Demência pode afetar psicologicamente todo o núcleo familiar de um paciente

Segundo especialistas, o acompanhamento psicológico pode ajudar a família a melhor compreender os sintomas da doença e cuidar do doente sem se estressar

Apesar de ser uma síndrome comum, algumas dúvidas sobre a demência se apresentam de forma frequente – Foto: Freepik

A demência é classificada como uma síndrome que causa, entre diferentes ocorrências, o prejuízo da memória, problemas de comportamento e perda de habilidades. Essas características podem avançar em diferentes níveis e apresentam-se de formas diversas em cada um dos pacientes.

Atualmente, cerca de 57 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem com algum tipo de demência e existem pesquisas que estipulam que esse número triplique até 2050 em decorrência do avanço do envelhecimento populacional. Além disso, segundo a Organização Mundial da Saúde, a síndrome costuma afetar mais mulheres que homens.

Quando os portadores de demência começam a adoecer, é comum que os familiares passem a acompanhar esses indivíduos, já que a necessidade de ajuda para a realização de atividades comuns passa a fazer parte da rotina da maioria dessas pessoas. Considerando esse cenário, é interessante notar que, na maioria dos casos, a família também passa a ter novas necessidades e o auxílio psicológico parece ser essencial para a compreensão de sentimentos e emoções que envolvem esse processo.

Família

Katia Cherix, doutora em Psicologia Experimental pelo Instituto de Psicologia da USP, considera o apoio psicológico para pessoas diagnosticadas com Alzheimer e seus familiares essencial. O psicólogo deve passar a auxiliar esses indivíduos desde o momento do diagnóstico, contudo, algumas famílias passam por um processo de negação após o aparecimento dos primeiros sintomas, evitando até mesmo levar o paciente ao médico geriatra.

“No momento do diagnóstico, um acompanhamento psicológico pode ajudar a família a melhor compreender os sintomas da doença e cuidar do doente sem se estressar”, explica Katia. Ela também adiciona que o psicólogo auxilia esses indivíduos a atravessarem o “luto branco”, ou seja, com o avanço da doença, o cuidador passa por um processo delicado ao sentir que o seu familiar está passando por uma transformação.

É interessante notar que esse profissional pode também auxiliar o familiar a entender emoções contraditórias, como o medo de perder a pessoa que ama e a aceitação de mudança desse indivíduo ou o cansaço pelo cuidado diário e alívio de poder retribuir o cuidado que foi recebido anteriormente.

Além desses fatores, nota-se que os cuidadores passam por outras dificuldades durante esse processo, sendo uma das primeiras o empecilho financeiro. “Com o aumento da dependência ligada à progressão da doença, o sistema de cuidadores 24 horas terá que ser colocado em prática”, comenta a especialista. Em alguns casos em que a demência apresenta maior avanço, o familiar terá que escolher uma instituição especializada para oferecer maior qualidade de vida ao paciente. É nesse momento que muitos cuidadores passam a procurar o cuidado psicológico, buscando entender a institucionalização do idoso como um ato de cuidado, não abandono.

A sobrecarga de trabalho é outro fator que afeta diretamente os familiares, uma vez que cuidar de um paciente significa também cuidar de sua casa, alimentação, roupas, entre outras preocupações do dia a dia. Katia explica que esse fator implica mais trabalho e cansaço e menos trabalho para cuidar de si mesmo, assim, muitos cuidadores experimentam um burnout, ou seja, o resultado de um acúmulo de estresse que pode levar à depressão, insônia e irritabilidade.

Por fim, observa-se que o acompanhamento psicológico é essencial para os próprios pacientes, já que, na fase inicial, o profissional pode auxiliar na compreensão da doença, no aprendizado para lidar com os sintomas e no controle emocional da sensação de tristeza. Segundo a especialista, “o paciente também pode ser acompanhado por uma neuropsicóloga que proponha atividades e exercícios para manter as capacidades cognitivas por mais tempo”.

A demência

Apesar de ser uma síndrome comum, algumas dúvidas sobre a demência se apresentam de forma frequente. O professor Ricardo Nitrini, coordenador do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica que os principais fatores para o desenvolvimento dessa condição estão associados ao envelhecimento e ao fator genético. Sendo interessante notar que alguns fatores ambientais também apresentam influência nesse processo, como a existência de doença cerebrovascular, hipertensão arterial e diabete.

Nitrini explica que, para evitar o desenvolvimento de demência, é importante que o indivíduo se esforce para manter uma vida saudável. “É muito importante ter atividade física e o controle geral de uma saúde adequada, com uma alimentação saudável, por exemplo. Também é interessante o indivíduo se manter ativo intelectualmente, lendo, estudando e fazendo outras atividades”, aconselha o especialista.

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Originalmente divulgado no Jornal da USP