Especialistas debatem o Centenário da Revolução Russa, o Urbanismo, Psicanálise e Cultura
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– Jornal da USP, 03/01/2018A edição número 91 da Revista Estudos Avançados da Universidade de São Paulo reúne três dossiês que destacam o Centenário da Revolução Russa; Urbanismo, Sociedade e Cultura; e Psicanálise e Cultura. Ao lado da apresentação pontual de cada tema, a meta da edição é retomar de forma problemática o que a tradição legou ao estudioso de nosso tempo.
O Centenário da Revolução Russa tem a organização de Bruno Gomide, professor de Literatura Russa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. “Seja qual for a leitura que se faça dele, é forçoso reconhecer que o processo revolucionário russo ditou o ritmo de nosso tempo”, observa. “Ao longo dos últimos cem anos, não houve região ou indivíduo que não tivesse a vida atingida pela nuvem de sonho e pólvora formada naquele nordeste europeu em uma Rússia que vivia então sua Era de Prata fervilhante de propostas de metamorfose estética e política.”
O dossiê reúne um conjunto de reflexões de pesquisadores da América Latina e da Europa que trabalham o tema a partir de uma bibliografia atualizada. A expectativa de Gomide é a contribuição para um amplo debate não só sobre o centenário 1917-2017, mas os seus “desdobramentos infinitos”.
Os ensaios que abrem o debate são voltados para a análise da cultura, das ideias e das artes. E os textos que seguem versam sobre a história política e social da Revolução Russa. Participam os especialistas: Galin Tihanov, Evgeny Dpobrenko, Andrea Gullotta, Martin Baña, Daniel Aurão Reis e Lincoln Secco.
Em um panorama geral, o que parece mais evidente, seja na rua do século 19, seja no prédio e residência do século 20, é que o espaço coletivo é muitas vezes deixado em segundo plano…
O dossiê Urbanismo, Sociedade e Cultura reflete sobre o viés histórico e social, o crescimento e a formação das cidades no Brasil. É organizado pelo arquiteto Ricardo Ohtake, titular da cátedra Olavo Setúbal de Arte, Cultura e Ciência do Instituto de Estudos Avançados da USP. Os artigos refletem e questionam sobre a articulação de diferentes campos de conhecimento para responder aos desafios contemporâneos das cidades brasileiras.
“Em um panorama geral, o que parece mais evidente, seja na rua do século 19, seja no prédio e residência do século 20, é que o espaço coletivo é muitas vezes deixado em segundo plano ou menos resolvido”, analisa Ohtake. “O espaço físico da cidade é uma base onde os habitantes dela vão desenvolver todo o seu potencial humano; existe nesse potencial o que individualmente cada um pode realizar, mas a própria existência da cidade traz todos a terem uma vida em comum, o que a torna extremamente interessante.”
Ohtake ressalta que a filosofia, as ciências, as técnicas e a divisão por classes, raças ou culturas acolhem diferentes entendimentos do mundo. “No entanto, os entendimentos são mais ou menos poderosos, criando hoje em dia não mais situação e oposição, mas incluídos e excluídos, que ficam claramente observados nas cidades brasileiras.”
Os ensaios deste dossiê abordam quatro eixos temáticos: a construção da cidade; a dimensão histórica da ação humana na cidade; a cidade como síntese do conhecimento; e o futuro da cidade brasileira. Contam com a análise e pesquisa dos estudiosos Daniel Corsi, Lilia Moritz Schwarcz, Priscyla Gomes e Nelson Brissac Peixoto.
A psicanálise não está isenta da história do marketing, pelo contrário, participa ativamente dessa praticamente desde seu nascimento…
O terceiro dossiê, Psicanálise e Cultura, é organizado por Nelson da Silva Júnior, professor do Instituto de Psicologia da USP. O seu artigo abre o dossiê. “O objetivo é demonstrar que a chave conceitual do diagnóstico freudiano do mal-estar na cultura é incapaz de apreender a alteração do lugar e do funcionamento social da ciência na cultura.”
O professor apresenta considerações importantes para as reflexões da contemporaneidade. Como ele próprio justifica, propicia um breve desvio para a compreensão do principal motor da economia do século 20, mostrando como o marketing e suas estratégias de produção de consumo contribuiu para a criação de uma nova diagnóstica psiquiátrica. “A psicanálise não está isenta da história do marketing, pelo contrário, participa ativamente dessa praticamente desde seu nascimento.”
A edição conta com os artigos de Christian Ingo Lenz Dunker, Vladimir Safatle e Pedro Ambra. Segundo o editor da revista, Alfredo Bosi, “o dossiê ilustra a amplitude das interações entre a psicanálise e a cultura, confirmando a fecundidade dos métodos psicanalíticos aplicados às ciências humanas e à literatura.”
Revista Estudos Avançados 91, 306 páginas, R$ 30,00. O preço da assinatura anual com três edições é de R$ 80,00. Mais informações estão no site www.iea.usp.br/revista. Ou pelo telefone (11) 3091-1675, com Edilma Martins.
Publicado originalmente em: http://sites.usp.br/psicousp/caes-lambem-propria-boca-diante-de-emocoes-negativas-diz-estudo-8122017-jornal-da-usp/