Ministrante: Profa. Dra. Virgínia Gil Araujo (Departamento de História da Arte –EFLCH/UNIFESP)
EMENTA
O objetivo do mini-curso é analisar os novos estudos sobre a fotografia, em fotomontagens e ensaios fotográficos realizados desde o final da ditadura até os dias de hoje, e que configuram um corpus notavelmente articulado de políticas da memória, por optarem pelo dispositivo fotográfico nos quais podem ser verificados os cruzamentos entre a arte e a violência do Estado. O conteúdo programático do mini-curso abrange a relação entre arte e política na Argentina e como esta relação manifesta-se na arte contemporânea do artista León Ferrari, que vivenciou a ditadura militar em seu país de origem e no Brasil, residindo em São Paulo durante 15 anos a partir de 1976. As autoras Ana Longoni e Andrea Giunta estudiosas do conceitualismo ideológico analisaram a poética política de León Ferrari e a partir do estudo dos textos destas estudiosas pretendemos problematizar temas históricos relevantes, como as ditaduras na América Latina, os Estados totalitários e a prática da tortura, veiculados na obra fotográfica deste artista.
De outro modo, após a ditadura militar na Argentina, surgem novos artistas como Eduardo Gil, Gerardo Dell’Oro, Guadalupe Gaona, Fernando Gutiérrez, Helen Zout, Hugo Aveta, Inés Ulanovsky, Juan Travnik, Julio Pantoja, Paula Luttringer, Martín Acosta e Res. Alguns artistas são parentes das vítimas da sociedade de controle: Gabriela Bettini, Gustavo Germano, Lucila Quieto, Marcelo Brodsky, Pedro Camilo Pérez Del Cerro. Estes artistas trabalham com as instancias difíceis de elaboração das memórias da repressão em séries fotográficas que conjugam a condição poética com a voz crítica. Propomos estudar este conjunto de fotografias tendo como base para reflexão autores como Giorgio Agamben e Geoffrey Batchen, bem como os textos de autoria de Beatriz Sarlo e de Natália Fortuny. Ambas indagam incisivamente em torno do conjunto de produções culturais para perguntar-se sobre a capacidade dos restos, do que deixou o horror entre nós, de concentrar a construção de novos sentidos para os exercícios da memória pessoal, para as persistências em lidar com as perdas e a dor da ausência.
JUSTIFICATIVA
Propomos este mini-curso diante da necessidade de debater os avanços da pesquisa sobre a poética fotográfica diante das ditaduras militares e civis na América Latina, dos anos de experiência democrática pós-ditadura militar na América do Sul, assim como das tensões políticas e sociais da atualidade. Conforme este propósito, faz-se premente o estudo da poética crítica fotográfica do artista argentino León Ferrari e do realismo crítico daqueles artistas que são filhos e parentes de desaparecidos políticos que elegeram a linguagem fotográfica para refletir sobre a construção da memória, bem como os esquecimentos, os silêncios na Argentina. Face à necessária política da memória na luta pela democracia, o mini-curso pretende ampliar a discussão sobre a função social da arte, dos artistas, dos teóricos e historiadores na participação da produção de conhecimento crítico e de sua ação dentro da Universidade.
CRONOGRAMA:
19/10 – Processos alegóricos de apropriação e montagem fotográfica na obra política de León Ferrari .(CARGA HORÁRIA 01:30)
20/10 – A memória fotográfica na arte contemporânea argentina de Eduardo Gil, Gabriela Bettini, Gerardo Dell’Oro, Gustavo Germano, Lucila Quieto, Fernando Gutiérrez, Helen Zout, Hugo Aveta, Juan Travnik, Julio Pantoja, Paula Luttringer, Res. (CARGA HORÁRIA 01:30)
21/10 – Palavras fotográficas: imagem e escritura nas fotografias de Guadalupe Gaona, Inés Ulanovsky, Marcelo Brodsky, Martín Acosta, Paula Luttringer, Pedro Camilo Pérez Del Cerro. (CARGA HORÁRIA 01:30)
BIBLIOGRAFIA BÁSICA:
AGAMBEN, Giorgio (2008). O que resta de Auschwitz. O Arquivo e a Testemunha (Homo Sacer III). São Paulo: Boitempo,
BATCHEN, Geoffrey (2004). Forget me not. Photography & Remembrance. Nueva York, Princeton Architechtural Press.
BYSTROM, Kerry (2009). Memoria, fotografía y legibilidade en las obras de Marcelo Brodsky y León Ferrari, in: Claudia FELD y Jessica STITES-MOR, “El Passado que Miramos. Memoria e imagen ante la historia reciente, Buenos Aires, Paidós.
FORTUNY, Natalia y GARCÍA, Luis Ignacio (2013). Instantáneas de la memória. Fotografía y dictadura em Argentina y América Latina, Buenos Aires, Libraria.
GIUNTA, Andrea (2011). Escribir las imágenes – ensayo sobre arte argentino y latinoamericano. Buenos Aires: Siglo Veintiuno Editores,.
GIUNTA, Andrea (2008). Vanguardia, Internacionalismo y Política – arte argentino en los años sesenta. Buenos Aires: SigloVeintiuno Editores,
LONGONI, Ana (2010). Fotos y siluetas: dos estratégias contrastantes em la representación de los desaparecidos, in: Emilio CRENZEL(coord.) “Los desaparecidos em la Argentina. Memorias, representaciones e ideas (1983-2008)”, Buenos Aires, Biblios.
POLLAK, Michael (2006). Memoria, olvido, silencio. La producción social de identidades frente a situaciones límite, La Plata, Ediciones Al Margen.
ROUSSEAUX, Fabiana (2007), Existe una ética para la representación del terror? Escritura em los bordes de uma ausência sin restos, in: Sandra LORENZANO y Ralph, BUCHENHORST, “Políticas de la memória. Tensiones em la palavra y la imagen, México, Gorla.
SARLO, Beatriz (2005), Tiempo passado. Cultura de la memória y giro subjetivo. Uma discusión, Buenos Aires, Siglo XXI.