Escola é ambiente fundamental na formação de relações interpessoais

Mais de 1 milhão de crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos estão fora da escola – Foto: Pexels

As relações interpessoais, como o próprio nome já indica, dizem respeito aos laços criados entre diferentes pessoas, seja de amizade, amor ou familiares. A escola é, na maioria das vezes, o primeiro lugar onde as pessoas, sobretudo as crianças, se relacionam com outras pessoas que não as da sua própria família, o que a torna um ambiente fundamental.

“As relações que acontecem na família e as relações que acontecem na escola podem se aproximar em vários aspectos, mas elas também podem ser complementares em outros. A família tem os seus valores, a sua forma de pensar, a sua forma de entender, porém, a criança pode ser influenciada pelas discussões, pelas questões e pelas provocações que são feitas pela escola. A escola não tem o papel de mudar a família, de alterar os valores da família, mas ela vai poder dialogar com essa família sempre que necessário para se pensar alternativas em relação à criança, em relação ao processo educacional“, diz a professora Marilene Proença do Departamento de Psicologia da Aprendizagem do Desenvolvimento e da Personalidade do Instituto de Psicologia da USP.

Papel da escola

Segundo dados da primeira etapa do Censo Escolar de 2022, mais de 1 milhão de crianças e adolescentes entre 4 e 17 anos estão fora da escola. A situação não é só preocupante do ponto de vista educacional como também do psicológico, no quesito da formação do indivíduo. “Nós precisamos compreender que o espaço de escolarização é composto tanto pela construção do conhecimento quanto pela construção da sociabilidade, das relações interpessoais, da convivência, do enfrentamento às discriminações que existem na nossa sociedade. Esses dois maiores aspectos são indissociáveis: o conhecimento e a convivência“, explica a professora.

Um dos exemplos do impacto do distanciamento das interações escolares é o caso do Ensino a Distância na pandemia da covid-19: “As crianças que ficaram muitos meses em casa, principalmente as crianças pequenas, tiveram uma impossibilidade de conviver com outras crianças, de estar em espaços de socialização. Todo esse processo precisa ser retomado com bastante tolerância, com bastante paciência, mas também considerando que as crianças têm essa plasticidade e que, com certeza, estarão superando isso da melhor maneira possível. É uma questão de tempo, é uma questão de inserção de propostas, de atividades, de projetos que venham a incentivar a convivência e a socialização. É um momento também muito importante de reflexão na educação de maneira geral, para que as escolas possam estar atentas a esse processo e, ao mesmo tempo, trazendo as oportunidades para que as crianças vivam novas experiências que elas não tiveram no momento de isolamento social“, coloca Marilene.

Obstáculos

A escola é um local de grande diversidade, que é imprescindível para o entendimento da convivência em sociedade. Porém, o local não está livre das discriminações que ocorrem no ambiente externo a ele: “A escola é um importantíssimo espaço de formação de relações interpessoais, porque é nela que nós vamos ter a grande diversidade das famílias, dos valores, das classes sociais, das formas de vida que vão estar ali convivendo no dia a dia. Nós não vamos encontrar relações homogêneas nas quais as pessoas são todas semelhantes, pelo contrário, nós vamos encontrar justamente essa diversidade. Essa diversidade que a escola tem é, por um lado, um ganho fundamental e, por outro lado, um desafio para o processo educacional incluir essa discussão. Hoje, nós sabemos que grande parte dos problemas como bullying, violência contra a escola, contra as crianças, contra os próprios professores, é fruto justamente de um processo de contínuas discriminações que acontecem na sociedade e que são muitas vezes reproduzidas no interior da escola“, pontua a especialista.

Para evitar que essas violências ocorram, a professora coloca que é necessária uma integração entre a escola, família e população: “Todos esses aspectos precisam ser englobados no interior do processo educativo, nos currículos escolares, nas discussões que são feitas pelas disciplinas para que a escola possa tratar desses temas da forma mais ampla possível. Nós vamos precisar realmente identificar as temáticas e construir programas que venham a dar conta dessa realidade. É preciso um envolvimento de todas as séries da escola, dos professores, das famílias, do bairro“. Ela ainda acrescenta: “Eu considero que é muito importante que a escola sempre esteja construindo formas de apresentar esses projetos no ensino, articulando com as famílias. É muito importante que as famílias, desde a creche até o ensino médio, possam ser coautoras desse trabalho, possam estar também conhecendo como os seus filhos estão aprendendo”.

Por: Alessandra Ueno, para o Jornal da USP, 09/05/2023

 

VOCÊ PODE GOSTAR ...