Natureza, infâncias e escolarização

Crianças brasileiras urbanas passam 90% de seu cotidiano entre quatro paredes atualmente. Em 1973, 75% delas brincavam nas ruas (FREE RANGE KIDS, 2019). Quais os desdobramentos desse rápido processo de confinamento das infâncias? Qual a importância e o que estar ao ar livre e em contato com a natureza pode lhes proporcionar? Como promover processos educativos que promovam desenvolvimento integral, considerando esta problemática do cenário contemporâneo?

Perguntas como essas emergiram e têm ocupado espaço cada vez maior nas pesquisas e práticas desenvolvidas pelo Laboratório Interinstitucional de Estudos e Pesquisas em Psicologia Escolar – LIEPPE. A urgência e a relevância desta temática, para quem tem por horizonte o desenvolvimento integral dos seres humanos, vêm tornando-se cada vez mais claras.

Em 12 de novembro último, estreou o documentário “O Começo da Vida 2: lá fora” em circuito mundial. Com depoimentos de crianças, pais e especialistas, explora com densidade os sentidos e potencialidades de cuidarmos a conexão inerente à infância com ambientes e elementos naturais. Entre os especialistas entrevistados estão Jane Goodall, Renata Meirelles, Richard Louv, Rossano Cabral e Marilene Proença – coordenadora do LIEPPE.

A participação de Marilene construiu-se com base em um processo que começou no Laboratório a partir de 2016, em experimentações, estudos e descobertas realizadas no âmbito de sua atividade de Extensão, o Serviço de Orientação à Queixa Escolar. Passaram a acontecer aulas e atendimentos ao ar livre e em contato com a exuberante – e pouco aproveitada – natureza dos espaços externos do IP. Os efeitos benéficos foram surpreendentes e reveladores.

Em parceria com os docentes do Instituto de Psicologia Danilo Guimarães e Briseida Dogo, alunos do Curso de Graduação e representantes de entidades externas, como o Programa Criança e Natureza do Instituto Alana, o movimento PermaPerifa e o Instituto Árvores Vivas, realizou o I Encontro “Natureza e (des)Medicalização”, em 2017. Aconteceu quase integralmente nas áreas verdes e na Casa de Culturas Indígenas do Instituto, de modo inédito em sua história e coerente com seus conteúdos.

Pesquisas começam a surgir sobre a temática no seio do Laboratório. Seus participantes, como a psicóloga Beatriz de Paula Souza, passam a ser convidados com frequência crescente para palestras, minicursos e aulas sobre ela, em eventos científicos e de entidades da categoria dos psicólogos, como o Conselho Regional de Psicologia da São Paulo e o Grupo Interinstitucional Queixa Escolar – GIQE. A parceria com o Programa Criança e Natureza do Instituto Alana desdobrou-se no convite a Marilene Proença para participar deste importante documentário e, mais recentemente, em pesquisa a ser realizada em escolas públicas.

Convidamos todas, todos e todes a conhecerem e, se gostarem, divulgarem essa magnífica realização cinematográfica, “O Começo da Vida 2: lá fora”. Está disponível na plataforma digital Videocamp, que permite a exibição gratuita do filme, e na Netflix, entre outras. Para ter uma breve ideia inicial, assista ao trailer: https://youtu.be/9yNv6U02W1M .