Pesquisadores buscam no Sul Global modelo comunitário e mais eficaz de psicologia

Encontro na Casa de Culturas Indígenas, localizada no Instituto de Psicologia (IP) da USP – Foto: Cecília Bastos / USP Imagens

O Instituto de Psicologia (IP) da USP sedia a Casa de Culturas Indígenas, uma estrutura com arquitetura tradicional da etnia Guarani Mbyá, onde são realizadas as atividades da Rede de Atenção à Pessoa Indígena. No local, comunidades indígenas parceiras do projeto participam de atividades que promovem um intercâmbio entre os saberes tradicionais e a Universidade.

A experiência da rede será apresentada na segunda edição do webinar Visões do Sul Global, que ocorre na próxima segunda-feira, 29, a partir das 9h30. O seminário acontece anualmente pela Divisão de Psicologia Internacional, ligada à Associação Americana de Psicologia. Para participar, é necessário se inscrever neste link.

Danilo Guimarães é coordenador da Rede de Atenção à Pessoa Indígena – Foto: Marcos Santos

“Uma vez que o conhecimento indígena é majoritariamente construído fora das universidades, é necessário experimentar como é construído nas comunidades indígenas e em diálogo com os próprios povos indígenas. Por um lado, observamos a necessidade de descolonizar as noções utilizadas para categorizar os dados; por outro, de compor categorias que sejam inclusivas das compreensões que emergem do material analisado, em grande parte produzido em co-autoria com indígenas que fazem parte das ações e projetos da rede”, explica Danilo Silva Guimarães, professor do IP e coordenador da Rede de Atenção à Pessoa Indígena.

No seminário, ele irá apresentar a palestra Das abordagens decoloniais às indígenas para a construção de conhecimentos: para onde vai a rede acadêmica indígena?. Guimarães é indígena de ancestralidade Tikmu’un (Maxakali) e colunista do Jornal da USP.

O docente conta que os resultados iniciais do processo de pesquisa evidenciaram diferentes ritos de práticas de cuidado, saúde e bem estar no diálogo com a comunidade indígena. “As tensões dialógicas analisadas remetem à relevância das formas socialmente reguladas de relação entre as pessoas e os demais seres presentes no ambiente, e à necessidade de redefinição do espaço universitário para a realização de práticas que promovam o bem viver e a saúde em diálogo com as concepções indígenas”.

Olhando para o Sul

A pandemia de covid-19 escancarou a necessidade e a importância da intervenção psicológica. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma em cada oito pessoas sofrem com alguma questão relacionada à saúde mental no mundo, sendo mulheres e jovens os mais afetados. Enquanto intersecções de raça, classe e gênero podem aprofundar o sofrimento psíquico, experiências de países com populações em condições socioculturais vulneráveis podem também apontar novas soluções frente aos desafios globais.

“Na maioria dos países, as estruturas de saúde mental são construídas em torno de um modelo tradicional que se centra no tratamento individual. Este modelo tem se revelado ineficaz em países como os do Sul Global, onde existe um desequilíbrio histórico e estrutural entre a necessidade de serviços e a sua disponibilidade”, explica Giuseppina Marsico, atual presidente da Divisão 52, da Associação Americana de Psicologia.

Pina Marsico é professora associada da Universidade de Salerno – Foto: APA Division 52

“Além disso, embora seja importante prestar serviços psicológicos às pessoas que sofrem de sofrimento psicológico, é igualmente importante garantir que o tratamento seja adequado e se adapte às necessidades e ao contexto cultural da população”, complementa.

De acordo com a professora, para ultrapassar as limitações das intervenções “1 para 1”, é necessário aprender com o que já foi produzido no Sul Global.

“Porque a organização da vida social em muitas sociedades do Hemisfério Sul se assenta em um conhecimento humano baseado em premissas mais amplas do que aquelas em que as ciências sociais europeias e norte-americanas têm sido historicamente construídas. Estas incluem a primazia da organização coletiva e relacional da vida social”, afirma.

Por: Tabita Said, Jornal da USP, 24/4/2024