A Análise Institucional do Discurso como Analítica da Subjetividade

A Análise Institucional do Discurso como Analítica da Subjetividade

Marlene Guirado | Lumens Juris, 2018

Para comentar esta obra, lanço mão de um dizer proustiano: “muitas catedrais permanecem inacabadas”. Há nele uma espécie de paradoxo. Afinal, como é que obras do porte e da beleza de catedrais poderiam permanecer inacabadas, sem que deixassem de ser reconhecidas como catedrais? Acontece que podemos considerar que o trabalho de construção é interminável e que isso não impede a magnitude da obra. O inacabado a constitui. É o que se reconhece neste livro de Marlene Guirado: uma “catedral em obras”. E é no inacabado que se revela o árduo trabalho da escritora para não se curvar à lógica da evidência e da completude. O pensamento de Marlene Guirado é um dos mais sólidos e consistentes da psicologia no Brasil. Ao operar nas fronteiras do psíquico, ela dá um passo na direção de pensar o sujeito da ação, da palavra e da história, na perspectiva de uma singularidade, que só se pode assim dizer, porque está matriciada em relações que se fazem/vivem como significativas, “desde o berço, vida a fora”, diria ela. Esse é o pano de fundo da densa discussão apresentada neste livro em que se organiza um campo conceitual, “um certo dispositivo metodológico” para “produzir … psicologia”. As dificuldades sobre as quais se equilibra esse campo, assim constituído, dizem respeito à complexa passagem de uma análise do discurso para uma analítica da subjetividade. Nesse caminho, a autora enfrenta o ponto mais delicado de seu trajeto. Mas, é exatamente de tal desafio que nasce, de forma inovadora, “o especifico da interface”, ou seja, a psicologia e seu exercício como análise institucional do discurso. É com esse percurso de pensar e escrever que se reconhece no trabalho de Marlene Guirado uma catedral. Que permanece em obras, por intenção e método. Então… Mãos à obra!