A ligação entre espaços formais e não-formais de Educação através do Ensino de Botânica

Uma das atrações do Museu DICA, espaço não-formal de educação que foi foco da pesquisa indicada no texto, onde estudantes e professores realizam a atividade proposta junto aos monitores do museu. Fonte: https://www.facebook.com/pg/MuseuDiversaoComCienciaEArteDica/

Como professoras de Ciências e suas concepções sobre os espaços não-formais de Educação podem contribuir positivamente para o Ensino de Botânica.

 

29 de junho de 2020 | 19:41

Marilia de Freitas Silva é Bacharela e Licenciada em Biologia pela USP. Realizou sua Iniciação Científica em Fisiologia Vegetal nos primeiros anos da Graduação, mas decidiu seguir sua carreira na área da Educação. Atualmente é Mestranda em Ensino de Ciências com projeto voltado para a Formação de Professores na modalidade EaD com foco no Ensino de Botânica, desenvolvido no grupo de pesquisa Botânica na Educação (Boted) do Instituto de Biociências da USP. Além do mestrado, atua como Professora de Ciências de Ensino Fundamental II na Rede Pública Municipal de São Paulo desde 2018.

O ensino de Ciências pode ser construído em locais que vão além do que chamamos de espaços formais de Educação, ou seja, a escola. Os chamados espaços não-formais são ambientes em que ocorrem diversas atividades interativas que são realizadas com a participação dos visitantes, como por exemplo os museus, que podem contribuir positivamente com o ensino, visto que são locais com muita diversidade de informações. É comum que escolas façam parcerias com diversos ambientes não-formais com o intuito de enriquecer o ensino normalmente teórico que é oferecido dentro das salas de aula, já que as atividades desenvolvidas nesses espaços costumam ter estratégias práticas de ensino e interação com os conceitos abordados.

As concepções dos professores de Ciências sobre espaços não-formais de educação influenciam na procura desses locais para complementar o ensino escolar. Preocupadas com essa perspectiva, Rafaella Faria, Daniela Jacobucci e Renata Oliveira, da Universidade Federal de Uberlândia, autoras do artigo “Possibilidades de ensino de botânica em um espaço não-formal de educação na percepção de professoras de ciências” de 2011, analisam as concepções de professoras de Ensino Fundamental sobre atividades de Botânica desenvolvidas no Museu DICA (Diversão com Ciência e Arte), localizado na cidade de Uberlândia (MG). 

O cenário dessa pesquisa se dá a partir das estratégias de ensino proporcionadas por um museu de ciências e o interesse das pesquisadoras em possibilitar uma abordagem interativa sobre temas relacionados à Botânica, buscando então conhecer o entendimento das professoras de Ciências sobre os espaços não-formais de Educação e se esses locais eram importantes para o processo de ensino-aprendizagem dessa temática.

 

Como foi realizada a pesquisa

Para alcançar seus objetivos, as pesquisadoras convidaram dezessete professoras de Ciências do Ensino Fundamental de Escolas Municipais, Estaduais e Particulares de Uberlândia a participar de três etapas da pesquisa que foram realizadas ou por mensagem eletrônica ou presencialmente no Museu DICA. 

Na primeira etapa, foi aplicado um questionário inicial composto por perguntas que visavam investigar o que as professoras entendiam por espaços formal e não-formal de Educação, quais eram as possíveis interações entre esses dois tipos de espaços e qual era a intenção de um professor ao usar os espaços não-formais para ensinar Ciências. A segunda etapa consistiu na realização da atividade “Chá dos Sentidos” pelas professoras e registro de suas impressões em um diário de campo. Por fim, como última etapa, foi aplicado um segundo questionário que buscava conhecer a utilização de Museus de Ciências como um espaço de ensino, avaliar a atividade feita na etapa anterior bem como se havia potencial em reproduzir essa atividade no Ensino de Botânica dentro da escola. 

A atividade “Chá dos Sentidos” consistiu basicamente em explorar os sentidos humanos (olfato, visão e paladar) através de chás e seus aromas, e uma visita ao canteiro onde as diversas plantas medicinais utilizadas na atividade são cultivadas no Museu DICA com o intuito de reconhecê-las. Este canteiro sensorial contribui positivamente com a estética do local e para proporcionar o contato direto dos visitantes com as plantas.

 

Percepções das professoras de Ciências 

Treze das dezessete professoras convidadas a participar da primeira etapa da pesquisa responderam ao Questionário 1. A partir da análise das respostas, percebeu-se que as professoras entendem como espaço de Educação formal o ambiente físico da sala de aula, e que para o conceito de espaço não-formal foram encontrados dois padrões de resposta, um que relaciona tudo que acontece fora da escola com o ensino não-formal, outro que considera qualquer espaço que não seja a sala de aula, como museus e parques públicos, mas também espaços que façam parte da escola, como o pátio, por exemplo. Com essa segunda associação, é possível perceber que o espaço não-formal é aquele em que há pouca formalidade ou regras, diferente do que acontece em sala de aula.

Para as professoras entrevistadas, a visita em espaços de Educação não-formal proporciona a oportunidade de maior interação com os estudantes como também permite a ligação da teoria estudada em sala com a prática vivenciada num museu, sendo este último a principal razão que motiva as professoras a procurar um espaço distinto do escolar, já que esses são espaços que atraem a atenção dos estudantes para aprender Ciência de forma dinâmica.  

Para a segunda etapa da pesquisa, cinco professoras participaram da atividade “Chá dos Sentidos” e responderam ao Questionário 2, que tinha o intuito de avaliar o potencial da atividade em questão para a abordagem do conteúdo de Botânica. Observou-se uma grande preocupação com o nome das espécies utilizadas e uma busca em utilizar os conhecimentos prévios sobre o tema por parte das professoras. A atividade foi considerada simples, porém estimulante, e todas as professoras consideraram possível de ser aplicada em sala de aula para tratar temas relacionados à Botânica, sugerindo algumas alterações, como redução do tempo e os tipos de plantas utilizadas, por exemplo. 

 

Museus enriquecendo o Ensino de Ciências

A partir das análises, as pesquisadoras constataram que o senso comum influencia as professoras na hora de conceituar os espaços formais e não-formais de Ensino, associando esses locais com a organização adotada em sala de aula, ao invés dos papéis e funções ligados a cada um. No entanto, mesmo com as confusões conceituais, os museus como espaços não-formais são procurados com o intuito de enriquecer a teoria estudada em sala e também tornar o Ensino de Ciências mais prazeroso. Por fim, a pesquisa mostra que atividades de Botânica dentro de espaços não-formais foram avaliadas de maneira positiva pelas professoras e considerada passível de reprodução com os estudantes nos ambientes formais. 

 

Ficou interessado? Acesse a pesquisa original:

 

FARIA, Rafaella Librelon de; JACOBUCCI, Daniela Franco Carvalho; OLIVEIRA, Renata Carmo. Possibilidades de ensino de botânica em um espaço não-formal de educação na percepção de professoras de ciências. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências (Belo Horizonte), v. 13, n. 1, p. 87-104, 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/epec/v13n1/1983-2117-epec-13-01-00087.pdf>. Acessado em 10 jun. 2020