“Luto pra mim é verbo” e Esperançar também: então que esperancemos lutando por uma política educacional baseada em evidências científicas

Esta é a publicação do editorial do número 5 da Revista BALBÚRDIA. O número completo está disponível para baixar aqui.

27 de fevereiro de 2023 | 10:00

O número que se desvelará nas próximas páginas traz uma coletânea de textos escritos no segundo semestre de 2022. Vimos ao longo desse semestre uma eleição bastante polarizada entre grupos políticos: aqueles(as) que queriam o direito de viver e aqueles(as) que queriam o direito de matar1. O presente Editorial é escrito em dezembro de 2022, no apagar das luzes de um governo cujo principal legado tem sido a tentativa de destruição/obstrução de um caminho tortuoso que temos construído dentro das possibilidades da nossa frágil democracia.

Neste momento que escrevemos, estamos passando por mais um bloqueio orçamentário na Educação. E não estamos usando a hipérbole como recurso estilístico para dar ares de pompa a este Editorial. É como dizem na internet: #realoficial. A 34 dias para o fim do mandato, o ainda presidente Jair Messias Bolsonaro bloqueou R$ 244 milhões que serviriam para o pagamento de despesas como contas de luz e bolsas de estudos

Nada mais nos surpreende! Esta revista — que deu os primeiros passos na Assembleia Extraordinária dos discentes do Programa Interunidades em Ensino de Ciências (PIEC-USP) do dia 14 de maio de 2019 — acompanhou de perto os retrocessos educacionais promovidos pela atual gestão federal. Vimos: o abandono do Plano Nacional de Educação; o ataque à escola democrática com a criação do Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares; a criação do “Decreto da Exclusão” com a Política Nacional de Educação Especial; o cerceamento da liberdade de cátedra com a instituição da Política Nacional de Alfabetização; a tentativa de revogar a portaria que incentiva a adoção de ações afirmativas na Pós-Graduação; a adoção de medidas privatistas na Educação Infantil com o Programa de Parcerias de Investimentos da Presidência da República.

Vimos ainda os cortes de bolsas de pesquisa com as novas diretrizes de (não)fomento da CAPES. Se para a extrema-direita brasileira, a existência de balbúrdia na universidade é justificativa para minguar os recursos públicos, para nós, que enfrentamos ideologicamente um governo fascistóide, balbúrdia é lutar pela democracia. Enquanto uns propagam fake news, nós buscamos contribuir com difusão de informação sobre as pesquisas educacionais. Foi assim que nasceu a revista BALBÚRDIA com a proposta de popularizar a Ciência da Educação e as ações das universidades públicas na busca por acesso e melhorias da Educação do país.

Nesse ano eleitoral, não poderíamos fugir da luta e por isso dedicamos o nosso número para o tema “As diferentes dimensões da política e seus impactos na Educação". Para enriquecer o debate, entregamos nas próximas páginas duas entrevistas. A primeira com a educadora e militante do movimento indígena, Sonia Guajajara, eleita a primeira deputada federal indígena pelo Estado de São Paulo, em que o(a) leitor(a) poderá ao longo da entrevista se familiarizar com sua posição sobre a educação na perspectiva indígena, as mudanças climáticas e a política.Já na segunda entrevista, realizada com a professora, militante e sindicalista Mônica Severo, aborda-se a importância da participação política e sindical para a defesa da Educação pública, universal e de qualidade.

Nessa edição também realizamos duas homenagens. A primeira à professora Lisete Regina Gomes Arelaro,pedagoga, pesquisadora, educadora, feminista, militante e socialista. Dos seus grandes feitos, destacamos sua integração na equipe do educador Paulo Freire na Secretaria Municipal de Educação de São Paulo entre 1989 e 1992 e, também, sua candidatura, em 2018, ao Governo do Estado de São Paulo pelo PSOL, obtendo mais de 500 mil votos. A segunda homenagem ao professor João Zanetic, físico, educador e ativista. Dentre muitos feitos, destaca-se a preocupação constante de estabelecer uma compreensão da Física para além da matematização e simples resolução de problemas modelos, e uma conduta que sempre visa pressionar o sistema a se repensar e mudar.

Ainda sobre esse tema, o(a) leitor(a) também poderá conferir o relato de Caio Faiad, nosso coeditor, que competiu por uma vaga à Assembleia Legislativa de São Paulo, explicando os motivos que o levaram a tomar tal decisão. 

Além dos textos temáticos, esse número conta com diversos outros textos organizados ao longo da Revista: Texto de Divulgação Científica, Espaço Aberto, Espaço  do Egresso, Espaço do Docente, Divulgação de Grupos de Pesquisa e os recentes BALBÚRDIA Indica e BALBÚRDIA informa.

Entre erros e acertos, a frente ampla democrática saiu vitoriosa com a eleição de Lula. E justamente por isso que nestes últimos dias de governo Bolsonaro a Educação sofreu o bloqueio orçamentário. A extrema-direita brasileira precisa reanimar os bolsonaristas na frente dos quartéis para que Bolsonaro consiga alguma sobrevida política. E um ataque aos terríveis doutrinadores, os professores, cai bem nesse momento. Por isso, é importante nos posicionarmos: ANISTIA NÃO!

Para nós do campo democrático, o que nos interessa é que todas as políticas nefastas à Ciência e Educação de Bolsonaro sejam desfeitas. Sejam aquelas que podem ser revogadas com uma canetada de Lula, sejam aquelas que precisam de repactuação com o Congresso, como o Novo Ensino Médio. Para ambos os casos, o que não podemos fazer é esmorecer no discurso público. Precisaremos continuar falando sobre o método de destruição do Estado brasileiro aplicado por Bolsonaro que coaduna a agenda ultra-neoliberal e a prática reacionária dos costumes. Precisaremos continuar nos coletivizando para termos forças contra os engodos que vieram na frente amplíssima pela democracia.

Voltamos, então, aos ensinamentos da internet que proliferaram “luto pra mim é verbo”. Para nós também! Assim como o “esperançar” de Paulo Freire. Que esperancemos lutando por uma política educacional baseada em evidências científicas. Esse é o compromisso político e suprapartidário da BALBÚRDIA.

Boa leitura!

Balbudie-se!


Nota de rodapé:

(1) Frase dita reiteradamente pelo Álvaro Borba do canal Meteoro Brasil.