Ensaio discute o conceito de ensinar e o seu foco na experiência humana e na cognição mental
“Quem nunca perguntou: ‘será que bicho aprende?’”, questiona Bruna de-Sá, pesquisadora e doutoranda do Laboratório de Etologia, Desenvolvimento e Interações Sociais (Ledis) do Instituto de Psicologia (IP) da USP. Em seus estudos, ela mirou em outra questão que pode ocorrer: “bicho ensina?” – e desenvolveu um ensaio voltado ao conceito e à ampliação do ensino entre animais não humanos.
Centralidade no cérebro
Outro aspecto levantado pelas pesquisadoras quando abordamos o ensino e a aprendizagem é a centralização da cognição no cérebro. Nesse caso, elas falam sobre a adoção de uma perspectiva que englobe o cérebro, o corpo e o ambiente, para dar destaque ao contexto em que o ensino ocorre.
A cognição corporeada é uma teoria que aborda a descentralização da cognição, abrangendo a importância da sensorialidade, percepção e ação do indivíduo para a construção do aprendizado.
A importância do contexto também trata sobre a agência – conceito filosófico que fala sobre a capacidade dos indivíduos de agir sobre o ambiente. Usando a teoria de construção de nichos, que diz que os indivíduos são agentes de transformação do ambiente, as pesquisadoras puderam enfatizar a importância da tríade professor-aluno-ambiente, aplicando um paralelo entre a pedagogia libertadora, desenvolvida por Paulo Freire, e a importância das interações sociais no entendimento do contexto social, assunto estudado por Robert Hinde.
“[Hinde] ressalta como o comportamento de um indivíduo em uma interação só faz sentido se a gente olhar o de um outro [indivíduo]. E a gente faz um paralelo com Paulo Freire, que fala sobre como, no processo do ensino, o docente e o aluno se misturam. Não se explica um sem o outro”, diz a pesquisadora.
Experimentos realizados em animais não humanos, muitas vezes, são feitos em ambientes e situações artificiais e que não fazem parte do contexto dos animais. Por isso, uma das questões do ensaio é se experimentos restritivos são a melhor opção para o avanço dos estudos na área. “A gente quer entender o animal na sua essência de animal. Não queremos transformar o macaco em gente, mas discutir com parcimônia esses processos de aprendizagem”, diz Resende.
Mais informações: bruna.sa@usp.br, com Bruna de-Sá; briseida@usp.br, com Briseida Resende
Texto: Gabriele Mello, estagiária com orientação de Luiza Caires, para o Jornal da USP, 13/11/2024
Arte: Diego Facundini
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