
Legenda: O sonho de Quimárgada. Créditos: colagem realizada por Luciene Silva a partir de imagens disponíveis no freepik.com.

Wilmo Ernesto Francisco Junior
Wilmo Ernesto Francisco Junior é bacharel e licenciado em Química e mestre em Biotecnologia pelo Instituto de Química da UNESP. É mestre em Educação pela UFSCar e doutor em Química pelo IQ-UNESP. De 2008 a 2012, foi professor da Universidade Federal de Rondônia - UNIR, onde atuou como coordenador de área e coordenador institucional do PIBID. Atualmente, é professor da Universidade Federal de Alagoas, no curso de Licenciatura em Química do Campus Arapiraca e nos Programas de Pós-Graduação em Ensino e Formação de Professores/PPGEFOP, Educação (PPGE) e no doutorado da Rede Nordeste de Ensino (RENOEN). É líder do grupo de pesquisa EDifQUICI - Educação e Difusão Química e Científica. Atua em atividades de divulgação científico-cultural, com destaque para a escrita autoral de poemas sobre temas da ciência por meio do @poesiacomciencia.
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28 de agosto de 2023 | 10:00
Breve prelúdio.
O poema que ora apresentamos é uma livre criação inspirada em um dos épicos poemas de Bandeira (“Vou-me Embora pra Pasárgada”). Aliás, para quem ignorava, como eu, Pasárgada significa “campo dos persas” e foi uma cidade da antiga Pérsia (atual Irã), capital do seu primeiro império (denominado Aquemênida) e fundada no século VI a. C. A cidade não foi acabada em virtude da morte de seu fundador, Ciro II. Hoje se constitui num sítio arqueológico de mais de 1,5 km2 onde se encontra supostamente o túmulo de Ciro II. Bandeira, que teve contato com Pasárgada por meio de um escritor grego, escreveu o poema em um dos momentos de mais profunda melancolia em sua vida. Por isso, Vou-me Embora pra Quimárgada trata também de uma homenagem a um dos ícones da literatura poética nacional. Seu sofrimento. Sua certeza da morte o fez produzir textos melancólicos. Tal melancolia é, além disso, uma metáfora à situação atualmente enfrentada pelos professores brasileiros. Salas de aula lotadas, baixos salários, infraestrutura inadequada, desrespeito e até violência, física e moral, fazem os professores padecerem em seu pleito, no leito de tragédia quase prenunciada, tal qual a morte de Bandeira. Soma-se o Novo Ensino Médio que na defesa de uma suposta liberdade de escolha, ofusca, destarte, possibilidades e direitos. Em oposição, “Quimárgada” é a esperança. Seria assim o campo dos sonhos dos professores (de ciências), caracterizado pelo investimento, liberdade (e tempo) para criar, investigar e ensinar ciências como sonhamos. Quem gostaria de um bilhete sem volta para balbudiar em Quimárgada?
Vou-me embora pra Quimárgada
Vou-me embora pra Quimárgada
Lá melhor salário eu terei
Lá tenho os alunos que quero
Na escola que desejei
Vou-me embora pra Quimárgada
Aqui já não encontro a bissetriz
Lá a ciência é uma aventura
De tal modo deslumbrante
Que Lavoisier o suposto pai da Química
Nunca foi errante
E todo nosso legado
Será criticamente ensinado
E como farei experiências
Ensinarei aluno brabo
Aumentarei a aprendizagem
Tomarei aulas ao luar!
E quando estiver extasiado
Deito na beira do mar
Mando chamar a melhor professora
Que no tempo de estudante
Vinha-me ensinar
Vou-me embora pra Quimárgada
Em Quimárgada tem tudo
É outra educação
Tem investimento seguro
Ensino de ciência por investigação
Tem bureta automática
Tem curiosidade à vontade
Tem parques, bibliotecas e museus
Para a gente educar como se fossem seus
E quando alguém de dedo em riste
Mas riste de petulante
Disser que para ensinar
Não precisa pedagogia estudar
- Lá melhor salário eu terei -
Lá terei os professores que quero
Na escola que planejei
Vou-me embora pra Quimárgada.