Saúde mental durante a pandemia, por Christian Dunker

 

Ficaremos confinados, mas não loucos ou alienados. Pelo contrário, talvez sejam momentos para a introspecção e de esclarecimento coletivo.

Entrevista com Christian Dunker, psicanalista, professor titular do Instituto de Psicologia da USP, e autor de diversas obras, como “Estrutura e Constituição da Clínica Psicanalítica” – vencedor do Prêmio Jabuti na categoria de melhor livro em Psicologia e Psicanalítica” – vencedor do Prêmio Jabuti na categoria de melhor livro em Psicologia e Psicanálise de 2012 -, e “O Palhaço e o psicanalista”, ao lado de Cláudio Thebas, sobre como escutar os outros pode transformar vidas.

 

Possivelmente entraremos em confinamento total, como na Itália. Como o confinamento/isolamento afeta nosso psicológico?

O confinamento é uma experiência psíquica desafiante, pois aprendemos desde cedo que ele é uma forma de punição: “vá pensar no seu quarto” ou pior “vá para a prisão”. A ideia de não poder sair de casa é potencialmente ansiogênica, ela convoca a capacidade do indivíduo de “se acalmar”. Notícias, informações e cuidados podem nos acalmar desde fora, mas a angústia que a solidão causa, exige que nos pacifiquemos desde dentro.

Se você está exagerando na compulsão por notícias ou no estoque de álcool gel, verifique se não está tentado pular o trabalho de “se acalmar”. Ler, meditar, conversar livremente, escrever são práticas que ajudam para isso.

 

No geral, como esse cenário apocalíptico é sentido pela sociedade?

Como um estado de exceção, um parênteses na vida, exatamente como quando estamos doentes. Só que desta vez estamos doentes coletivamente. Nesta situação nos tornamos mais egoístas ou mais sensíveis. É um momento que exige tolerância com os outros e principalmente consigo mesmo. Situações de perturbação da ordem e da rotina, com alta indeterminação ativam nossos complexos regressivos. Posemos simplesmente negar a situação, colocando a cabeça dentro da terra, podemos inventar conspirações delirantes de modo a nos garantirmos que no fundo há “um sentido maior nisso”. Podemos nos sentir desamparados, abandonados, como se nossos protetores tivessem tirado férias.

 

E por último, podemos aprender ou colher algo positivo da situação?

Sim! É momento de criar solução juntos. Aumentar nossa solidariedade, particularmente com os grupos mais vulneráveis. Penso que será uma dose cavalar de vitamina h que está faltando ao Brasil, ou seja menos potência de controle, arrogância e grandiosidade e mais humildade diant3e da vida e dos pequenos microorganismos que podem nos derrubar.

 

Por Isabella Marzolla, Para o jornal O Estado de São Paulo.

Originalmente publicado em: https://brasil.estadao.com.br/blogs/inconsciente-coletivo/saude-mental-durante-a-pandemia-por-christian-dunker/