“Experimentação em animais” é tema na Semana de Psicologia da USP

A professora do IPUSP Mirian Mijares ministrou uma palestra sobre experimentação animal que fez parte do ciclo de palestras da Semana de Psicologia da USP 2017.

   Por se tratar de um tema delicado a professora buscou tratar de todas as visões a cerca do assunto gerando a fim de gerar discussão durante a palestra. De início a docente afirmou não ter opinião formada sobre o tema, e que apesar de utilizar ratos de laboratório em suas pesquisas, divide-se entre as correntes a favor e contra, por se discordar de alguns argumentos de ambos os lados. Por isso, a ideia principal foi de compartilhar e debater em conjunto as reflexões levantadas.

   Antes de abrir a discussão para a platéia, a ministrante apresentou um quadro geral sobre experimentação animal no Brasil e no mundo. Foi dada a posição da APA (Associação de Psicologia Americana) acerca da experimentação na psicologia e os conceitos sobre o que é a ética e como ela se aplica na ciência.

   De uma forma geral, fica claro de que a postura da comunidade científica é a de utilizar os animais para pesquisas por considerarem os resultados úteis e significativos, mas as medidas possíveis para minimizar a quantidade de pesquisas com animais ou diminuir o sofrimento deles são sempre priorizadas.”O que nos tem mostrado a história é que a norma é para esse contexto [científico], mas não é a solução. A norma não resolve o problema ético de uso de animais. Ela é simplesmente redução de danos.” disse a professora.

   Também foi levantado os principais argumentos de quem é a favor e contra a experimentação animal, buscando ver em que situações eles são normalmente questionados. Quem é favorável à utilização defende principalmente de que os animais são necessários para o avanço científico por não existirem outras maneiras viáveis atualmente, e de que essas pesquisam buscam melhorar a saúde e o bem-estar dos humanos e dos próprios animais.

   Quem se demonstra desfavorável alega que muitos dos conhecimentos produzidos por meio dos testes em animais não são úteis, pois é necessário extrapolar os resultados obtidos para adaptá-los à fisiologia humana. Também é afirmado que esses procedimentos não são “corretos” por que além de causar sofrimento aos animais, não se tem certeza de que os resultados serão úteis de alguma forma, provocando um dano certo em animais por um um benefício incerto aos humanos.

   Esses foram apenas alguns dos argumentos adotados durante essa discussão, e a maioria foi de alguma forma refutado pela própria Profa. Miriam e os participantes da palestra. Um ponto levantado por uma pessoa da plateia é de que no momento, com os meios disponíveis, ainda não é possível abandonar o uso de experimentação animais, então é necessário estabelecer um critério aceitável para a utilização deles, e o que foi sugerido é a capacidade de um animal ser senciente.

   Segundo o dicionário online Priberam, um ser senciente é “ 1. Que sente. = SENSÍVEL / 2. Que tem sensações ou impressões (ex.: um animal é um ser senciente).

Ou seja, animais que são capazes de sentir e ter percepção de si próprio não poderão ser utilizados em pesquisas. Porém isso levanta outras questões como, uma pesquisa feita com um animal não senciente é útil? Ainda mais na Psicologia? Como definir de uma forma exata os  seres vivos que são sencientes ou não? Muitos dos animais, como as lagostas, não eram considerados sencientes e hoje são devido à diversas pesquisas.

Porém, se a experimentação animal for proibida, como proceder com os teste? Ainda não fomos capazes de reproduzir todos os aspectos fisiológicos e comportamentais do humano de uma forma artificial. Como evoluir com os conhecimentos da humanidade dessa forma?

O debate se estendeu durante o final da palestra e muitas outras questões foram levantadas pela plateia e pela professora. Contudo para finalizar a professora afirma “Eu não acho que a gente vai ter solução para isso. Eu não acho que a pesquisa em animais não vai acabar até a gente desenvolver modelos computacionais eficientes que de fato consigam simular um ser vivo em todos os seus aspectos. Porque na psicologia eu não tenho como estudar comportamento com um computador.”

Fotos e texto por Mariana Navarro

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Alfabetização – 2015, n. 1

É hora de falar sobre Gênero – 2016, n.2/3

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