Como o IP lida com gênero

Quando o estudante faz parte de uma minoria social, como é o caso dos LGBTs, não são poucas as vezes em que ele se sente desamparado e/ou oprimido com o posicionamento político tomado pela instituição de ensino na qual ingressou.

A explosão de emoções que um calouro sente ao entrar na universidade nem sempre se resume à empolgação e alegria. Quando o estudante faz parte de uma minoria social, como é o caso dos LGBTs, não são poucas as vezes em que ele se sente desamparado e/ou oprimido com o posicionamento político tomado pela instituição de ensino na qual ingressou. Com vistas a melhorar a recepção e a permanência de exemplos como esses, o IPUSP vêm desenvolvendo medidas reparativas que respeitem a diversidade sexual e a identidade de gênero, tentando amenizar injustiças historicamente impostas a essa comunidade.

Antes da implementação dessas ações, no entanto, foi preciso a luta e o empenho dos próprios alunos, como no evento conhecido como “ato: os banheiros da universidade são para todxs”. A partir, então, da visibilização da condição de resistência e desamparo enfrentada por eles, o IP e os coletivos sociais da unidade deram início a uma tentativa de solução de conflitos.

Logo na semana de recepção de calouros, algumas atividades foram feitas nesse sentido. Como as ocorridas agora em 2016, em que o Coletivo LGBT da Psico propôs uma reflexão coletiva sobre a experiência social dos LGBTs, incluindo-se aí a problematização da LGBTfobia sofrida por eles; e o Coletivo Feminista da Psico realizou um convite à reflexão sobre a questão da mulher na sociedade atual, dando enfoque ao acolhimento das calouras e à discussão sobre a violência de gênero.

Além da iniciativa estudantil, o IPUSP tem se esforçado para garantir, nos meios legais, os direitos sensatamente exigidos pela comunidadeLGBT. A exemplo disso, foi solicitada a aprovação para fazer valer no Instituto a minuta de uma portaria interna, criada em 13 de janeiro de 2016, que “dispõe sobre o reconhecimento institucional da identidade de gênero e sua operacionalização no âmbito do Instituto de Psicologia”. O objetivo dessa portaria é a regulamentação da identificação dos banheiros de acordo com a identidade de gênero.

Esse item é especialmente importante, pois envolve uma complicada situação
vivida no IP. Não fosse esse episódio de discriminação experienciado por uma aluna trans do Instituto, que foi impedida por funcionários de usar o banheiro feminino, possivelmente não haveria a evidenciação da fragilidade do tratamento reservado aos LGBTs, principalmente às pessoas trans, mesmo dentro de uma universidade – espaço que se propõe a discutir paradigmas e romper dogmas em prol de uma revolução científica. O evento motivou a recomendação de que fosse fornecida instrução e formação adequadas aos funcionários.

A ideia da proposta, que foi elaborada pela própria vítima do episódio, em conjunto com o Coletivo LGBT da Psico, é, a partir de uma espécie de comissão, organizar grupos de conversa que promovam discussões e dinâmicas, de maneira respeitosa e consciente, para oferecer aos funcionários (in)formação. Este projeto já passou pela diretoria do IP e chegou às mãos da procuradoria geral da Universidade de São Paulo, onde, agora, aguarda validação.

Desde 2015, muitos eventos relacionados a gênero e sexualidade também foram promovidos pelo IPUSP. O debate continua aberto, objetivando um constante aprimoramento das relações no Instituto, especialmente no que concerne às questões de gênero e sexualidade.

Obviamente, ainda há muito por se realizar. A igualdade de direitos, mesmo
dentro do IP, até hoje não foi plenamente alcançada. Mas esses já são os primeiros passos para elucidar as críticas de que o ensino e apoio acadêmico permanecem carecendo de responsabilidade na formação adequada dos alunos que, quando já formados, se depararão com pacientes da comunidade LGBT.

Por Anátale Garcia e Aryanna Oliveira
Edição e revisão por Islaine Maciel e Maria Isabel da Silva Leme

 

Clique nas imagens para folhear as revistas psico.usp

Alfabetização – 2015, n. 1

É hora de falar sobre Gênero – 2016, n.2/3

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