Atletas e esportistas profissionais estão à mercê de pressões que influenciam diretamente a saúde mental. Além das questões cotidianas que podem colaborar para a não manutenção do bem psíquico — como dificuldades financeiras, preconceitos e atrasos de compromissos — os esportistas estão pressionados por outras exigências do universo competitivo. Pouco espaço para erros, grandes expectativas, prazos apertados de competições e horários rígidos de treino. Toda essa situação que pode deixar a saúde mental dos profissionais comprometida pode ser amenizada com acompanhamento psicológico especializado.
A cobrança excessiva, interna e externa, pressão dos treinadores, torcida, família, e patrocinadores exige acompanhamento e suporte de um psicólogo esportivo. Esse contexto extremamente tensionado e ruim pode levar a desistência de muitos atletas. Quando os casos são mais graves, além de levar ao abandono das competições e treinos, a pressão sofrida por essas pessoas podem levar a quadros de depressão, ataques de pânico, níveis de estresse e ansiedade elevados, dentre outras situações de sofrimento psíquico. Em casos mais graves, inclusive, sugere-se o acompanhamento de um psiquiatra que poderá avaliar a necessidade do uso de medicação para amenizar o sofrimento psíquico em estágio agudo.
Rebeca Andrade, a maior medalhista olímpica do Brasil, destacou em tv aberta a essencialidade do trabalho realizado pela sua equipe de psicologia na conquista do ouro. A ginasta compartilhou que alcançou a tranquilidade depois de muita conversa, reconhecendo que a pressão excessiva de ganhar medalhas não colaboraria e que ela está ali fazendo o trabalho dela, como qualquer outra pessoa realiza o próprio trabalho.
Diante do cenário, o doutor em Psicologia do Esporte pelo IP/USP e professor associado do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE), Rafael Castellani, considera o que justifica condições ruins para alguns atletas.
Os estudos, de maneira geral, apontam uma fragilidade na condição psíquica, um despreparo dos atletas do ponto de vista mental e psicológico, justamente pela falta de importância que é atribuída a esse aspecto da performance humana. A psicologia do esporte só é lembrada em situações de emergência ou em situações como as que estamos vivendo atualmente, no clímax das grandes competições esportivas.
Raiza Gulão, ciclista olímpica goiana especializada no mountain bike, em entrevista ao Jornal Opção, confessa que a pressão que ela mesma coloca sobre si é muito pesada e que atua sempre no limite. Ela conta com psicóloga, terapeuta e um coach na equipe.
Esse ano senti muita ansiedade, foi um período muito desafiador. O que a gente planeja às vezes não é a mesma coisa que o universo propõe. Apesar de ter conseguido aproveitar a experiência das Olimpíadas de Paris mais tranquila, existem vários motivos que são necessários desenvolver em terapia. Acho que principal é saber lidar comigo, focar em mim, viver o aqui e o agora
Os profissionais da psicologia do esporte não atuam somente em casos críticos de sofrimento psíquico, mas também para ganho de performance esportiva. Há muitas estratégias que podem ser adotadas durante os treinos com o objetivo de alcançar melhor desenvolvimento dos atletas. Por exemplo, para que o esportista seja um líder melhor, que se relacione bem com colegas de equipe e integrantes da comissão técnica, que seja mais íntimo com a torcida, que defina melhores objetivos de carreira e outros aspectos.
O professor Rafael Castellani considera que a importância de um psicólogo é enorme, independente do campo de atuação do profissional.
Pensando no campo do alto rendimento a necessidade do psicólogo toma um nível de grandeza maior justamente por conta da responsabilidade que o contexto envolve. Não consigo entender como em 2024 a gente ainda tenha confederações e federações que não investem na atuação forte do psicólogo do esporte
Por: Gustavo Soares, Jornal Opção, 7/8/2024