Agroecologia, caminho para reconectar sociedade e natureza na educação básica

Imagem da capa do livro Agroecologia na educação básica: questões propositivas de conteúdo e metodologia. Fonte: Editora Expressão Popular.

Obra resenhada: RIBEIRO, Dionara Soares; TIEPOLO, Elisiani Vitória; VARGAS, Maria Cristina; SILVA, Nivia Regina (orgs). Agroecologia na educação básica: questões propositivas de conteúdo e metodologia. São Paulo: Expressão Popular, 2017.

Rodrigo Castilho Freitas

"Porque eu sou um cientista / O meu papo é futurista / É lunático". Nessa cauda de cometa, sou educador ambiental e educador popular. Em nosso lindo balão azul, graduei-me em Licenciatura e Bacharelado em Ciências Biológicas pela UNESP de Ilha Solteira. Atualmente, sou aluno de mestrado em Ensino de Ciências no PIEC-USP e integrante do Grupo de Estudos de Educação Não Formal e Divulgação em Ciências (GEENF). 

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12 de novembro de 2024 | 10:00

Diversos esforços vêm sendo feitos em torno de propor caminhos para que por meio da educação seja possível (re)aproximar sociedade e natureza, pautando a conservação ambiental e o enfrentamento a desastres ambientais, agravados em meio à crise climática. A educação ambiental tem sido uma agenda de amplo debate. Para o desenvolvimento de propostas curriculares na educação básica relacionadas à educação ambiental, a Agroecologia é encontrada como um caminho. Esta é reconhecida por integrar ciência, prática e movimento social, e no caso do Brasil, é alavancada por movimentos sociais populares como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a Teia dos Povos. 

É nesta conjuntura que o livro Agroecologia na educação básica: questões propositivas de conteúdo e metodologia é organizado por Dionara Soares Ribeiro, Elisiani Vitória Tiepolo, Maria Cristina Vargas e Nivia Regina Silva. As autoras são atuantes na educação popular, com filiações e formações diversificadas, contando ainda a obra com uma extensa lista de colaboradores. O livro foi publicado pela editora Expressão Popular, diretamente associada à atuação do MST. 

Inicialmente, a publicação surge como um Caderno, desenvolvido no âmbito de um curso de Educação em Agroecologia ministrado em 2016 na Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto (Prado–BA). Dentre as dimensões da Agroecologia neste percurso, as organizadoras a reconhecem como processo de construção de conhecimentos e que deve permitir a análise crítica da realidade. Com isso, é apresentado como foco do livro uma proposta de organização curricular pautada pela Agroecologia. Importante ressaltar, a intenção está longe de apresentar uma noção estanque de currículo, afirmando-se que seja entendida a flexibilidade da proposta, com capacidade de considerar as realidades e experiências de cada comunidade, tendo o educador a responsabilidade por sua (re)organização.

O desenvolvimento do Currículo de Agroecologia para a Educação Básica se dá, portanto, a partir de uma base teórica e não consiste em conformar-se institucionalmente, pensando a partir dos Princípios Filosóficos e Pedagógicos da Educação do MST, que contém as interpretações do mundo próprias do movimento. Para além disso, a base é organizada a partir de categorias e conceitos centrais para a integração de áreas de conhecimento na práxis educativa agroecológica, em torno do tema da agrobiodiversidade e de sujeitos do campo, conceitos como agricultura, trabalho, agroecossistema, revolução verde, dentre outros. São apresentadas também dimensões e correntes da Agroecologia e abordados conceitos de processos ecológicos, como biodiversidade, sucessão ecológica e teia trófica.

Reafirmando o currículo como um guia e que a definição final de sua configuração no ambiente escolar é pertinente a cada comunidade escolar, considera-se que a discussão sobre Agroecologia deve estar associada a questões ambientais, políticas, sociais e culturais de cada contexto. Ao tomar a perspectiva de Paulo Freire, a proposta de metodologia é estruturada pela curiosidade epistemológica e a rigorosidade metodológica, por sua vez estabelecida por indissociabilidade entre ensino e pesquisa. Ainda, é feita consideração sobre a avaliação no fazer pedagógico, assim é apresentada a proposta curricular estruturada conforme fases, objetivos e conteúdos.

Na continuidade do livro são apresentados textos que contém um panorama histórico da agricultura, as recentes correntes da agricultura alternativa e a atuação dos movimentos sociais pela Agroecologia e a Reforma Agrária Popular. Situam-se os enfrentamentos da educação ambiental e das escolas do campo, especialmente considerando-se os desafios impostos pelo modelo econômico neoliberal e os ataques à educação pública. Estes textos subsidiam a atuação das pessoas educadoras que conduzem sua práxis associada à Agroecologia, que assim estarão instrumentalizadas com conhecimentos e perspectiva crítica para o trabalho educativo.

Em meio a urgência do enfretamento à crise climática, é convidativo conhecer a e valorizar a proposta das pessoas que contribuem para a perspectiva de educação baseada em Agroecologia. Assim, é evidenciada a relevância da articulação proposta no livro. A Educação Ambiental, como tema que é transversal para todos os componentes curriculares, é muito cara ao Ensino de Ciências. Para a mobilização dos conhecimentos destas áreas, a perspectiva agroecológica, com caráter social crítico e embasamento dialético, desponta no atual cenário para os que se preocupam em superar a concepção educacional hegemônica que a realidade capitalista impõe.