Por Wender Starlles, Agência USP de Notícias: AUN, 3/9/2018
Estudo realizado pela pesquisadora Adriana Leopold em dissertação de mestrado — Oenvelhecer na percepção de mulheres idosas solteiras e sem filhos: Um estudo na perspectiva da psicologia analítica —, apresentada ao Instituto de Psicologia (IP) da USP em 2017, levantou informações sobre como as mulheres idosas solteiras e sem filhos percebem sua velhice. Os dados coletados foram analisados pela visão da psicologia junguiana.
Ela comenta que, ao trabalhar como técnica no Núcleo de Convivência de Idosos de São Paulo, surgiu a vontade de se aprofundar mais na temática. “Na minha convivência com idosas, percebi que muitas se sentiam mais livres na velhice do que quando jovens, pois já não viviam sob as ordens dos maridos e não precisavam cuidar de seus filhos, porque estes já estão adultos.”
O número de pessoas com idade acima dos 60 anos aumentou 19% desde a última pesquisa realizada em 2012 pelo IBGE. Dados recém divulgados pelo Instituto, apontam inversão drástica na pirâmide etária. Haverá mais idosos na população do que crianças e adolescentes com idades de 0 a 14 anos. Entretanto, não é necessário esperar dez anos para notar as diferenças, elas já estão latentes, basta olhar ao redor. Cada vez mais vemos senhores e senhoras se locomovendo pelas cidades sem nenhum impeditivo. Sem falar na quantidade de trabalhadores que optam por continuar exercer a profissão, e desconsideram a possibilidade de aposentadoria, aptos às atividades. Hoje, a população com mais de 60 anos no Brasil conta com aproximadamente 30, 2 milhões de pessoas. Sendo que, as mulheres representam 56% (16,9 milhões) dessa parcela
Por outro lado, ainda é possível notar certo estigma em cima da velhice e as maneiras de suporte oferecidas. “Existe uma visão muito negativa a respeito da palavra “velho”, usualmente associada a algo que não serve mais, sem utilidade. Isso é algo que precisa ser desmistificado, podemos assumir a nossa velhice e vivê-la da melhor maneira, sem negá-la”, comenta Amanda.
O estudo foi qualitativo, ou seja, a pesquisadora optou por aprofundar o tema através de entrevistas no intuito de saber a história de vida das participantes. Foram entrevistadas quatro mulheres de 70 a 90 anos. “Achei necessário levantar o histórico dessas mulheres e assim, por meio delas, compreender quem eram e como viviam”.
Os resultados da pesquisa foram provenientes dessas entrevistas. Algumas reflexões importantes foram constatadas. “O casamento não era um grande sonho, o trabalho, a família e as paixões (que não tinham a ver com o casamento em si) ocuparam a vida dessas mulheres”, explica Amanda.
Além disso, ela comenta a respeito do romance nos matrimônios das entrevistadas. “Não é que ele não tenha existido, mas o casamento em si, enquanto instituição não era prioridade”. Outro fator relevante se mostrou presente na vida dessas mulheres. “Percebi que nelas o cuidado com membros da família também foi importante, casar significaria de alguma forma, abrir mão desse cuidado”. Em relação aos filhos, a pesquisa explicitou que nenhuma delas se arrependeu de não ter tido filhos. “São mulheres que tiveram crianças por perto e acompanharam o crescimento dos sobrinhos, participando diretamente do crescimento dessas crianças da família”, diz Leopold.