Ataques em escolas – Uma questão criminológica

Nas últimas semanas, casos de ataques mortais em escolas pautaram o noticiário. Perguntas como “Por que isso acontece?”, “Como noticiar?”, “Como evitar novos casos?” foram muito repetidas. Um ponto, contudo, chamou especial atenção do público: a não divulgação da identidade do agressor. A medida de não revelar o nome do autor de um crime chocante é uma orientação internacional há alguns anos. Agora, passa a ser adotada no Brasil.

Criminólogos ressaltam que não é necessário entrar na Deepweb para encontrar postagens enaltecendo os feitos de ataques massivos. Ao contrário, há abundante conteúdo de certa idolatria aos criminosos em redes sociais. Esse “conteúdo aberto” funciona como uma forma de captação de jovens que se interessam pelo tema. Captados, vão para fóruns ocultos, evitando rastreamento.

Sendo a admiração, ou a busca por algum tipo de glória, de acordo com especialistas, o que esses grupos buscam, a divulgação de nomes e de detalhes do ataque pode funcionar como um instrumento para, nos meios extremistas, tornar o autor do ataque uma espécie de celebridade. Ademais, ao se falar em “efeito contágio” – isto é, possibilidade de novos ataques “imitando” um atentado “célebre” – deve-se ter em mente que o “imitador”, muito provavelmente, não presenciou o “ataque inspirador”; todas as informações que podem servir de modelo para um comportamento imitador são fornecidas pela mídia. E há estudos que indicam que a mídia pode influenciar imitações. Daí a necessidade de se rever as formas de noticiar certos eventos.

Já há orientações acerca de como se deve fazer a cobertura de ataques, a fim de reduzir um eventual “efeito contágio”. Uma primeira orientação é a de apresentar as ações do agressor de uma forma negativa. Preparação, planejamento e ato são condutas que devem ser representadas de forma “vergonhosa” ou “covarde”. Em segundo lugar, embora seja muito importante compreender os motivos de um ataque em massa, noticiar análises mais profundas sobre o processo de racionalização do agressor (por exemplo, dizer que “após anos de bullying, a pessoa se vingou”) pode ter um efeito deletério: aumenta-se a probabilidade de que alguns encontrem semelhanças entre suas próprias circunstâncias com a história do autor do atentado. Em terceiro lugar, recomenda-se a redução da duração geral da cobertura midiática, visto que esta pode ser compreendida em determinados fóruns como uma espécie de recompensa, já que se confere certa notoriedade ao autor do crime. Complementarmente, há recomendações para que não haja cobertura “ao vivo”, logo após o ataque: seria uma forma de minimizar o interesse no evento, bem como reduzir a “percepção de recompensa” por parte de admiradores (e possíveis copiadores). Por fim, há a máxima de quanto menos o comportamento criminoso for descrito, menor a possibilidade de que seja imitado. Por isso, a mídia deve evitar coberturas sensacionalistas, com descrições gráficas das tragédias.

Sugestões de leitura

BORUM, Randy; CORNELL, Dewey G.; MODZELESKI, William; JIMERSON, Shane. What Can Be Done About School Shootings? A Review of the Evidence. Educational Researcher. vol.39, n.1, 2010.

MEINDL, James N.; IVY, Jonathan W. Mass Shootings: The Role of the Media in Promoting Generalized Imitation. American Journal of Public Health. vol.107, n.3, 2017.

MORI, Letícia; LEMOS, Vinícius. A idolatria a autores de ataques a escolas que circula livremente em redes sociais. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cgr15664953o (Fonte da imagem destacada).

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