IPUSP promove terapia em oficinas de danças circulares

Projeto oferece atendimento terapêutico em oficinas de danças circulares

Desde 2006 acontece no Instituto de Psicologia da USP um projeto de atendimento terapêutico em grupo que utiliza-se de danças circulares, buscando assim um melhor entendimento de si mesmo e do outro. Os encontros semanais são conduzidos pela  psicóloga e pesquisadora Tânia Pessoa Lima e coordenado pela Profa. Laura Villares de Freitas, pelo Laboratório de Estudos da Personalidade (LEP).

As danças circulares são na verdade danças tradicionais de povos de diferentes culturas que têm em comum o fato de serem realizadas em roda e em um grupo. Essa prática teve início com Bernhard Wosien, em que tinha um caráter ritualístico. O pesquisador levou sua proposta de trabalho grupal para a Fundação Findhord na Escócia, conhecido por seu viés espiritual e holístico. Lá esse exercício tinha como objetivo primordial alcançar um experiência com o sagrado. Porém ela passou a ser divulgada em diversas partes do mundo assumindo várias formas e objetivos.

Tânia procurou inserir as danças circulares na teoria psicologia analítica junguiana, que trabalha com a visão de que a psicologia deve ser praticada em ambientes diversos, indo além da clínica. Assim todo o potencial de contribuição para o processo de amadurecimento e individuação é alcançado.

Oficina Terapêutica danças circulares no IPUSP (Foto:Mariana Navarro)

Os encontros funcionam de forma simples; todos os participantes se reúnem em círculo, fazem o aquecimento e relaxamento, e começam as danças. Não há preocupações com os passos ou ritmo, todos dançam da melhor forma que puderem, pois o objetivo principal não é aprender a dança em si, mas a experiência de dançá-la. Com o fim da música, todos dão as mãos e compartilham os sentimentos suscitados durante a dança, as imagens que foram geradas e as lembranças trazidas à tona. É um momento de abertura e compartilhamento mútuo, onde todos ouvem e assimilam. E então outra dança é escolhida, e o processo continua até o fim do encontro. É uma experiência de terapia conjunta que busca o aprofundamento do seu próprio ser e o reconhecimento do outro. É a procura pelo entendimento recíproco.

O caráter dessa atividade é totalmente terapêutico e nada tem de religioso, se diferenciando da prática iniciada por Bernhard. “Aqui essas danças têm um objetivo terapêutico”  ressalta Tânia.

Em 2016, o SUS reconheceu as Danças Circulares como um processo terapêutico por meio da portaria nº 404. A prática é muito bem recebida pelos participantes, sendo que alguns continuam se inscrevendo no grupo semestralmente. “É onde eu tiro um momento pra mim, e esse pra mim no grupo, onde a gente interage, onde a gente cria, onde a gente comemora, e é muito importante porque no dia a dia a gente não tem esse tempo (…) que a gente possa parar e se perceber, e aqui é o espaço onde eu tenho para isso, e sou muito grata.” afirma Magda, que fez parte do grupo do primeiro semestre de 2017.

Participantes de mãos dadas durante o diálogo pós dança (Foto: Mariana Navarro)

E nesse vínculo criado, novas ideias surgiram buscando enriquecer esse processo terapêutico em conjunto. Uma dessas ideias foi a fabricação de Worry Dolls, que são pequenas bonecas típicas da Guatemala fabricadas manualmente com palitos, lãs e tecido. Segundo a tradição, antes de dormir todos os problemas são ditos em voz alta a essas bonecas, e por fim são colocadas debaixo do travesseiro. Assim, acredita-se que as bonecas absorvem as preocupações, permitindo que a pessoa durma em paz. No grupo vivencial, as bonecas foram feitas pelos participantes e colocadas no meio da roda e então as danças são feitas. Essa foi uma ideia de uma das participantes do grupo.

Ao lado das bonecas são colocados papéis com o nome das danças que serão executadas e suas origens. (Foto: IP Comunica)

Uma outra iniciativa do grupo foi confeccionar ponchos para serem doados aos moradores de rua durante o inverno.Os participantes produziram todos os ponchos durante os encontros e em suas próprias casas. Quando tudo foi terminado, foi feita uma dança em volta das vestes, e os entregaram à ONG Caridade da Madrugada na noite do dia 6 de junho.

É consenso entre os membros que todo o processo é positivo. A sensação de amizade e solidariedade é muito grande. Todas afirmaram que a participação no grupo havia mudado suas vidas e que acreditavam que saíram transformadas ao fim do curso. Katarina, uma das participantes declarou “a experiência mais significativa que eu posso dizer que tive é o acolhimento”.

Serviço
  • Inscrições: As inscrições são abertas no início de todo semestre. Direcionado ao público e sem restrições.
  • Custo: Atividade gratuita.
  • Data  e hora: Semanalmente, às terças-feiras 17h às 19h.
  • Local: Instituto de Psicologia da USP, Centro Escola do Instituto de Psicologia – CEIP, bloco D, sala Ateliê – Cidade Universitária, Av. Prof. Mello Moraes, 1721.
  • Contato: taniapl@usp.br.

Por Mariana Navarro
Edição e revisão por Islaine Maciel

Veja mais:

Clique nas imagens para folhear as revistas psico.usp

Alfabetização – 2015, n. 1

É hora de falar sobre Gênero – 2016, n.2/3

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