“Cuidados paliativos não são sentença de morte, mas qualidade de vida até a morte”

O acompanhamento é geralmente feito em conjunto com as pessoas de importância para o paciente – Foto: Reprodução/Freepik

Para amenizar as dificuldades enfrentadas antes de morrer, há um ramo da psicologia específico para cuidar de pacientes doentes e seus familiares nesse momento delicado. Para falar sobre o assunto, a convidada é Maria Julia Kovács, coordenadora do Laboratório de Estudos sobre a Morte (LEM) do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.

Maria Julia Kovács – Instituto de Psicologia da USP – Foto: Divulgação/IP

O propósito desse tipo de terapia é abordar a morte de uma maneira multidisciplinar, envolvendo também médicos, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, entre outros. Como ela comenta, “os cuidados paliativos são cuidados integrais em relação a sintomas e também uma busca principalmente pela qualidade de vida das pessoas”.

O intuito é auxiliar o paciente e seu entorno para atravessar o processo como um todo. O período que antecede a morte, que pode ser mais longo ou curto, pode envolver muita tristeza, angústia ou confusão, e é aí que o tratamento pretende atuar: “Não existe uma promessa de que vai ficar tudo bem, mas existe um empenho para que as pessoas possam ser atendidas naquilo que elas mais necessitam em todas as etapas até o final da vida”, diz ela.

Para tanto, o acompanhamento é geralmente feito em conjunto com as pessoas de importância para o paciente e é sempre um trabalho que abrange outras profissões. “Os cuidados paliativos são sempre realizados de forma multiprofissional. Tem médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas e assistentes sociais. Enfim, é uma equipe que trabalha em conjunto”, explica Maria Julia.

Mudanças em vista

Há, segundo a professora, uma certa confusão com relação ao trabalho do tratamento paliativo. Embora muitos pacientes cheguem quando a doença já está avançada e o sofrimento, enorme, os “cuidados paliativos não são sentença de morte, mas sim qualidade de vida até a morte”.

Para ela, os cuidados podem começar assim que o diagnóstico é dado. “Infelizmente, as pessoas acreditam que os cuidados paliativos só devem ser oferecidos quando não têm mais nada a fazer do ponto de vista de cuidados”,  comenta, mas rebate dizendo que “hoje nós temos pacientes que recebem cuidados paliativos desde o início do seu tratamento e não somente no final”.

Ela ainda afirma que essa área é um nicho em expansão. As tendências populacionais e sociais indicam um crescimento na demanda: “Muitas doenças estão se tornando crônicas com múltiplos sintomas, e há um envelhecimento da população, o que faz com que essas doenças estejam mais presentes”, afirma Maria Julia.

Por: Redação do Jornal da USP, 17/04/2024