Seis textos para estudar a Educação das Relações Étnico-raciais (ERER) no Ensino de Ciências da Natureza

Legenda da imagem: Artigos indicados neste texto fazem referências ao candomblé, afrofuturismo e Henrietta Lacks. Créditos: Colagem montada no Canva por Luciene Silva a partir de imagens do pixabay e wikicommons.

Neste texto, os divulgadores que participaram de mesa redonda que discutiu Educação em Ciências e Educação das Relações Étnico-Raciais indicam textos para aprofundamento da temática.

Ana Carolina Ferreira Barbara

Olá! Sou graduada em Biologia, mas recém-chegada na pesquisa sobre ERER no Ensino de Ciências graças à implementação de ações afirmativas na pós-graduação da USP. Além de buscar conexões entre o Panafricanismo, a Afrocentricidade e o Ensino de Biologia, nas horas vagas eu gosto de ouvir R&B e papear sobre as delícias e contradições da vida com meus familiares e amigos!

Caio Ricardo Faiad

Caio Faiad - um químico nas letras é como me apresento nas redes sociais. Sou professor de Química na Etec, doutorando no PIEC-USP e, o principal, fã da Beyoncé.

Florença Silvério

Sou Florença Silvério, mineira residente no interior paulista. Sou formada em Ciências Biológicas pela USP (FFCLRP), mestra em Educação da UFSCar (PPGE) e doutoranda em Educação pelo mesmo programa.

Miríel Emma de Jesus Silva

Oi!! Sou uma sergipana em terras paulistas, estando há quase três anos em Osasco. Procuro transmitir tudo que sei como Mestranda (USP-PIEC) e Professora Estadual. Também gosto de papear jogando sinuca, acredito ser uma das boas formas de como destrinchar ideias. 

01 de abril de 2024 | 10:00

Ao longo de muito tempo existiu uma lacuna nos estudos da Educação das Relações Étnico-Raciais (ERER) através do Ensino de Ciências. Essa lacuna vem sendo preenchida ao longo dos últimos dez anos por uma série de autoras e autores que têm se dedicado à temática.

Por isso, nós, que nos reunimos para a mesa redonda "A importância da lei nº 10.639/03 na Educação Científica: Como o Ensino de Biologia, de Química e de Física influencia a educação dos sujeitos?" no 7° Encontro de Educação das Relações Étnico-Raciais da Faculdade de Educação da USP, selecionamos seis textos que abordam ERER no Ensino de Ciências: dois do campo geral e um para cada área de Ensino (Astronomia, Física, Química e Biologia).  

Não pretendemos findar nesta lista de sugestão, mas a partir dela mostrar que é possível trabalhar com a questão racial nas aulas de Ciências da Natureza e que é imprescindível que essa área se engaje em uma educação mais positiva das relações étnico-raciais. Vamos lá?

1. As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana foram publicadas em 2004, após a promulgação da lei nº 10.639/03, para subsidiar a implementação da referida lei. Ao fazer uma breve recuperação histórica do racismo no Brasil, em especial no contexto educacional, o texto contextualiza e justifica a importância da lei nos diferentes níveis de ensino e, além disso, indica princípios que devem guiar as ações educativas para a ERER.

2. O artigo “Cidadania, relações étnico-raciais e educação: desafios e potencialidades do ensino de ciências” é de 2010 e foi publicado na revista Educação e Pesquisa por Douglas Verrangia e Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva. É um dos textos angulares da ERER no Ensino de Ciências por discutir os desafios e potencialidades da área no contexto de uma formação para a cidadania plena. Vale saber que o artigo conta com uma discussão bastante útil e descritiva de 5 áreas temáticas de Ciências que podem - e devem - ser atravessadas pela discussão racial.

3. “A Bioquímica do Candomblé – Possibilidades Didáticas de Aplicação da Lei Federal 10639/03 é um artigo publicado em 2011 na revista Química Nova na Escola por Patrícia Moreira, Guimes Rodrigues Filho, Roberta Fusconi e Daniela Jacobucci. A partir da composição química da noz-de-cola, o texto aborda o candomblé como manifestação cultural negra e discute o fruto tanto no ritual religioso quanto na composição de um famoso refrigerante.

4. A partir da mobilização do conceito sociológico de “alterização”, o texto “Baartman, Lacks e o corpo da mulher negra como paradigma de alteridade na história da biologia - apresentado no 15º Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia, em 2016, por Ayane Paiva, Claudia Sepulveda, Hemilly Souza e Juan Arteaga (IHAC)) - apresenta como as reflexões sobre as histórias de Henrietta Lacks e de Sartjie (ou Sarah) Baartman podem ser utilizadas para contemplar uma série de demandas contemporâneas do ensino de ciências e de biologia, dentre elas o combate ao racismo e o preparo dos estudantes para a ação sociopolítica. As autoras também apontam cuidados a serem observados por aqueles que se propuserem a tratar do assunto.

5. O artigo “Organização Curricular Afrocentrada: O Afrofuturismo como Abordagem no Ensino de Físicafoi publicado em 2021 na Revista Com Censo por Matheus Laercio de Jesus Silva e aborda como o Ensino de Física pode se beneficiar da utilização de sub gêneros textuais do Afrofuturismo, buscando um Ensino de Física que satisfaça demandas antirracistas.

6. Já o artigo “Uma sequência didática para discutir as relações étnico-raciais (Leis 10.639/03 e 11.645/08) na educação científica” é de 2018 e encontra-se no volume 35 do Caderno Brasileiro de Ensino de Física tendo como autores Alan Alves Brito, Vitor Bootz, Neusa Massoni. Ele se apresenta como um possível material didático para a aplicação de sequências didáticas envolvendo Astronomia e ERER e, ao longo do texto, são debatidas diversas questões que interseccionam os assuntos apresentados acima. Além disso, ao seu final, são apresentados Momentos Didáticos para servirem como guia do que pode ser construído na sala de aula.  

Sabemos que o combate ao racismo na educação têm tido certa dificuldade para chegar aos professores de Ciências das redes públicas e privadas de ensino. Por estarmos comprometidos com uma sociedade mais justa e democrática, esperamos que essa breve lista possa ser um início para que o ensino antirracista nas Ciências da Natureza componha a estrutura do pensamento de professoras e professores que são fundamentais na formação da juventude deste país.