A formação humana em contexto de violência

Nova pesquisa investiga as repercussões que contextos violentos geram nas pessoas

Por Mateus de Lucena Feitosa, AUN: Agênica Universitária de Notícias, 13/4/2017

Foco no bairro do Uruguai em Salvador, Bahia. Blog do Amarildo. Reprodução

Com o intuito de compreender as vivências fundamentais de pessoas que vivem em contexto violentos, bem como entender a repercussões que este meio tem sobre sua formação psicológica, a pesquisadora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, Suzana Carneiro, visitou o bairro do Uruguai em Salvador, Bahia, para escrever sua tese de doutorado: A formação humana em contexto de violência: uma compreensão clínica a partir da fenomenologia de Edith Stein.

Carneiro se interessou pelo bairro do Uruguai por intermédio de uma comunidade religiosa, da qual faz parte, que organiza projetos sociais de auxílio à população local. A pesquisadora decidiu investigar o contexto do bairro, sua influência na vida daqueles que o habitam e tenta trazer uma visão diferente e mais humana do lugar estabelecendo um contraponto à visão vigente de indiferença e, muitas vezes, de preconceito em relação ao bairro do Uruguai.

Usando da sua relação com a comunidade religiosa local, a pesquisadora conseguiu ir quatro vezes ao bairro passando de 10 a 15 dias morando na casa dos moradores locais. Por meio de entrevistas e anotações pessoais, Carneiro busca entender o cotidiano da comunidade.  Adepta da fenomenologia, seu intuito era vivenciar o dia a dia e entender a realidade do Uruguai.  “Fui muito bem acolhida pelas pessoas, minha intenção era vivenciar o cotidiano local e ir além dos relatos”, afirmou.

Um dos grandes objetivos da tese era trazer a importância da compreensão da vivência diária da população do Uruguai em vez de tentar fazê-la se encaixar em teorias. Enxergar a importância do indivíduo e entender sua complexidade. “Essa pesquisa me ajudou a quebrar barreiras, abandonar preconceitos e o maniqueísmo para enxergar o ser humano’’, relata ”Temos que olhar para questão psicológica sem perder de vista o todo, os diversos fatores que têm influência sobre o indivíduo”, complementa.

Quando questionada sobre a participação das polícias comunitárias no bairro, a pesquisadora relata que as opiniões ainda divergem. Existe muita desconfiança por parte dos moradores e muito preconceito por parte dos policiais. Carneiro chegou a entrevistar uma das autoridades locais que não autorizou a divulgação da conversa. “Apesar da proposta das bases comunitárias ser a aproximação das autoridades com a população, a relação ainda é muito tensa devido ao histórico da polícia”, diz. A pesquisadora ainda conta de relatos que recebeu de moradores locais que já presenciaram a violência policial e até mesmo a morte de pessoas inocentes, tornando a situação ainda mais complicada.

Para Carneiro, o que fica de sua pesquisa é a força que presenciou das pessoas que vivem sobre contextos violentos. “O contexto de violência não anula a pessoa, nas piores condições ainda é possível dar uma resposta”, relata. A pesquisadora ainda pensou em formas de intervenções que poderia auxiliar pessoas vivendo sob tais condições. Ela frisou a importância da criação de um canal de expressão de reflexão dentro dessas comunidades: “isso ajuda as pessoas a se fortalecerem para se colocarem de uma forma mais livre diante de sua realidade”.

Publicado originalmente em: https://paineira.usp.br/aun/index.php/2017/04/13/estudo-busca-compreender-a-formacao-humana-em-contexto-de-violencia/

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