Os culpados pelo fracasso social

Pesquisa do IPUSP mostra preconceito em discurso sobre “vadios”  que moram na Praça da Sé

A máxima do “trabalho edificar o homem” prossegue gerando frutos. O problema é que, segundo o senso comum, alguns deles nascem podres e devem ser descartados. Pelo menos é esse o discurso do brasileiro comum com o qual Beatriz Ferraz Diniz se deparou quando escreveu sua dissertação de mestrado, intitulada: “Tem gente que não quer trabalhar: apontamentos sobre o discurso da vadiagem na Praça da Sé”, defendida no IPUSP, pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social.

Uma das principais ideias que gere este pensamento e pôde ser explicitada por Diniz foi o caráter culpabilizador e estigmatizador, definindo quem pode permanecer nos espaços públicos – como a praça da Sé, onde a pesquisa da autora foi realizada, por exemplo – e quais tarefas podem ser exercidas.

Nesse sentido, o ideário negativo que permanece na mente desses “cidadãos de bem” continua ditando regras preconceituosas, como qual deve ser o tratamento dado às pessoas que ocupam tais espaços. E, como já era de se esperar, as populações que majoritariamente ocupam esses locais são homens negros e pobres. O que surpreende, no entanto, é que, ao contrário do que se pensa, nenhum deles estava à mercê da “vadiagem”. Todos exerciam algum tipo de atividade.

A questão é que o trabalho informal, famigerado “bico”, está sob o mesmo invólucro pejorativo que a ausência de trabalho. Ou seja, essas pessoas, mesmo trabalhando, continuavam sendo consideradas como pilantras ou malandros, desocupados aptos ao trabalho que escolheram, por livre e espontânea vontade, não fazê-lo.

Degradação, vergonha e perigo acabam sendo, portanto, alguns dos sentimentos que rondam o imaginário social brasileiro. Relacionados a estratégias de culpabilização, então, eles definem os indivíduos presentes nos espaços públicos como um antro de fracasso e acomodação. E com toda essa feição negativa associada a essas pessoas, resta-lhes apenas a instabilidade, a precariedade e a violência policial, o que não causa senão a efetivação da exclusão social.

 

Por Anátale Viana Garcia
Edição e revisão por Islaine Maciel

VOCÊ PODE GOSTAR ...