnico no Centro Paula Souza na cidade de São Paulo. Além da Ciência, também me interesso por outros assuntos, como música, esportes, artes, Natureza em sua completude e tudo que remete ao autoconhecimento. Sempre que possível, converto na forma de texto um pouco daquilo que vem das minhas emoções, da minha transformação interior e do que observo ao meu redor. 

Pra resumir: como diria Raul: sou "uma metamorfose ambulante".

19 de novembro de 2024 | 10:00

Chico Mendes nasceu parte da floresta. Nasceu em tempos remotos. Sem tecnologia. Sem nada de riqueza a não ser a própria Natureza. Tudo que tinha, vinha da floresta. Vinha do seu quintal de casa. A natureza e os homens da floresta educaram o menino que mais tarde seria o grande defensor de todo o verde e de toda a gente. 

Cresceu e foi instruído, aprendeu as primeiras letras ainda menino grande. Virou homem, constituiu família, travou grandes batalhas, algumas venceu, outras perdeu, tudo em prol do grande amor que sentia pela natureza (e que mais tarde foi entender que era pela Humanidade). Infelizmente foi embora tão logo que já havia anunciado sua saída pela porta da frente da grande floresta da vida. 

Deixou legado. Deixou seu levante. Deixou outros que defendem a floresta - mesmo diante das dificuldades da modernidade e da ganância do Homem. 

Sim! Ele lutou suas lutas possíveis a favor da Mãe Terra, a favor da Humanidade. 

Com profundo respeito, vos apresento Chico Mendes.

Quem foi Chico Mendes? 

Chico Mendes nasceu no dia 15 de dezembro de 1944 em Xapuri/Acre. Filho de pais nordestinos migrantes, cresceu na floresta e desde cedo entendeu que seu sustento vinha dessa grande Mãe. 

Cresceu e conheceu Euclides Fernandes Távora, um refugiado nas matas amazônicas que o ajudou por algum tempo a conhecer as primeiras letras que deram significado ao que ele já conhecia da vida por si. Chico era um jovem que tinha vontade de entender as coisas do mundo, vontade de aprender a ler - algo que já o diferenciava de toda a população do seu entorno que era desprovida do conhecimento letrado. Foi a partir dessas manifestações de interesse do jovem Chico que Euclides Távora pediu autorização ao seu pai para que pudesse alfabetizá-lo. E assim o fez. Távora percebeu a oportunidade de investir nesse jovem de forma política que se mostrava interessado e interessante (De Paula & Da Silva, 2012). 

Chico Mendes não só aprendeu a ler e escrever, mas também apreendeu, sobretudo, a paixão pelas ideias revolucionárias de seu velho “amigo-instrutor”. O seu método de ensinar orientou a trajetória política de Chico e ainda o projetou para reescrever a História de luta e resistência de parte dos segmentos sociais subalternos na Amazônia brasileira.

Entre meados da década de 70 e 80, Chico Mendes ajudou a fundar o Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Brasiléia e Xapuri. Participou da fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e liderou as articulações que resultaram na criação do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS). Ao entrar na política e com grande projeção, ele enfrentou severas perseguições. Apesar disso, se defrontou com interlocutores ligados ao ambientalismo internacional ao qual o seu amigo - instrutor não pôde lhe orientar com antecedência porque não vivera tal situação.

Após o seu assassinato em dezembro de 1988, a mídia internacional “elegeu” esse episódio como aquele que seria o marco emblemático da questão ambiental. Tantos outros crimes já ocorreram ao longo de décadas e com tamanha crueldade muito além do que foi o caso de Chico Mendes e mesmo assim, a mídia o mantém como um “mártir” para questões ambientais. Muitos massacres como Eldorados dos Carajás e o assassinato da Irmã Dorothy Stang entre outros, são exemplos daquilo que ainda acontece em território Nacional. 

Diálogos do Passado e do Presente para um Futuro mais humano 

Haverá um dia, talvez distante, alguém que lutará bravamente por esse pedaço de Terra. Existirá um dia em que a revolução socialista mundial sonhada por Chico Mendes não será a política dos Homens, mas sim, a Lei da Natureza retomando o seu lugar porque os sonhos sonhados se tornam realidade e aquilo que ousamos, podemos conquistar;

Haverá um dia, quem sabe lá para 2120, como escreveu Chico Mendes, um jovem ainda indagará: “porque não? Eu não posso mudar?” 

Sim! Você pode!

Lute pelas suas lutas! Suas causas.

A Terra chora há tempos e tem ido ao leito por inúmeras vezes, pedindo e suplicando socorro porque tem gente que machuca, infelizmente é a realidade, mas, em cada gesto de coração e boas intenções, há a possibilidade de resgate, de melhora. Quem acredita sempre alcança como diria Renato Russo. Ao mesmo tempo, é sabido que um dia a gente aprende, como disse Chico Mendes. 

O seringueiro tem nas águas o caminho a percorrer, assim como os índios, mas o Homem “civilizado” não compreendeu essa lição. 

A floresta dá a casa e as árvores o pão, mas o Homem “civilizado” não entendeu essa lição. 

Chico Mendes foi um exemplo em tempos remotos, em tempos difíceis, assim como tantos outros Chicos da Floresta que clamam (até hoje) por socorro em nome da sobrevivência. Mas, quem os ouve?  

Que homem “civilizado” lhe estende a mão? 

Pelo contrário, só trazem as ferramentas para a devastação, sem ao menos pedir “com licença irmão”. 

A floresta tá aí.... tentando sobreviver e todos os Chicos também. 

Em pleno século 21, com tantas inovações e modernidades, não sabemos mais mexer na Terra;

Não sabemos tirar o sustento que possa alimentar o corpo e a alma. 

Como já acontece há décadas (ou séculos), entendemos que destruir é melhor porque viabiliza subir grandes edificações em prol do progresso... 

Ah! Esse progresso.... 

Progresso que desmata

Progresso que mata 

Progresso que nos mata 

Progresso que fere sonhos 

Progresso que nos cega

Progresso que nos condena 

Como Chico Mendes um dia escreveu: “Aqui fica somente a lembrança de um triste passado de dor, sofrimento e morte”. 

Vamos em frente, plantar no presente para colher no futuro - que a nós mesmos, pertence. 

 

REFERÊNCIAS

DE PAULA, Elder Andrade; DA SILVA, Sílvio Simione. Movimentos sociais na Amazônia brasileira: vinte anos sem Chico Mendes. Revista Nera, n. 13, p. 102-117, 2012.

CHICO Mendes - Cartas da Floresta. Direção: Dulce Queiroz. Produção: Pedro Henrique Sassi e Rita Andrade. TV Câmara: 2009. Documentário. Disponível em https://youtu.be/2hmDsCSbUtE?si=D0NP5qKAMWMJm2xY. Acesso em 06 set. 2024. 

Chico Mendes, Eu quero Viver. Canal Serigueiro. Documentário. Disponível em https://youtu.be/sb8eziCRNzE?si=AEDHXpGIKBXzbyuF. Acesso em 06 set. 2024. 

Israel Kamakawiwo'ole. Over the Rainbow - What a Wonderful World. Álbum: Ka 'Ano'i. Música. 1990. 

Renato Russo. Mais uma vez. Albúm: Sete. Música. 1987