O Ensino em nível de Pós-graduação (Mestrado e/ou doutorado) foi proposto em 2003. Em 2012, fez-se uma importante modificação lançando-se uma disciplina inter-unidades da Universidade de São Paulo, consolidando a cooperação entre o programa de Medicina Preventiva ( atual Saúde Coletiva) da Faculdade de Medicina da USP com o programa de Psicologia Social do Instituto de Psicologia da USP. A seguir apresentamos esse programa inter-unidades tal como ministrado em 2021 e na sequencia, apenas para serem vistas modificações efetuadas, apresentamos o conjunto de conteúdos que fizeram parte da disciplina em 2004.
PROGRAMA MEDICINA PREVENTIVA / FMUSP (MPR 5744) e PROGRAMA PSICOLOGIA SOCIAL/IPUSP
2021
VIOLÊNCIA, GÊNERO E DIREITOS HUMANOS EM SAÚDE: QUESTÕES PARA A PESQUISA E A INTERVENÇÃO
Professores responsáveis:
Ana Flávia P. L. d’ Oliveira, Lilia Blima Schraiber (FMUSP) e Belinda Piltcher Haber Mandelbaum (IPUSP)
OBJETIVOS:
Fornecer conhecimentos acerca da violência como questão de saúde.
Especificar características da violência doméstica e intrafamiliar e da violência urbana e social.
Identificar e discutir os principais modelos explicativos da violência destacando a perspectiva dos direitos humanos, direitos sexuais e reprodutivos e enfoque de Gênero.
Apresentar e discutir os impactos da violência na saúde física e mental, no plano dos indivíduos adultos, homens e mulheres, e no plano da família, enquanto agrupamento específico na vida social.
Apresentar e discutir formas apropriadas de pesquisa e de intervenção em saúde para abordar mulheres, homens e famílias em situação de violência.
EMENTA:
A violência tem sido apontada como questão de extrema relevância para o campo da Saúde, com repercussões importantes na saúde física e mental. Da perspectiva de Gênero, incidindo sobretudo em mulheres e meninas, a violência apresenta-se em grande parte como violência das relações interpessoais e produto dos conflitos familiares e domésticos, sendo registrada na literatura internacional como evento de alta magnitude em diversos países, ricos ou pobres. No caso dos homens, que se caracterizam tanto como agressores e vítimas, a violência se apresenta sobretudo como experiência da vida pública muito mais que doméstica, desdobrando-se, porém, em traumas de repercussão individual e familiar. Os impactos na saúde física e mental são importantes, mas a literatura mostra um uso repetitivo e ineficaz dos serviços de assistência à saúde. O tema é de grande aplicação na melhoria da qualidade dos serviços de saúde, por meio da maior identificação de casos entre a demanda usual, o que diz respeito tanto à atenção às mulheres quanto aos homens e crianças. Tem sido apontado como um dos maiores problemas na Estratégia Saúde da Família. O tema é de natureza interdisciplinar, articulando-se com a questão dos direitos humanos e em especial os direitos sexuais e reprodutivos, tanto para homens quanto para mulheres, levando a uma discussão acerca da família contemporânea e a busca de maior equidade de gênero na vida familiar e social. A disciplina pretende alcançar elementos teóricos e práticos da pesquisa e da intervenção assistencial em Saúde, quer com vistas à recuperação de agravos à saúde, quer com vistas à prevenção da violência e à promoção de melhor qualidade de vida.
FORMATO e CONTEÚDO:
Aulas semanais, totalizando 10 encontros, em que debatemos referências bibliográficas que são previamente indicadas para cada um dos encontros. A cada encontro faz-se uma sistematização do conhecimento referente ao tema do encontro, destacando-se os principais conceitos envolvidos na compreensão/interpretação do tema específico como aspecto parcial da violência e destacando-se repercussões possíveis na pesquisa e na intervenção decorresntes, está última enquanto formas de enfrentamento da violência, seja como produção de cuidados, seja como prevenção, nas práticas de saúde. Como se verá a seguir, o conjunto de temas e atividades configura a marca do grupo de pesquisa refletida no ensino, qual seja, a articulação de aproximações teórico-conceituais e metodológicas acerca da violência de gênero, com aproximações da prática da pesquisa científica em desenhos quantitativos, qualitativos e também mistos, e da prática assistencial nos serviços de saúde.
Também estão indicadas atividades individualmente realizadas ou em grupo, complementares aos encontros, a saber:
1. Assistir ao filme Te doy mis ojos após a primeira aula e escrever perguntas que o filme sugeriu. Ir fazendo estas perguntas às professoras no decorrer do curso, nas aulas em que os temas pensados forem abordados.
Link que tem o vídeo completo, clique aqui.
2. Montar, em duplas, um caso de violência a partir da experiência das alunas e alunos e de um roteiro fornecido pelas professoras. Esses casos serão trocados e trabalhados por outras duplas para a apresentação no último dia do curso.
3. Jogar o Jogo “No Lugar dela” no momento indicado pelas professoras ( dia 07/10).
Temário por encontro e respectivas bibliografias
Aula 1. O referencial: I. Gênero, Sociedade e Família: questões de base interdisciplinar na abordagem da violência. II. Historia dos estudos de Gênero e Violência; Historia dos estudos da Família.
Aula 2. Dos conflitos interpessoais no contexto social e na família à violência de gênero II. – a perspectiva das mulheres.
Ler e preparar com antecedência à aula 2:
Schraiber LB; Schraiber LB, d’Oliveira AFPL, Couto MT, Figueiredo WS. Violência dói e não é direito: a violência contra a mulher, a saúde e os direitos humanos. São Paulo – SP: Editora da UNESP, 2005, p. 13-21( Introdução).
Schraiber LB, d’Oliveira AFPL, Couto MT, Figueiredo WS. Violência dói e não é direito: a violência contra a mulher, a saúde e os direitos humanos. São Paulo – SP: Editora da UNESP, 2005, p. 23-50 ( capítulo 1. Um caso entre muitos: a violência doméstica contra a mulher).
Bibliografia Básica que complementa essa aula
Castro R, Riquer F. La investigación sobre violencia contra las mujeres en América Latina: entre el empirismo ciego y la teoría sin datos. Cad Saúde Pública 2003; 19(1):135-146.
Schraiber, L B; d’ Oliveira, AFPL ;Couto, MT Violência e saúde: contribuições teóricas, metodológicas e éticas de estudos da violência contra a mulher. Cad. Saúde Pública, vol.25, suppl.2, p.s205-s216, 2009.
Schraiber LB, d’Oliveira AFPL, Portella AP, Menicucci E.. Violência de gênero no campo da Saúde Coletiva: conquistas e desafios. Ciênc. saúde coletiva, vol.14, no.4, p.1019-1027, 2009.
Aula 3. Violência como tema sensível e complexo e questões da pesquisa: desenhos, metodologia e ética em estudos sobre a violência no campo da Saúde.
Bibliografia básica
Schraiber LB, Latorre MRDO, França-Junior I, Segri NJ, d’Oliveira AFPL. Validade do instrumento WHO-VAW Study para estimar violência de gênero contra a mulher. Rev Saúde Pública/Journal of Public Health , v.44, p.658 – 666, 2010.
Jansen HAFM, Watts C, Ellberg M, Heise L, Garcia-Moreno C. Interviewer training in the WHO Multicountry study on women’s health and domestic violence. Violence against women. 2004;10(7):831-49.
Ellsberg MC, Heise L, Peña R, Agurto S, Winkvist A. Researching domestic violence against women: methodological and ethical considerations. Stud Fam Plann. 2001; 32(1):1-16.
Schraiber, L B; d’ Oliveira, AFPL; Couto, MT Violência e saúde: contribuições teóricas, metodológicas e éticas de estudos da violência contra a mulher. Cad. Saúde Pública, vol.25, suppl.2, p.s205-s216, 2009.
Aula 4. Dos conflitos interpessoais no contexto social e na família à violência de gênero II– a perspectiva das famílias.
Bibliografia básica:
Mandelbaum, B. Psicanálise da família. SP: Casa do Psicólogo, 2010. Capítulo 2.
Sarti, C. A família como espelho: um estudo sobre a moral dos pobres. SP: Cortez Editora, 2003. Capítulo 3.
Aula 5. Estudos sobre violências em populações e em usuárias de serviços Repercussões na saúde das mulheres.
Bibliografia básica
GARCIA-MORENO C, JANSEN HA, ELLSBERG M, HEISE L, WATTS CH ET AL. Prevalence of intimate partner violence: findings from the WHO multi-country study on women’s health and domestic violence. Lancet. 2006;368(9543):1260-9.
SCHRAIBER LB, D’OLIVEIRA AFPL, COUTO MT, HANADA H, KISS LB, DURAND JG, PUCCIA MIR, ANDRADE MC. Violência contra mulheres entre usuárias de serviços públicos da Grande São Paulo. Revista de Saúde Pública, 2007; 41(3)359-67.
ELLSBERG M, JANSEN HAFM, HEISE L, WATTS CH, GARCIA-MORENO C. Intimate partner violence and women’s physical and mental health in the WHO multi-country study on women’s health and domestic violence: an observational study. Lancet, 2008; 371:1165-1172.
Bibliografia complementar
DEVRIES K, WATTS CH, YOSHIHAMA M, KISS LB, SCHRAIBER LB, DEYESSA N, HEISE L, DURAND JG, MBWAMBO J, JANSEN HAFM, BERHANE Y, ELLSBERG M, GARCIA-MORENO C. Violence against women is strongly associated with suicide attempts: Evidence from the WHO multi-country study on women’s health and domestic violence against women. Social Science & Medicine, 2011; 73(1):79-86.
SCHRAIBER LB, BARROS CRS, CASTILHO EA. Violência contra as mulheres por parceiros íntimos: usos de serviços de saúde. Revista Brasileira de Epidemiologia, 2010; 13(2):237-45.
LUDERMIR AB, SCHRAIBER LB, D’OLIVEIRA AFPL, FRANÇA-JUNIOR I Violence against women by their intimate partner and common mental disorders. Social Science & Medicine, 2008; 66:1008 – 1018.
BARROS CRS ; SCHRAIBER LB ; FRANÇA-JUNIOR I . Associação entre violência por parceiro íntimo contra a mulher e infecção por HIV. Revista de Saúde Pública, 2011; 45: 365-372.
Aula 6. Repercussões da violência na família.
Bibliografia básica
Mandelbaum, B. Psicanálise da família. SP: Casa do Psicólogo, 2010, pp. 74-119.
Mandelbaum, B. Entre o outro e o mesmo: sobre ética e violência nas relações. In: Mandelbaum, B. Trabalhos com famílias em Psicologia Social, SP: Casa do Psicólogo, 2014.
Mandelbaum, B, Schraiber, L.B. e Oliveira, A.F.P.L., Violência e vida familiar: abordagens psicanalíticas e de gênero. Saúde e Sociedade, v. 25, n. 2, pp. 422-430, 2016.
Aula 7. Lidando com a violência: propostas de intervenção na atenção primária à saúde e o seu estudo.
Bibliografia básica
KISS, LB; SCHRAIBER, LB. Temas médico-sociais e a intervenção em saúde: a violência contra mulheres no discurso dos profissionais. Ciênc. Saúde Coletiva, 16(3):1943-1952, 2011.
D’OLIVEIRA AFPL, SCHRAIBER LB, HANADA H, DURAND JG. Atenção integral à saúde de mulheres em situação de violência de gênero: uma alternativa para a atenção primária em saúde. Ciência & Saúde Coletiva, 2009; 14(4):1037-50.
Aula 8. Lidando com a violência: identificação e manejo dos casos e seus registros no âmbito de ações específicas em saúde mental.
Bibliografia básica
Yakeley, J. Working with violence: a contemporary psychoanalytic approach. Londres: Palgrave, 2010.
Aula 9. Políticas e programas de intervenção: a rota crítica da busca por ajuda por parte dos que sofrem violências e a perspectiva de rede intersetorial de assistência, com destaque ao âmbito da atenção primária a saúde.
Bibliografia básica
SCHRAIBER, LB; d’ OLIVEIRA, AF; HANADA, H; KISS, L. Assistência a mulheres em situação de violência – da trama de serviços à rede intersetorial. Athenea digital, 12 (3) 2012: 1-24. Disponível em: http://psicologiasocial.uab.es/athenea/index.php/atheneaDigital/article/view/ 1110.
KISS LB; D’ OLIVEIRA, ANA FLÁVIA PIRES LUCAS ; ZIMMERMAN, C. ; HEISE L ; SCHRAIBER LB ; WATTS CH . Brazilian policy responses to violence against women: Government strategy and the help-seeking behaviors of women who experience violence. Health and Human Rights v. 14, p. 1-14, 2012.
Bibliografia complementar
KISS, L. B., SCHRAIBER, L. B. & D’OLIVEIRA, A. F. P. L. Possibilidades de uma Rede intersetorial de atendimento a mulheres em situação de violência. Interface – Comunicação, Saúde e Educação. 11(23), 485-501, 2007.
VILLELA, WV, VIANNA LA, LIMA LF, SALA DCP, VIEIRA TF, VIEIRA ML, OLIVEIRA EM. Ambiguidades e contradições no atendimento de mulheres que sofrem violência. Saúde e Sociedade 2011. 20 (1): 113-123.
SAGOT, M. Ruta crítica de las mujeres afectadas por la violencia intrafamiliar en América Latina: estudios de caso de diez países. Washington: PAHO, 2000.
Aula 10. Apresentação do trabalho em grupo sobre os casos Avaliação da disciplina
O conjunto de temas acima constitui uma segunda versão da disciplina. Em termos de Temário, a seguir apresentamos o conteúdo anterior, ressaltando a abordagem da violência também da perspectiva dos Homens, seja quanto a sofrer violências, por outroas homens e por mulheres, seja enquanto a perpetrar violências contra mulheres ( tema 3):
1. Família, Gênero e Sociedade: as mudanças históricas da família, as bases históricas da abordagem de gênero e os impactos históricos na legislação.
2. Dos conflitos interpessoais no contexto social e na família à violência de gênero I- a perspectiva das famílias.
3. Dos conflitos interpessoais no contexto social e na família à violência de gênero II. – a perspectiva dos homens.
4. Dos conflitos interpessoais no contexto social e na família à violência de gênero III. – a perspectiva das mulheres.
5. Violência como tema sensível e complexo (interdisciplinar) e questões da pesquisa: desenhos, metodologia e ética em estudos sobre a violência.
6. Dados atuais sobre violências com base em estudos populacionais e em serviços de saúde.
7. Repercussões na saúde dos indivíduos.
8. Repercussões na saúde do agrupamento familiar.
9. Políticas e programas de intervenção: a rota crítica da busca por ajuda por parte dos que sofrem violências e a perspectiva de rede intersetorial de assistência.
10. Lidando com a violência: identificação e manejo dos casos e seus registros no âmbito da atenção primária a saúde.