Coisas que só descobrimos no isolamento: 22 de maio foi Dia do Abraço. Quem está em isolamento com a família, e não tem pacientes em casa com Covid, talvez pôde comemorar o dia sem dificuldade. Mas e os solteiros? E quem mora com alguém doente?
A coluna perguntou ao psicanalista Christian Dunker, professor titular em psicanálise e psicopatologia do Instituto de Psicologia da USP, sobre a importância do abraço para o brasileiro e como supri-la neste momento.
“Para o brasileiro, ficar sem o abraço é mais penoso do que para outras culturas, mais frias, que dá menos importância ao contato corporal, como abraçar, tocar no ombro, aproximar-se para falar. O brasileiro tem um espaço pessoal menor do que outras culturas. Precisam de um compartilhamento com o outro para nossoa afetos serem vividos com precisão”.
E abraço é substituível? Dunker afirma que sim, lembrando que em outras culturas ele não têm o mesmo peso. Americanos, por exemplo, abraçam sempre encaixando os braços de uma maneira que conseguem impedir que os corpos se encostem totalmente.
“O brasileiro teria que compensar a falta de abraço neste momento com processos mais finos e mais intensos de nomeação de afetos, com palavras, exercícios de expressão de afeto com outros, que podem ser virtuais, ou telefonemas, para pessoas por que você tem muito afeto, e isso vai permitir que vá descobrindo o que sente nessa conversa. Ou ainda palavras por meio de atividades culturais. Ler literatura, o bom cinema, a nossa música. Sentir-se abraçado pelo afeto dessas palavras”.
Por Guilherme Amado