A doutoranda Fernanda Araujo Cabral, com orientação do Prof. Dr. José Leon Crochík, buscou em sua teses investigar o potencial de desenvolvimento do preconceito em crianças pequenas.
Em entrevista para o IPComunica, Cabral contou que a motivação para o projeto surgiu após a finalização de seu Mestrado, que teve foco na relação estabelecida entre crianças com e sem deficiência na sala de aula. A pesquisadora decidiu então continuar seus estudos em sua área de atuação profissional, as crianças, em associação com a linha teórica que norteia sua pesquisa: o preconceito a partir do referencial da Teoria Crítica da Sociedade.
Segundo a doutoranda, o instrumento da pesquisa foi desenvolvido com base na escala F elaborada por Adorno, Brunswik, Levinson e Sanford (1965) na pesquisa “Personalidade autoritária”, elaborada como um dos instrumentos para investigar, de maneira indireta, o potencial de adesão ao autoritarismo dos indivíduos pesquisados por meio de 29 perguntas dispostas na escala. Para sua tese, entretanto, a escala F foi adaptada de modo a identificar tais elementos com base em situações problema propostas nos momentos do brincar. “Para avaliar as respostas dadas pelas crianças, primeiro foi realizado um pré teste e com ele elenquei as possíveis repostas dadas pelas crianças nas situações problema. Depois elaborei uma escala de pontuação do que seria considerado menos preconceituoso para o mais preconceituoso e submeti ao julgamento de três juízes (psicólogos). Com base nas respostas dos juízes elaborei uma a escala de padrão de respostas que indicariam maior ou menor tendência à manifestação do preconceito”, explica Cabral.
Visando a ludicidade e uma linguagem acessível à crianças de 3 e 4 anos, foram feitos bonecos que representassem adultos e crianças com características de pessoas negras, brancas, com deficiência física representada pelo uso da muleta e sem a deficiência física. Esses bonecos foram apresentados de forma livre à crianças de uma instituição privada para que a pesquisadora pudesse observar a interação e a respostas das mesmas às situações problema propostas. Além disso, as crianças foram divididas em dois grupos: GRUPO AD – crianças sem contato na sala de aula com pessoas que representam a diversidade de cor de pele e de deficiências / GRUPO BC – crianças com contato na sala de aula com pessoas que representam a diversidade de cor de pele e de deficiências.
Os resultados do experimento apontaram, segundo Cabral, que as crianças com idade entre 3-4 anos já reconhecem as diferenças, porém ainda não manifestam atitudes que remetem à exclusão ou ao preconceito com as mesmas. Notou-se, ainda, que os grupos que tiveram maiores diferenças entre si em seu padrão de respostas foram justamente formados pelas turmas B e C, ou seja, as turmas que convivem com crianças com deficiência em sua sala de aula, o que mostra que a presença de respostas que denotem um menor índice de preconceito não pode ser justificada pela presença de diversidade nas salas de aula.
A pesquisadora observa, porém, que a instituição era voltada para inclusão, o que pode interferir nos resultados e afirma ser necessária uma ampliação da pesquisa para diferentes instituições imersas em diferentes condições socioculturais para sistematizar os dados de que crianças entre 3 à 4 anos ainda não apresentam comportamentos que denotem situações de preconceito.
“Entendo que seria interessante ampliar o número de crianças pesquisadas para que possamos estabelecer se a idade entre 3 e 4 anos é uma idade ótima para se intervir com as crianças com vista a minimizar os efeitos do preconceito e até mesmo sistematizar o instrumento como forma de avaliar o potencial de adesão ao preconceito em crianças pequenas”
Para Cabral, uma das mais importantes contribuições deste projeto foi a elaboração de um instrumento que permite avaliar o preconceito em crianças utilizando a linguagem do lúdico pois, segundo a própria pesquisadora, o brincar é a forma de comunicação e de compreensão das situações cotidianas vividas por elas.
Por Fernanda Giacomassi
Edição e revisão por Islaine Maciel e Maria Isabel da Silva Leme