Ministrante: Dr. Walmir Pereira (UNISINOS).
Ementa:
Promover uma reflexão a respeito do significado contemporâneo atribuído à noção de patrimônio, entendida como categoria de pensamento e entendimento do real, e sua crescente operacionalização no conceito de patrimônio cultural, conjeturado enquanto expediente heurístico producente para lançar luz sobre a (re) produção de identidades/alteridades e diferenças culturais, em tempos e espaços sociais determinados. Em consonância com o caráter transversal e a dimensão de plasticidade do patrimônio e de seu genitivo patrimônio cultural conjecturar, no contexto latino americano e brasileiro das ciências humanas e sociais, em torno da recepção acadêmica e política do boom patrimonializante concebido como construção social (Arantes, 1994; Canclini, 1994); narrativa (Gonçalves, 1996), formação discursiva (Veloso, 2000) e processo (Londres, 1997). Problematizar a tradicional dicotomia estabelecida entre patrimônio material e patrimônio imaterial, entranhada tanto nos discursos oficiais como no conjunto das representações eruditas e em ações, pretéritas e presentes, de órgãos e instituições empenhadas nos atos sociais de conservação e preservação do patrimônio, assinalando à possibilidade de desconstrução da concepção hegemônica vigente a respeito do patrimônio, a qual estabeleceu um mundo de fronteiras, escassamente permeável, expresso na dicotomização entre os bens culturais de natureza material e imaterial.
Justificativa:
No contexto contemporâneo global de uma “economia de mundo cheio” (Barth, 2001), a ideia-força de patrimônio vem se configurando, mais do que em qualquer outro espaço-temporalidade da já longa aventura humana, como uma categoria de entendimento do real. Parafraseando Merleau-Ponty, o patrimônio apresenta-se como uma construção histórica e não enquanto uma ideia natural da estrutura psíquica do pensamento humano. Nestes termos, patrimônio configurou-se historicamente em uma expressão vernácula, noção insigne que paulatinamente passou a fazer parte do léxico cultural e político da modernidade contemporânea. No contexto acadêmico e intelectual internacional de emergência e consolidação de uma história do tempo presente e de uma antropologia do patrimônio, sua incidência e sua acontecimentalidade vêm ultrapassando inclusive as fronteiras espaciais, sociolinguísticas, políticas e culturais erigidas em torno do poder basilar dos principais blocos hegemônicos mundiais – Ocidental e Oriental – para abarcar o universo cognoscível de sociedades, povos e coletividades ocupantes do continente americano.
A problemática teórica e metodológica circunscrita ao mini curso está relacionada à produção de análises interpretativas e pesquisas empíricas concernentes às modalidades de pensamento e à diversidade de formações socioculturais e históricas existentes no continente latino-americano. Importante demarcar, neste quesito, a relevância de um investimento em estudos e investigações sobre a temática do patrimônio e do patrimônio cultural justificado no fato de representar a afluência de um percurso intelectual e sociopolítico, remetido ao contexto histórico e ideológico do século XIX, momento distinto a partir do qual prosperou o pensamento social latino americano e brasileiro vinculado à conformação dos Estados Nacionais.
Cronograma:
1º encontro: Abertura
1ºencontro – A Categoria de Patrimônio e o Conceito de Patrimônio Cultural
2º encontro Gênese do Patrimônio e do Patrimônio Cultural na Modernidade
2º encontro – Diversidade e semântica do patrimônio na América Latina
3º encontro Desconstrução e Relativização da dicotomia material e imaterial na América Latina
3º encontro – Diferentes modalidades de Patrimônio na América Latina
Recursos Didáticos: Notebook, Datashow, Caixa de Som
Bibliografia
ABREU, Regina & CHAGAS, Mário. (Orgs.) Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
ARANTES, Antônio Augusto. (Org.) Produzindo o passado. Estratégias de construção do patrimônio cultural. São Paulo: Brasiliense, 1984.
BARTH, Fredrik. A diversidade cultural global em uma “economia de mundo cheio”. In As dimensões culturais da transformação global: uma abordagem antropológica. ARIZPE, Lourdes. (Org.) Brasília: UNESCO, 2001.
CANCLINI, Nestor Garcia. Los usos sociales del patrimonio cultural. In El patrimonio cultural de México. México. D.F.: Fundo de Cultura Económica, 1993. pp. 41-61.
CHAUVEAU, A., PH. TÉTARD (Org.) Questões para História do tempo presente. Bauru: EDUCS, 2000.
CHOAY, Françoise. A alegoria do patrimônio. São Paulo: Ed. UNESP, 2001.
FONSECA, Maria Cecília Londres. O patrimônio em processo: a trajetória da política federal de preservação no Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ, 2ª edição, 2005 [1997].
GONÇALVES, José R. Santos. A retórica da perda: os discursos do patrimônio cultural no Brasil. Rio de Janeiro, Editora UFRJ, 2002 [1996].
HARTOG, François. Tempo e Patrimônio. In Revista Varia História. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2006.
HERNÁNDEZ, Josep Ballart & TRESSERAS, Jordi Juan. Gestión del patrimonio cultural. Barcelona: Editorial Ariel, 2ª edição, 2005
JELIN, Elisabeth. Los trabajos de la memoria. Madrid: Siglo Veintiuno de España Editores, S.A., 2002.
LE GOFF. Jaques. Documento/monumento. In: Memória-História Lisboa: Imprensa Nacional.
LÉVI-STRAUSS, Laurent. Patrimônio imaterial e diversidade cultural: o novo decreto para proteção dos bens imateriais. In Revista Tempo Brasileiro, out-dez. Nº 147. Rio de Janeiro: Ed. Tempo Brasileiro, 2001.