Oficina de composteira e minhocário: ação de um Clube de Biologia em uma escola de Santa Catarina

As minhocas ajudam na decomposição de resíduos sólidos orgânicos em composteiras domésticas, onde são misturadas com terra, restos de alimentos e material seco, como serragem ou folhas secas. (Fonte: Canva Education)

O relato de experiência de um projeto de extensão do Instituto Federal do Paraná aponta possibilidades de como discutir ciências e a destinação adequada de resíduos sólidos com crianças.

 

06 de agosto de 2021 | 19:00

Equipe Editorial BALBÚRDIA e colaboração com Clube “Meninas nas Exatas”

Com base na indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, para além do compromisso como o projeto de divulgação científica de pesquisas na área de Ensino de Ciências, a Equipe Editorial da BALBÚRDIA também valoriza outras ações de extensão que contribuam para uma maior aproximação entre os diferentes setores da sociedade e as universidades. Com esse intuito, no mês de julho de 2021 conduzimos, junto ao projeto de extensão “Meninas nas Exatas: no Vale elas fazem ciência” a I Oficina de Divulgação Científica e Ciência. Encabeçado pela professora Maria Tereza Fabbro, o Clube de Ciências “Meninas nas Exatas”, desenvolvido no Instituto Federal de São Paulo – Campus São José dos Campos (IFSP-SJC) realiza oficinas e rodas de conversas com diferentes pesquisadoras(es) e outros projetos com objetivo de promover a divulgação e difusão de uma ciência mais diversificada e representativa do gênero.

Na ocasião, a oficina realizada pela Equipe Editorial da BALBÚRDIA foi desenvolvida a partir de considerações das clubistas que evidenciaram, por meio de um formulário aplicado anteriormente, o interesse em discutir tópicos relacionados a como é estudar em uma universidade pública, e o que são e como são feitas pesquisas na área do Ensino de Ciências. Aproveitando o ensejo, com uma duração de duas horas, e de forma remota, as co-editoras Luciene Fernanda e Natália Quinquiolo conduziram uma discussão que compreendeu o funcionamento das universidades, as representações de ciência e cientistas das clubistas, e o papel da divulgação científica. Como produto dessa ação, vocês podem conferir neste número da Revista BALBÚRDIA, o texto de divulgação científica “Oficina de composteira e minhocário: ação de um Clube de Biologia em uma escola de Santa Catarina” produzido a partir de uma collab entre os editores da revista e as clubistas.

Gostaríamos de agradecer novamente a professora Maria Tereza pelo convite, e aos editores por um dia (Caroline da Silva Firmiano, Júlia Emanuelle da Silva Alves, Maysa Rosângela Ferreira Cardoso, Ana Giúlia Costa, Calvin Santos, Sarah Valim dos Santos). Nosso muito obrigado!!

Ficou interessado no projeto “Meninas nas Exatas: no vale elas fazem ciência”? Acompanhe suas ações pelo perfil do Instagram @meninasnasexatassjc

A construção de novas metodologias de ensino que auxiliam no desenvolvimento social dos estudantes tem se mostrado imprescindível para abordar temas de importância para a sociedade e para a compreensão de conceitos e temas estudados pela Ciência. Além disso, por que não unir a discussão e aprendizagem desses temas com atividades lúdicas e que convidem os estudantes a “botar a mão na massa”? É isso o que o projeto de extensão “Clube de Biologia – Novos Caminhos para a Aprendizagem” desenvolvido no campus Paranaguá do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná (IFPR) propõe. O projeto atende alunos de cursos técnicos do campus e externos, de outras escolas. Orientado pelas professoras Heloísa Fernandes e Fernanda Sezerino, o grupo de alunos do Curso Técnico em Meio Ambiente (composto por Davi de Paula, Natalia Schmitz, Aline Silva e Maria Antonia), escreveu sobre os resultados que obtiveram da primeira oficina temática realizada pelo Clube de Biologia em 2020.

 

Formação crítica através do lúdico e da Educação Ambiental

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9394/96, coloca como finalidades da educação básica (formada pelas etapas de educação infantil, fundamental e médio) assegurar o desenvolvimento para o exercício da cidadania e fornecer aos estudantes meios para progredir em atividades profissionais e em seus estudos (nível do ensino superior). O projeto de extensão “Clube de Biologia” do IFPR, campus Paranaguá colabora para esse processo. Através das atividades desenvolvidas, os alunos têm a possibilidade de ampliar o entendimento sobre os mundos natural e social e expressar suas opiniões, formando-se como cidadãos críticos. 

O desenvolvimento de atividades lúdicas organizadas a partir de temáticas atuais e relacionadas com a Educação Ambiental contribui para a formação crítica dos alunos. É uma proposta de ensino que vai além da abordagem dos conhecimentos científicos, já que contempla discussões sobre sustentabilidade, preservação e conservação da natureza, e, assim, dá ênfase à formação para a cidadania preconizada na LDB. O tema selecionado pelo projeto para a realização da oficina envolveu a questão da destinação dos resíduos sólidos que são, segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos, qualquer “material, substância, objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade” (BRASIL, 2010, art. 3º, inciso XVI). 

 

Oficina: minhocas, micro-organismos e matéria orgânica!

O que minhocas e micro-organismos teriam a ver com a destinação adequada de resíduos sólidos, mais especificamente de matéria orgânica? As respostas a essa pergunta, entre tantas outras, foram aprendidas pelos alunos do 3º ao 5º ano da Escola Municipal CAIC Irmã Joaquina Busarello (localizada em São Francisco do Sul/SC), que participaram da oficina proposta pelo Clube de Biologia por um grupo de estudantes voluntários do curso técnico em Meio Ambiente.

Os estudantes voluntários iniciaram a discussão falando sobre a problemática de resíduos sólidos e as consequências enfrentadas pelo descarte incorreto. Os assuntos foram discutidos utilizando linguagem didática e dinâmica adaptada ao público-alvo, além de alguns vídeos educativos. Foram abordadas: as questões relacionadas aos lixões, a capacidade suporte dos aterros sanitários, reciclagem e reutilização dos resíduos sólidos, a conscientização sobre o quanto o lixo marinho é prejudicial aos animais que vivem nos oceanos. Em seguida, a discussão se concentrou nos resíduos orgânicos, compostagem e minhocário. De forma bem simplificada: a compostagem, processo de decomposição dos resíduos orgânicos realizado pelas minhocas e micro-organismos em minhocários/composteiras, ajuda na diminuição do descarte desses resíduos no lixo comum.

Assim, os alunos da escola municipal aprenderam sobre como funciona uma composteira doméstica. Um ponto essencial desse funcionamento é observar a relação nitrogênio (matéria orgânica, como restos de frutas) e carbono (serragem ou folhas secas) da composteira. É importante que os materiais sejam dispostos em camadas como em um hambúrguer – uma analogia utilizada pelos próprios oficineiros para ensinarem às crianças. Por último, e não menos importante, todos os alunos participantes construíram uma composteira caseira a partir de potes de plástico.

Todo o processo foi conduzido com base em muito diálogo. Através disso, pôde-se avaliar inicialmente o que os alunos participantes já sabiam sobre os temas ambientais abordados; e depois, na parte de montagem das composteiras, pôde-se perceber o entendimento deles sobre o funcionamento da compostagem. 

 

Não queria que essa oficina acabasse nunca!”

Essa foi uma das falas dos alunos da escola municipal destacada pelos autores do relato de experiência. Ela mostra o engajamento dos alunos da educação básica. Um ponto muito importante, já que se aprende mais quando se está envolvido com uma atividade lúdica e prazerosa! 

Os autores ressaltam a importância do uso das atividades lúdicas como as propostas na oficina desenvolvida pelo Clube de Biologia, para trabalhar “temas específicos da Biologia de maneira transversal, interdisciplinar, diversificada e dinamizada” (PAULA, et al., 2020, p. 58). Esse relato traz à nossa reflexão: O quanto este tipo de atividade está presente em nossas escolas? O que podemos fazer para torná-las mais presentes no cotidiano das nossas turmas? Às vezes não é preciso muito: algumas minhocas, cascas de banana e restos de legumes, folhas secas e pote de sorvete.

 

Ficou curiosa(o) para ler o relato de experiência na íntegra? Acesse o relato original e outras referências relacionadas ao tema!

BRASIL. Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm>. Acesso em: 02 ago 2021.

PAULA, Davi de; et al. Compostagem e minhocário: um relato de experiência da atuação do Clube da Biologia com alunos do ensino fundamental. Revista Ciência é minha praia, v. 8, n. 1, p. 49-59, 2020.