Estética de Inclusão: oficinas de dança

Grupo de dança abarca interessados em produzir arte e protestar contra as durezas da cidade de São Paulo

A arte da dança permite a movimentação dos corpos, o trabalho dos músculos e a liberação de hormônios do prazer. A Oficina de Dança e Expressão Corporal, projeto de criação de arte por meio dos movimentos corporais, faz tudo isso, mas com um diferencial: nessa dança todos podem chegar, participar da dança e se encantar com o projeto.

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Uma proposta tão aberta e inovadora pode levantar questionamentos sobre suas práticas e desdobramentos. Dessa forma, a pesquisadora do IPUSP Tatiana Bichara se propôs a estudar o grupo e entender o que ele produz para os participantes e para a cidade, baseando seu doutorado nesses questionamentos. Tatiana, como pesquisadora e também coordenadora e dançarina do projeto, se viu enfrentando os vários desafios da Oficina de Dança.

Criada em 2001, a Oficina surgiu como desdobramento das atividades artístico-políticas do Coral Cênico Cidadãos Cantantes, grupo aberto, heterogêneo, existente desde 1992. O Coral é voltado para a produção artística no espaço público de cultura e vinculado ao Movimento de Luta Antimanicomial. A Oficina de Dança nasceu desse movimento e ocorria, primeiramente, no Centro Cultural São Paulo (CCSP), com o objetivo de possibilitar a convivência com a diferença entre todos os sujeitos na cidade. Em 2009, o grupo se mudou do CCSP para a Galeria Olido, centro de cultura da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura Municipal de São Paulo, localizada no centro da cidade. Tomou, assim, novas dimensões políticas, artísticas e estéticas. Atualmente, a Oficina abarca um público heterogêneo. Entre os participantes há advogados, donas de casa, pessoas em situação de rua, pessoas com deficiências, artistas, estudantes, pessoas com sofrimentomental, profissionais da saúde, entre outros.

Tatiana deixa claro que a Oficina não tem proposta terapêutica, mas de criação artística. O grupo, ao expressar seus sentimentos e emoções nos ensaios e no palco, promove arte de qualidade, mas não seguindo a lógica de estética limpa ou suja, e sim uma estética de inclusão, de produção de uma dança para todos.
A arte inclusiva que é produzida na Oficina começa nos ensaios: eles são abertos para todos e totalmente gratuitos. Nesses encontros são produzidas peças de dança sem coreografia, mas seguindo o direcionamento de um tema proposto coletivamente pelo grupo. Além disso, as apresentações são feitas de forma livre, onde todos os participantes podem dançar da forma que quiserem, com as roupas que preferirem, se entendendo e criando em conjunto.

A ideia que surgiu da pesquisa foi a de “lugar-ponte”. Nele, segundo Tatiana, é possível transitar pelos polos eu-outro, público-privado, dentro-fora, sem fixar-se em um ponto só. Na hora da dança, os participantes, ao mesmo tempo que lidam com si mesmos, têm de pensar no outro. O grupo produz internamente para apresentar nas ruas, no lado de fora. É nesse sentido que eles transitam, vão do interno ao externo, ao mesmo tempo em que produzem e resistem às mazelas da cidade grande, ao ocupar o espaço público que lhes é de direito.

É com esse pensamento que os dançarinos produzem apresentações nas ruas, praças e metrôs, por exemplo. Nessas intervenções são questionados muitos problemas da cidade como a pressa cotidiana. O andar lento em uma avenida movimentada, a dança em uma estação de metrô em horário de pico, o convite para os transeuntes se juntarem ao grupo, tudo isso faz parte de uma arte política. E assim se faz dança, inclusiva e de qualidade nas ruas frias e cinzentas da cidade de São Paulo.

Por Sofia Mendes
Edição por Islaine Maciel
Revisão por Maria Isabel da Silva Leme

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Alfabetização – 2015, n. 1

É hora de falar sobre Gênero – 2016, n.2/3

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