Professor João Zanetic: um educador e militante incansável

Foto do professor João Zanetic em entrevista para o canal do Ivan Valente. Crédito: Canal Ivan Valente.

Ao debatermos sobre um(a) docente a ser homenageado nessa edição (número 5 da Revista BALBÚRDIA), não sobrou dúvidas para a equipe editorial que o professor João Zanetic deveria ser um dos nomes.

20 de fevereiro de 2023 | 10:00

João Zanetic nasceu na década de 1940 no Estado de São Paulo. Ingressou no curso de Bacharelado em Física do Instituto de Física da USP (IFUSP) em meados de 1960. No terceiro ano do curso, foi bolsista na área de Física Nuclear, no Acelerador de Partículas, passando posteriormente para Dosimetria da Radiação, na área da termoluminescência. Na pós-graduação, pretendia continuar na área de pesquisa em Física e, embora tenha se diplomado como bacharel, chegou a fazer algumas disciplinas do curso de Licenciatura.

João cursou dois mestrados. O primeiro, entre 1968 e 1972, realizou no Instituto de Física, com modelagem do fenômeno da termoluminescência. Desde que ingressou no mestrado, lecionou disciplinas por meio de monitorias. Em 1970, prestou o concurso para professor do IFUSP e foi aprovado, passando a integrar o corpo docente do instituto.

Foi o criador e editor, durante muitos anos, da Revista Brasileira de Ensino de Física (RBEF). Durante a Ditadura Militar, a comunidade da Física e a revista mencionada tinham uma ascensão na política educacional, realizavam-se críticas às medidas que o Governo tomava na época, portanto a revista também tinha um viés político de iniciação e defesa do ensino de Física. Os primeiros números da RBEF tiveram pouca contribuição dos físicos da época, mas João não desanimou e resolveu publicar os primeiros textos relacionados às disciplinas que ministrava até que a revista se enraizasse na comunidade. Hoje, a RBEF é uma revista referência na área de Ensino de Física. João também foi conselheiro da Sociedade Brasileira de Física durante muitos anos.

Outro projeto de grande relevância para o professor foi o Projeto em Ensino de Física (PEF), criado por Ernst Hamburger. O PEF teve um papel importante para constituir a área de Ensino de Física, pois participaram dele vários dos que seriam os primeiros mestres da área. Participou também do projeto de vídeos didáticos para o ensino de Física, o super loop, também criado por Ernst. Esses foram os projetos iniciais que impulsionaram a criação do Programa de Pós-Graduação Interunidades em Ensino de Ciências (PIEC) da USP.

A convite do professor Ernst Hamburger, em 1972, João foi para a Inglaterra fazer o segundo mestrado na área de Ensino de Ciências, no centro Chelsea College da Universidade de Londres, que era a base do projeto PEF de língua inglesa. Quem o orientou foi o professor Jon Ogborn, um dos físicos criadores do projeto PEF. O objetivo do mestrado referia-se ao estudo da experimentação no ensino de Física. Embora Ernst tenha o orientado a ficar na Inglaterra para realizar o doutorado na área de Ensino de Ciências,  por razões pessoais, Zanetic optou por voltar ao Brasil em 1974, momento em que começou a fazer parte das ações do PIEC. Suas primeiras orientações na pós-graduação, entretanto, se iniciaram somente após a conclusão do doutorado, em 1990.

Em 1983, Zanetic decidiu fazer o doutorado quase 10 anos depois de ter feito o segundo mestrado. Como no PIEC ainda não havia curso de doutorado, optou por realizá-lo em um programa da Faculdade de Educação da USP. Sua tese, cujo título é “Física também é cultura”, foi realizada sob orientação do professor Luis Carlos de Menezes. O tema do doutorado foi inspirado nas disciplinas que lecionava no curso de Licenciatura em Física do IFUSP.

Professor da USP desde 1970, João Zanetic sempre se preocupou em estabelecer uma compreensão da Física para além da matematização e simples resolução de problemas modelos. Em suas aulas, suas(seus) estudantes tinham contato com uma perspectiva que discutia a Física enquanto um empreendimento social e que deveria constituir-se como um elemento da cultural geral.

Aposentado desde 2013 e mesmo gostando de ministrar aulas, João não assumiu novas turmas da graduação, pois afirmava que caso continuasse a assumir turmas, não demandaria para a Universidade a necessidade de contratação de novas(os) docentes, algo necessário para uma oxigenação universitária.

O professor João é um militante incansável por uma sociedade mais justa, sendo uma figura constante na luta pelas demandas do bairro do Butantã. Mesmo após a aposentadoria, esteve presente, por exemplo, nas manifestações que  visaram garantir a manutenção do atendimento do Hospital Universitário da USP (HU) à população além muros da Universidade.

Querido como é, tivemos dificuldades em conseguir delimitar as pessoas para quem pediríamos depoimentos. Para isso, acabamos conversando com a Moniquinha Deylot que convidou alguns orientandos(as) e amigos(as) do professor Zanetic que mantém o seu grupo ativo. Além disso, convidamos o professor Demétrio Delizoicov. O compilado a seguir traz um pequeno retrato dos depoimentos e agradecimentos coletados.

Demétrio Delizoicov (2022)

Texto cedido à BALBÚRDIA para esta homenagem.

De: Demétrio Delizoicov
Para: João Zanetic

João, querido

Registro, brevemente, as lembranças marcantes que tenho das minhas interações com você e que contribuíram com a minha formação. Inicio pela disciplina de Física Geral 1, na qual fui seu aluno em 1971. Logo percebi em você o físico diferenciado que, de fato, é! Eu esperava a tradicional “calculeira” com a qual estava acostumado com a disciplina de Física. A surpresa foi que você, sem abandonar o tratamento formal, oportunizou a abordagem do contexto de produção da Mecânica Clássica. Dentre outros recursos educativos utilizou, por exemplo, uma parte do texto da peça teatral de Brecht, Galileu Galilei, que foi discutido com seus alunos. Creio que pode ter sido esse tipo de práxis que o desafiou a ser um pesquisador em Ensino de Física (EF). Na verdade um educador, especializado em Física. Relembro a nossa interação mais sistemática quando iniciei o mestrado em EF no IFUSP, em 1975. Você havia retornado de Londres e passou a lecionar as disciplinas Instrumentação para  o Ensino  de Física e Evolução dos Conceitos de Física no curso de graduação. Em ambas incrementou de modo significativo aspectos relacionados ao contexto de produção das teorias físicas. Aspecto muito bem caracterizado na  tua tese de doutorado: Física é Cultura. Além disso, criou, e foi o primeiro editor, da Revista de Ensino de Física, bem como iniciou um importante foco de pesquisa para o EF: Física e Literatura. Junto com Menezes, constituiu um grupo de EF no qual me engajei. Neste grupo, tivemos a oportunidade de estudar as obras de Paulo Freire, com o teu grande incentivo. A nossa convivência através dos anos e das várias atividades mediadas pela perspectiva freireana fez com que fosse cada vez mais crescente a minha admiração por você. Ver clicando aqui.

André Ferrer (2022)

Texto cedido à BALBÚRDIA para esta homenagem.

Educação e política.

Talvez nada represente mais pronta e sinteticamente os campos irmãos e imbricados – mas nem sempre vistos assim – que impactaram a atuação do professor João Zanetic em sua trajetória acadêmica e profissional. Quem com ele convive e conviveu sabe muito bem que não há discurso neutro, toda educação é política e mesmo a perspectiva da História e Filosofia da Ciência no ensino não se apresenta como mera “estratégia” didática.

João é uma figura central em minha formação como professor e como pesquisador na área de ensino de ciências. Saudades dos tempos de universidade e das reuniões do nosso grupo de discussão, sempre regadas a textos de qualidade e pitadas de humor e descontração. Trabalho em equipe, reflexão, criticidade.

Em tempos tão sombrios que estamos vivendo, de barbárie e negacionismos, a voz do João continua sendo um farol a nos guiar em meio ao nevoeiro que insiste em permanecer sobre nós. Continuemos a valorizar a boa literatura, o diálogo entre as “duas culturas”, o caráter libertador do conhecimento e a curiosidade epistemológica. Que os novos tempos reaproximem educação e Política, com “P” maiúsculo! Nossa luta continua...

Obrigado, João.

Elisabete Aparecida do Amaral (2018)

Gravitação Também é Cultura no Ensino Médio? (Tese)

Em especial, reitero meu agradecimento ao professor João Zanetic, por seu apoio e dedicação que tornou possível a continuação desta tese no momento mais difícil da minha vida, a partida da minha querida mãezinha. Em cada etapa meu orientador me ajudou a superar a dor e continuar em frente. Todas as palavras existentes não seriam suficientes para descrever a imensa amizade, admiração e profunda gratidão que tenho por ele. As reuniões de trabalho com ele sempre foram momentos preciosos de encorajamento e críticas construtivas, sua brilhante orientação possibilitou a finalização desta tese.

Flavia Polati (2018)

Potencialidades e desafios do ensino de História e Filosofia da Ciência: uma aventura com teorias da gravitação (Tese) 

Ao professor e amigo João Zanetic, que acreditou em mim até o final dessa tese, sempre me incentivando e dando asas para meus sonhos voarem, me ensinando não somente as viagens que podemos ter com a Gravitação, mas também a olhar o mundo de maneira mais crítica e política. Não tenho palavras para descrever aqui o quanto devo essa tese a ele...

Alexandre Bagdonas (2022)

Texto cedido à BALBÚRDIA para esta homenagem.

Dentre tanto que aprendi com as conversas, orientações e desorientações com o João, uma das frases mais marcantes foi a que “A ciência é como a poesia, uma mentira que diz a verdade”, que lemos num texto de Levy Leblond discutindo história, filosofia da ciência e o ensino de física como cultura. Lembro da beleza da metáfora, do estranhamento, e da alegria de  discutir as possíveis implicações didáticas de uma ciência que problematiza e brinca com a razão. Algum tempo depois, a mesma frase já me soa igualmente interessante, mas também um pouco mais perigosa. Em tempos tão tristes, de crescimento de visões que desvalorizam a pesquisa, o estudo, a história dos que passaram a vida lutando contra o ensino formulista, tradicional, e em especial do absurdo dos saudosistas da ditadura, eu sempre me lembrava de como tudo isso deveria ser especialmente doloroso para o João e sua geração. Mas fico também feliz de perceber como fui privilegiado de ter sido orientado pelo João e por conviver com seus amigos e alunos, de tê-lo como exemplo para desorientar meus alunos na busca de uma educação problematizadora, e de uma confiança mais realista e complexa na ciência, em direção à possibilidade de formar indivíduos que saibam aprender com os erros cometidos ao longo da história e tenham respeito pelo saber acumulado ao longo das gerações anteriores, mas também coragem para questionar e problematizar esse saber, tendo em vista a necessidade de promover um diálogo inteligente com o mundo.

desvalorizam a pesquisa, o estudo, a história dos que passaram a vida lutando contra o ensino formulista, tradicional, e em especial do absurdo dos saudosistas da ditadura, eu sempre me lembrava de como tudo isso deveria ser especialmente doloroso para o João e sua geração. Mas fico também feliz de perceber como fui privilegiado de ter sido orientado pelo João e por conviver com seus amigos e alunos, de tê-lo como exemplo para desorientar meus alunos na busca de uma educação problematizadora, e de uma confiança mais realista e complexa na ciência, em direção à possibilidade de formar indivíduos que saibam aprender com os erros cometidos ao longo da história e tenham respeito pelo saber acumulado ao longo das gerações anteriores, mas também coragem para questionar e problematizar esse saber, tendo em vista a necessidade de promover um diálogo inteligente com o mundo.

Arianne Pissuto (2022)

Texto cedido à BALBÚRDIA para esta homenagem.

O João é um ponto de fortalecimento para mim, não só na pesquisa em educação, mas também na vida.

Nos últimos anos, por diversas vezes, me peguei duvidando da minha capacidade, da efetividade das minhas ações nos espaços que atuo e das perspectivas de futuro. E quando você convive e dialoga com uma pessoa como ele, você tem sua esperança renovada.

Por diversas vezes ao longo destes anos que nos conhecemos, ele me brindou e brinda com pequenos momentos de luz iluminando trevas, fosse quando eu achasse que deveria desistir do curso (ainda na graduação), ou quando almejava minha entrada no mestrado e não conseguia conjecturar minhas aspirações.

Como meu orientador, João é paciente e generoso, dando apoio e me lembrando, sempre, que nosso legado é construído através do que acreditamos, das lutas que travamos diariamente e daquilo que nunca deixamos de lembrar.

A valorização da Ciência, a educação respeitosa e dialógica e o bom humor são as marcas que ele carrega e espalha por aí. É um privilégio imenso fazer parte dessa história.

E roubando seu memorável e carinhoso encerramento de e-mail: Feliz da vida, me despeço!

Fernando Domingos (2022)

Texto cedido à BALBÚRDIA para esta homenagem .

Caro Professor João Zanetic,

Não pode existir privilégio maior do que estar sob sua orientação e ter sua amizade. Agradeço por todo apoio dispensado ao longo dos anos de mestrado, por ter tornado a jornada mais fácil e leve, já que com sua tremenda experiência acadêmica presença de espírito, iluminou os pedregosos e escorregadios caminhos da pós-graduação. Foram inúmeros os conselhos e palavras de incentivo nos momentos de desânimo e dificuldades. Da sua parte, nunca houve qualquer hesitação em me incentivar, orientar e ensinar, cumprindo aquilo que você sabe fazer com maestria: ser professor. Registro então, nas páginas desta revista, minha eterna gratidão, carinho e admiração!

Um forte e fraterno abraço!

Maria Beatriz Fagundes (2022)

Texto cedido à BALBÚRDIA para esta homenagem. 

100 palavras para João!

  1. 1. Cem
  2. 2. palavras
  3. 3. para
  4. 4. falar
  5. 5. de
  6. 6. João
  7. 7. é
  8. 8. muito
  9. 9. pouco!
  10. 10. João,
  11. 11. que
  12. 12. é
  13. 13. tão
  14. 14. grande
  15. 15. que
  16. 16. não
  17. 17. cabe
  18. 18. num
  19. 19. livro.
  20. 20. Nem
  21. 21. naqueles
  22. 22. com
  23. 23. centenas
  24. 24. de
  25. 25. palavras.
  1. 26. Sem
  2. 27. palavras,
  3. 28. João
  4. 29. nos
  5. 30. ensina
  6. 31. tantas
  7. 32. coisas…
  8. 33. que
  9. 34. (su)as
  10. 35. práticas
  11. 36. podem
  12. 37. dizer
  13. 38. mais
  14. 39. que
  15. 40. mil
  16. 41. palavras;
  17. 42. mas
  18. 43. também
  19. 44. uma
  20. 45. única
  21. 46. palavra
  22. 47. pode
  23. 48. significar
  24. 49. muitas
  25. 50. coisas.
  1. 51. Cem
  2. 52. palavras
  3. 53. de
  4. 54. João
  5. 55. já
  6. 56. muito
  7. 57. nos
  8. 58. encantam;
  9. 59. sua(s)
  10. 60. história(s),
  11. 61. quanta(s)
  12. 62. cultura(s)!
  13. 63. Na
  14. 64. física
  15. 65. muitas
  16. 66. culturas;
  17. 67. na
  18. 68. cultura,
  19. 69. tantas
  20. 70. físicas!
  21. 71. Isso
  22. 72. também
  23. 73. João
  24. 74. nos
  25. 75. ensina.
  1. 76. Sem
  2. 77. palavras
  3. 78. para
  4. 79. expressar
  5. 80. meu
  6. 81. carinho
  7. 82. e
  8. 83. toda
  9. 84. admiração
  10. 85. e
  11. 86. gratidão
  12. 87. por
  13. 88. João
  14. 89. escrevo,
  15. 90. então,
  16. 91. só
  17. 92. a
  18. 93. palavra
  19. 94. mais
  20. 95. bonita
  21. 96. que
  22. 97. aprendi
  23. 98. com
  24. 99. ele:
  25. 100. esperançar!

Leonardo Crochic (2022)

Texto cedido à BALBÚRDIA para esta homenagem.  

Coerência. 

Algumas profissões e algumas pessoas são particularmente desafiadas em sua coerência. Os professores, por exemplo. São frequentemente acusados de incoerência, no apontamento das contradições entre o que defendem e a forma como agem. Aqueles que defendem e vislumbram a possibilidade de um mundo diferente, de relações solidárias, são os mais vigiados. Quando uma ação parece contrapor-se a um discurso, exige-se a “auto-crítica”. Quando, ao contrário, gestos e palavras atuam na mesma direção, a acusação será de “radical”, "ingênuo", “lunático”.

Para algumas pessoas, a coerência não chega a ser um desafio. Não quero citar nome, mas um defensor do darwinismo social e da selvageria neoliberal não vê problema ao ser acusado de nepotismo: “Se eu puder dar o filé mignon para o meu filho, eu dou”, encerra o assunto, com a tranquilidade de quem nunca defendeu algo diferente disso.

A coerência é uma busca que pode parecer pouco recompensadora. Demanda-nos a renúncia a benefícios de curto prazo e o enfrentamento de dificuldades que poderiam ser evitadas. Penso que a sua potência manifesta-se tanto na alegria imediata de uma vida vivida em sua inteireza e integridade, quanto, no longuíssimo prazo, muito além do tempo de vida individual, na possibilidade, remota, de ultrapassar barreiras intransponíveis. É o comportamento coerente que permite atravessar poços de potencial infinito.

Das muitas características que me vêm à mente ao pensar no professor João Zanetic – uma generosidade sem fim, uma alegria contagiante, um diálogo profundamente respeitoso e inteligente com todos os seres, humanos e não humanos, que compõem o mundo, a co-presença da racionalidade científica e da imaginação devaneante em sua forma de ser – creio que a dimensão da coerência merece destaque, por ser tão presente e tão evidente nele e por significar tanto nos tempos em que vivemos. Ao aprender o ofício de professor, tenho no professor João Zanetic um grande mestre e uma grande inspiração, não apenas pelo conteúdo de seu pensamento, mas também e principalmente pela maneira como esse pensamento se materializa e se constitui em todas as suas ações e formas de ser.

Moniquinha Deyllot [Mônica Elizabete Caldeira Deyllot] (2022)

Texto cedido à BALBÚRDIA para esta homenagem.

Puxa, nem sei quantas vezes ouvi o João me dizer: “eu sou um desorientador, muito mais que orientador!” e depois soltar uma dessas gargalhadas que enchem o espaço-tempo e o coração. Sempre que olho pra ele vejo um ser iluminado, culto e humanizado de tal forma que parece-me mais que natural sua caminhada pela “Física também é cultura”. E que caminhada, diga-se de passagem, temos no ensino muitos e muitas que se encontraram e se reconheceram embaixo desse guarda-chuva do João. Eu, com certeza, sou uma dessas pessoas, que primeiramente encontraram o João em disciplinas da graduação (Gravitação, depois Evolução dos Conceitos da Física), depois fizeram cursos de férias (Filosofia e Epistemologia da Ciência), depois buscaram a pós, nesses caminhos da academia. Mas o João abarca em si muito mais que a universidade, ele é uma dessas pessoas que inspiram, contando suas próprias histórias, falando de história da ciência, fomentando a construção de novas histórias no ensino de física, ou ainda lutando politicamente por uma educação gratuita, universal e de qualidade (que vejam só, estão na nossa constituição mas ainda não atingimos plenamente tal status). O João tem uma singularidade incomum a nossos tempos, ele ouve! Ele tem interesse na pessoa que somos e por tudo aquilo que passamos, não apenas no estudante, ou no orientando que produz uma tese, é nossa completude que interage com ele. Então me pergunto, o que posso dizer pra ti João? Joãozinho, só posso agradecer! Sou grata por ontem, por hoje e pela eternidade! Beijãozãozaço estalado e pululante de mim, e de Akin Tesla (meu pequenino) que também adora falar contigo.

Neusa Raquel de Oliveira Santos (2004)

A presença do teatro no ensino de física (Dissertação)

Ao Prof. Dr. João Zanetic, meu orientador.

Que foi, para mim, muito mais do que um orientador, foi um grande amigo. Sua incansável luta por mais justiça e igualdade para os mais necessitados do país, sua preocupação com a educação, sua honestidade e seu caráter foram e sempre serão exemplos para mim.

Wellington Batista de Sousa (2022)

Texto cedido à BALBÚRDIA para esta homenagem.

Agradeço a oportunidade de discorrer algumas poucas palavras sobre meu ex-mestre, o professor João Zanetic. Acredito que ele corresponda a um tipo de professor que ao passar por nossas vidas, acaba deixando além dos seus ensinamentos, marcas profundas e para sempre, e que nos ajudaram na construção do professor e profissional que somos. Feliz aquele que teve a oportunidade de ter compartilhado com ele alguns momentos de sabedoria em suas famosas aulas da disciplina de “Gravitação”. Sujeito simples, pacato, mas de jeito firme, fala calma e pausada, oratória limpa e marcante, além de um humor singelo e sútil, permitiram-me reflexões sobre o real papel do que é o ser professor e como a física ainda é uma cultura que deve ser ensinada e repassada para as futuras gerações. Em virtude dessas virtudes, ao mestre João Zanetic todo o meu carinho, respeito e admiração, o meu mais sincero muito obrigado por contribuir para com a minha formação profissional e pessoal, seu ex-aluno, Wellington Batista de Sousa.

Leandro Daros Gama (2022)

Texto cedido à BALBÚRDIA para esta homenagem. 

Tenho procurado as melhores palavras para fazer esta homenagem a um mestre tão querido, mas aceitei que qualquer tributo que lhe prestasse estaria imperfeito e aquém de expressar o carinho e a admiração que nós temos pelo João (e digo “nós” porque sei que os que aqui escrevem representam a opinião de muitas pessoas). O João é um amigo precioso, que me acompanhou em momentos importantes da minha vida, me consolou em momentos duros, me contou histórias, piadas e me deu vários conselhos. Com ele, aprendi até mesmo a Ver: um jeito novo, maior, mais amplo de ver e ler a beleza do mundo em cada letrinha da Literatura deste vasto livro que é o Universo.

Um dia, encontrei o João parado olhando uma árvore; quando o cumprimentei, ele começou a falar sobre as raízes, sobre como eram profundas, como era surpreendente a forma como se conectavam com a terra e como aquilo era maravilhoso. E eu Vi. Aquela árvore que, por anos, esteve em meu caminho quase todos os dias, eu vi de uma maneira diferente, mais completa, mais real, vi de uma forma mais viva. Em outra ocasião, enquanto ele subia uma escada, ele me mostrou as flores que despontavam ao lado dos degraus e fez a beleza daquelas flores igualar-se ao brilho de centenas de galáxias. O João é simplesmente uma pessoa tão maravilhosa, que contagia o que está ao redor e faz a gente se maravilhar com a beleza do mundo.

Muito obrigado por tudo, João!

Marcelo Pimentel (2022)

Texto cedido à BALBÚRDIA para esta homenagem.  

O professor João Zanetic me orientou no mestrado e doutorado, acolhendo um químico no rol de suas orientações. Com o João tive a oportunidade de conhecer Paulo Freire, Gaston Bachelard, entre outros autores importantes que alicerçam minha formação. Foi nas conversas de orientação, nos cafezinhos da cantina da Física, degustando um café expresso com espuma de leite e canela e nas reuniões do grupo de estudos que fui aprendendo sobre o significado de epistemologia, educação como um ato político, curiosidade epistemológica, pedagogia da pergunta e a tão saborosa relação entre Literatura e Ciências. Com o Professor João, além da formação acadêmica, também aprendi sobre humildade, respeito e humanidade, não com a leitura, mas com os gestos cotidianos do Professor João, que reproduz em suas ações, aquilo que defende e acredita.

Na verdade, me faltam as palavras para escrever sobre o Professor João Zanetic, uma vontade imensa de expressar a gratidão, admiração e carinho que tenho por ele. Finalizo, reproduzindo um trecho dos meus agradecimentos na tese de doutorado, algo que se faz presente na minha trajetória: “Às vezes, mal se imagina o que pode passar a representar na vida de um aluno um simples gesto do professor. O que pode um gesto aparentemente insignificante valer como força formadora...” (Paulo Freire – livro Pedagogia da Autonomia), assim foi com o Professor João, muitos dos seus gestos marcaram minha formação como docente, pesquisador, e, sobretudo, como ser humano. Sou muito grato por ter tido a oportunidade de ser orientado por ele, pela amizade, pelo exercício do diálogo e a total abertura à liberdade de pensar.

Renato Marcon Pugliese (2022)

Texto cedido à BALBÚRDIA para esta homenagem.

A primeira vez que trabalhei com o João foi em um grupo de estudos sobre Física e Literatura, em meados de 2003, após ficar encantado com as aulas de Gravitação, em 2002. Buscando pontes entre as duas culturas, o Professor me orientou nos trabalhos de iniciação científica, no desenvolvimento da pesquisa de mestrado no Interunidades, com a participação nas bancas de doutorado e, principalmente, no convívio cotidiano. Deixo abaixo um soneto que escrevi em sua homenagem:

Soneto ao mestre João*

temos um tango de Gardel

como cultura popular

conhecido em todo lugar

tal qual um samba de Noel

já o teorema de Godel

não está presente em qualquer bar

e deveria acompanhar

as equações de Maxwell

é mais que pedir por favor

tem que insistir em cada dia

como um gigante professor

pra que a epistemologia

entre na arte e no amor

da gente em cada moradia

* Publicado em Meu devido canto (Factível, 2020).

Renato Marcon Pugliese

Consumindo a física na escola básica: a sociedade do espetáculo e as novas propostas curriculares (2011)

Prof. João Zanetic - Física também é Cultura, 1991. Fonte: Ricardo Lacerda/Youtube.