Como a psicologia pode agir urgentemente para combater a mudança climática e seus impactos? Sobre a contribuição psicológica para o ODS 13

Em um mundo ameaçado por problemas como pobreza no trabalho, desigualdade de renda, injustiça racial, violações dos direitos humanos, instabilidades políticas, desigualdades de gênero, pandemias e escassez de água, alimentos e moradia, o isolamento acadêmico é uma vaidade que nenhum de nós pode se permitir. Isso é especialmente verdadeiro à medida que a mudança climática ameaça agravar alguns desses problemas. Como uma questão global urgente, a mudança climática representa desafios significativos para o bem-estar de indivíduos e comunidades em todo o mundo: o aumento das temperaturas e eventos climáticos extremos causam uma série de impactos ambientais, como elevação do nível do mar, perda de biodiversidade e perturbações nos ecossistemas. Ao mesmo tempo, isso gera distúrbios sociais – incluindo escassez de alimentos e água, deslocamentos e agitações – e agrava efeitos psicológicos – manifestando-se como ansiedade, depressão e trauma entre as populações afetadas.

Para enfrentar esses desafios multifacetados, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), adotados pelas Nações Unidas, e sua Agenda Comum (consulte https://sdgs.un.org/goals ou https://www.un.org/en/common-agenda) fornecem um quadro abrangente para abordar a questão, incluindo aspectos sociais, econômicos e ambientais da mudança climática e outras preocupações globais, reconhecendo sua interdependência. O ODS 13 enfatiza explicitamente a necessidade de “tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos”, considerando uma série de transformações: impacto dos diferentes cenários de temperatura nos recifes de coral, elevação do nível do mar de 30 a 60 cm até 2100, estimativa de 700 milhões de pessoas deslocadas devido à seca até 2030, aumento de 40% em desastres de médio a grande porte até 2030, aumento de 6% nas emissões de CO2. Compreender a natureza multidimensional da mudança climática através da perspectiva dos ODS é crucial para desenvolver abordagens eficazes e holísticas para o problema.

Além desse quadro abrangente fornecido pelos ODS, é imperativo reconhecer o papel vital dos psicólogos nas discussões sobre ação climática. À medida que os impactos da mudança climática se estendem além dos domínios ambiental e físico, abrangendo aspectos psicológicos e sociais, a expertise de profissionais da psicologia torna-se crucial para compreender e enfrentar essas complexidades. A psicologia produziu conhecimentos valiosos sobre os efeitos psicológicos e emocionais da mudança climática em indivíduos e comunidades, promovendo o bem-estar mental diante dos desafios relacionados ao clima e estimulando comportamentos adaptativos e resiliência. Ao integrar perspectivas psicológicas nas discussões sobre ação climática, pode-se desenvolver uma abordagem mais holística, que considere as dimensões humanas do problema juntamente com os aspectos ambientais e econômicos.

Esta chamada de propostas foi elaborada considerando essas necessidades. Ela faz parte de um número especial global sobre os ODS e Psicologia, que se concentra em como profissionais da área, seja na pesquisa ou em atuação, podem contribuir para mitigar os impactos climáticos. A Psicologia USP foi convidada a contribuir para esse número especial, focando no ODS 13: tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos. O objetivo é enfatizar a importância de compreender as dimensões psicológicas da mudança climática e como as intervenções psicológicas podem contribuir para soluções sustentáveis em diferentes áreas:

• Barreiras psicológicas que impedem as pessoas de adotar comportamentos pró-ambientais, como negação da mudança climática, resistência à ideia de mudança climática e inércia.

• Ação coletiva e adoção de comportamentos sustentáveis dentro das comunidades, o que pode facilitar a disseminação de práticas ecologicamente corretas e criar uma cultura de sustentabilidade.

• Intervenções para aumentar a resiliência climática e a capacidade de adaptação, promovendo estratégias de enfrentamento e bem-estar psicológico.

• Estratégias eficazes de comunicação e mensagens para conscientização e promoção de ações sustentáveis.

• Colaboração e abordagens interdisciplinares, uma vez que a mudança climática é uma questão complexa que requer respostas multifacetadas.

Embora essas áreas sejam amplas, as propostas não precisam se limitar a elas, e manuscritos que incluam conteúdo inovador são bem-vindos. Os textos devem ser produzidos de acordo com as seguintes regras:

• Enviar uma descrição de uma página, espaçamento simples, do manuscrito proposto para os editores convidados até 31 de dezembro de 2023. Por favor, envie os anexos em português ou inglês, formato Word, para: gustavomassola@usp.br e mario.martins@ufscar.br

• Os autores e as autoras que tiverem seus textos selecionados serão contatados até 10 de fevereiro de 2024 e convidados e convidadas a desenvolver seus manuscritos.

• Os manuscritos concluídos devem ser enviados até 30 de julho de 2024 para análise.

• Os manuscritos devem ser preparados de acordo com as diretrizes da Psicologia USP (https://www.revistas.usp.br/psicousp/onlinesubmissions) e indicar adesão a esta edição especial na carta de apresentação. Apenas manuscritos em português e inglês são aceitos.

A proposta editorial da Revista Psicologia USP vem ao encontro das tendências contemporâneas de integração e complementaridade, cada dia mais presentes nas ciências humanas. Esta tendência leva em conta a vocação da Psicologia para a diversidade e para a articulação de áreas e conhecimentos. Se o homem pode ser visto como máquina biológica complexa ele é, no entanto, fabricante de cultura e de símbolos, criador de história. A Revista Psicologia USP vem procurando atender às diferentes concepções expressas por aquela duplicidade, publicando artigos que refletem o amplo espectro de preocupações atuais dos pesquisadores sem, contudo, ficar ausente dos debates mais significativos que se travam nas áreas de fronteira das ciências humanas e biológicas. Tendo em vista essa finalidade mais ampla, a revista vem publicando artigos de reflexão e ensaios quer em números temáticos, quer sob a forma de núcleos temáticos e artigos diversos, dando ênfase a tópicos clássicos da Psicologia.

Esta chamada enfatiza a urgência de abordar a mudança climática e seus impactos através da perspectiva da psicologia. Os editores convidam psicólogos, pesquisadores e profissionais a enviarem suas propostas e contribuírem para o Número Especial Global sobre ODS e Psicologia por meio de pesquisas empíricas, estruturas teóricas, estudos de caso e intervenções práticas. Ao fazê-lo, espera-se descobrir estratégias inovadoras que promovam comportamentos pró-ambientais, estimulem o envolvimento comunitário, aprimorem a resiliência e comuniquem efetivamente a importância da ação climática.