A velhice ainda é vista, muitas vezes, como a fase da vida em que as pessoas relembram a juventude perdida e esperam a morte. Em razão disso, é comum relacionar os idosos à ideia de inutilidade e decadência.
Foi, então, com o propósito de refutar esta concepção equivocada que Esny Cerene Soares desenvolveu sua tese de doutorado “O idoso de bem com a velhice: um estudo envolvendo idosos que relatam o envelhecimento como satisfatório”, apresentada ao Programa de Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano do IPUSP.
Na tese, Soares procurou demonstrar que as “representações sociais do idoso ainda o apresentam como alguém que pouco tem a contribuir com a sociedade”. No entanto, embora uma parte dos idosos se aproprie desse estigma, a maioria encara positivamente o envelhecimento e o enxerga como uma fase que pode ser agradável e prazerosa.
Segundo o pesquisador,o objetivo do trabalho foi examinar as “características de idosos que relatam o envelhecimento como satisfatório”. A partir de uma amostra de 186 idosos com 70 anos ou mais, os participantes foram identificados como “Idosos de Bem com a Velhice” (IBV) e “Idosos em Conflito com a Velhice” (ICV).
Assim, Soares relata que os IBV foram descritos como idosos satisfeitos com a vida porque conseguem lidar com questões ligadas às atividades passadas, presentes e futuras; participam ativamente da sociedade; mantêm um bom nível de relações sociais significativas; apresentam-se preservados no que concerne aos aspectos físicos e psicológicos; e avaliam de forma mais autoconsciente os momentos de mau humor, depressão, ansiedade e desespero, sem ignorá-los ou negá-los.
Consequentemente, Soares explica que “as hipóteses iniciais da pesquisa foram quase todas confirmadas: os IBV praticam mais atividades físicas e de lazer, estão mais envolvidos com o trabalho remunerado que os ICV, e apresentam maiores médias na Qualidade de Vida e na Satisfação de Vida”.
Em contrapartida, “não se constatou diferença quanto à escolaridade, a renda e a classificação econômica entre os IBV e os ICV”, esclarece o pesquisador.
Como o senso comum nos faz crer que a adesão à religiosidade é maior entre pessoas da terceira idade, Soares também se preocupou em analisá-la. Assim, três dimensões foram investigadas:
1. a Religiosidade Organizacional, que é mais associada aos encontros sociais religiosos do que à prática religiosa em si;
2. a Religiosidade Não-Organizacional, praticada no âmbito privado; e
3. a Religiosidade Intrínseca, que engloba os hábitos e comportamentos religiosos que não dependem de outras pessoas ou instituições para o seu exercício.
Diferentemente do que se pensa, o pesquisador verificou que os IBV apresentaram média superior apenas na Religiosidade Organizacional. Isso pode significar que os idosos satisfeitos com a vida buscam se envolver mais com práticas religiosas institucionais – visando à interação com outras pessoas em encontros, celebrações e atividades em grupo – do que, propriamente, o cultivo de crenças espirituais.
Mesmo assim, a insuficiência de serviços de saúde oferecidos aos idosos demonstram que ainda falta o devido amparo social, principalmente para os menos favorecidos, que tendem a sofrer mais com o declínio da saúde associado à pobreza.
Nesse sentido, Soares salienta que a responsabilidade pela promoção de ações de “Envelhecimento Ativo”, nos moldes propostos pela OMS, é tanto de órgãos governamentais como de toda a sociedade organizada, e que esse trabalho em conjunto pode contribuir para que mais pessoas passem a enxergar o envelhecimento como uma fase satisfatória da vida.
“Temos que aprender a envelhecer, a nossa vida é um ciclo, vivemos por etapas”. A fala dessa senhora de 71 anos, participante da pesquisa, nos permite constatar o quão injusta é a depreciação da longevidade, já que envelhecer é um processo natural ao ser humano.
Por Anátale Garcia
Edição de Islaine Maciel