Língua Guarani: única e diversa

Ministrante do Mini-curso: Mário Ramão Villalva Filho (Professor Mestre pelo PROLAM/USP. Dedicação Exclusiva da Universidade Federal da Integração Latino-americana – Foz do Iguaçu-PR).

Ementa
Para além das fronteiras das nações, é mais oportuno pensar o idioma guarani como um instrumento de comunicação e de resistência entre os povos latino-americanos, possibilitando seu resgate cultural e identitário em um processo constante de reconstituição de sua memória na/pela língua. Por ser uma língua viva em várias partes dos estados nacionais, acreditamos importante apoiar os defensores e falantes do guarani (povos originários ou não) quando reivindicam que sua língua tenha a mesma consideração que as línguas de origem européia que, respeitando os regionalismos, sotaques e individualidades, são denominados com uma só palavra: português, espanhol, inglês, etc. Por isso acreditamos que seja importante levar à comunidade e aos interessados em geral essa língua originária, que é língua viva e oficial em várias partes do nosso continente. Este Mini-curso tem início com a apresentação dos fatores históricos que fizeram o guarani sobreviver à supremacia da cultura européia por mais de 500 anos. Depois, serão apresentadas noções básicas da língua, como as vogais, consoantes, as gramáticas praticadas nos vários países. Para tanto, discutiremos variedades linguísticas presentes no guarani paraguaio e também no guarani utilizado no Brasil, na Argentina e na Bolívia.

Justificativa

A língua guarani é a língua originária viva majoritária na América do Sul, encontrada tanto no norte da Argentina (Províncias de Misiones, Corrientes, Formosa, Jujui e Salta), como na região do Chaco boliviano e no sul do Brasil, especialmente no Mato Grosso do Sul, no Paraná, nas aldeias indígenas do litoral Atlântico (estados de Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo), e em todo território paraguaio onde foi oficializada em 1992. Essa língua também foi oficializada na província de Corrientes em 2004 (Argentina); na cidade brasileira de Tacuru em 2010; na Bolívia, é co-oficial junto com o aimára, o quechua e o espanhol desde 2009. Em 1995 no MERCOSUL foi declarada como “língua histórica” e desde 2015 como língua de trabalho no PARLASUL.
A “Nação Guarani” teve o seu “território” dividido com a formação dos vários países que se formaram no decorrer da sua história. Atualmente, essa língua ainda vive em todos esses países e vem se adaptando à contemporaneidade, com a utilização das ferramentas necessárias que a fazem cada vez mais viva por meio da adoção da escrita e de sua incursão no mundo das novas tecnologias. Em cada país, os seus falantes adotaram uma grafia e hoje temos várias formas de escrever e de interpretar a língua; porém, ela continua sendo única em sua estrutura gramatical e na maioria dos seus vocábulos, assim como são as outras línguas modernas.

Cronograma do Mini-curso

  1. A história da língua e a sua oficialização em regiões de vários países do MERCOSUL. Políticas linguísticas de defesa da língua. A Lei de Línguas e a Academia de Língua Guarani no Paraguai.
  2. A Gramática Guarani atual utilizada no Paraguai, Brasil e Bolívia. Estudo comparativo.
  3. Vocabulário, abecedário, noções básicas de saudações, pronomes pessoais, sufixos e partículas aglutinantes. Música, poesia e literatura guarani nos vários países.

 

Bibliografia Básica:

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