Sustentabilidade e preservação: a representação social de licenciandos sobre a Educação Ambiental

Legenda: A reciclagem e a conscientização têm sido ideias comungadas a respeito da Educação Ambiental entre egressos da educação básica que decidem pelas licenciaturas das Ciências da Natureza. Crédito: freepik.com. Disponível em: https://br.freepik.com/fotos-gratis/objetivos-de-desenvolvimento-sustentavel-natureza-morta_38687435.htm#fromView=search&page=4&position=9&uuid=9c5a4ee5-5105-4043-8440-66c24e97d84d

Como podemos fomentar a Educação Ambiental na formação de professores de Ciências? Estudo investiga as representações de licenciandos ingressantes das Ciências da Natureza acerca do tema.

Gabriel Vitoriano Braga

Sou professor de Química pela UFES e atualmente mestrando pelo PIEC-USP. Meus interesses acadêmicos perpassam por temáticas como Experimentação no Ensino de Química e Profissionalidade docente. Em meio tempo livre, enquanto não estou lendo, amo pesquisar curiosidades geek sobre cultura pop, fazer atividade física e ouvir música pop. Não menos, integro o corpo editorial da Revista BALBÚRDIA. 

Instagram: @gabrielbraaga_

12 de agosto de 2024 | 10:00

Em tempos em que cada vez mais se discute mudanças climáticas, aquecimento global e antropização (ação do ser humano no meio ambiente), se torna urgente promover discussões acerca da Educação Ambiental. Mas muito se questiona: o que vem a ser esta educação? Minimizar impactos antrópicos é de longe uma das ideias mais comuns quando falamos em Educação Ambiental, que pode apresentar muitos sentidos e em diferentes contextos, particularmente, entre ingressantes de cursos de Licenciatura das Ciências da Natureza. 

Compreender a polissemia que envolve as discussões concernentes à Educação Ambiental é a proposta de Rafael Almeida de Freitas e Marcos Vogel em publicação de 2022 na Revista Brasileira de Educação Ambiental. Os autores nos apresentam um estudo que visa preencher uma lacuna existente no campo acadêmico que tenta articular a representação de licenciandos em formação inicial, o Ensino de Ciências e a Educação Ambiental. Para os autores, por exemplo, é explícita a sua perspectiva como “Filosofia de Vida”, em que a Educação Ambiental se mostra como uma maneira de como nos orientamos para compreender as relações com nossa própria realidade socioambiental e como nos comportamos frente a ela. A dupla, assim, investigou a partir do referencial teórico-metodológico Teoria das Representações Sociais, se ingressantes das Licenciaturas de Química, Física e Ciências Biológicas da Universidade Federal do Espírito Santo compartilhavam socialmente de uma representação acerca da Educação Ambiental. Para tanto, aplicaram um questionário a 66 licenciandos. O questionário foi desenvolvido com o objetivo de compreender as expressões mais importantes para eles ao pensarem em Educação Ambiental. Após obterem essas expressões, os pesquisadores as analisaram para compreender o seu sentido.

Mas antes de tudo, o que é Representação Social?

Quem nunca ouviu falar que somos seres sociais? Que nossas trajetórias de vida e profissional são marcadas por experiências coletivas e individuais, como na família, na escola, na universidade, em nosso campo de trabalho, etc.? Os autores nos apresentam esses aspectos para que possamos compreender um conceito chave de seu estudo: a representação social. Surgida no campo da Psicologia Social, por Serge Moscovici (2010), embora seja um conceito um tanto complexo, podemos assim simplificá-lo: é o nosso senso comum, é a maneira de expressarmos e comunicarmos aquilo que sabemos, sobre as mais diferentes coisas (acontecimentos, pessoas, ideias) que fazem parte da nossa vida cotidiana. Significa dizer que podemos, ao mesmo tempo, pertencer a vários grupos sociais.

Só construímos e mobilizamos essa maneira de pensar quando nos relacionamos e nos comunicamos socialmente, quando compartilhamos consensos com outras pessoas sobre um assunto, e não necessariamente precisamos estar em um mesmo local. As experiências que vivenciamos anteriormente e os diferentes modos de como nos comunicamos vão sendo incorporados nessa forma de pensarmos. Nos guiamos nela para explicar e compreender nossa realidade, tomamos e justificamos nossas ações por ela, seja no trabalho, seja socialmente.

A sustentabilidade como eixo formativo na Educação Ambiental

Dito isso, Rafael e Marcos (2022) nos apresentam quatro (4) palavras-chave que nos indicam o que os licenciandos imaginam que seja a Educação Ambiental. São elas “preservação”, “conscientização”, “reciclagem” e “poluição”. Mas como eles chegaram nesses resultados? As análises utilizadas pelos pesquisadores mostram que estes termos são os mais frequentes dentre os sinalizados pelos sujeitos investigados. O resultado indica o quão significativos são esses termos ao se pensar o que é Educação Ambiental.

Uma das ideias mais comuns desses sujeitos é a de que a Educação Ambiental refere-se a ações de preservar a natureza, de cuidá-la com qualidade e respeito. Preocupar-se com as nossas ações perante a natureza é, assim, uma responsabilidade. O exemplo mais claro diz respeito à poluição, causada ao ambiente por diferentes ações prejudiciais. Embora não explicite efeitos, fica implícita ainda a relação com questões como saúde humana a curto e a longo prazos. Os pesquisadores evidenciam, assim, entre as ideias desses futuros professores, a de que a Educação Ambiental envolve aprender a lidar com os diferentes tipos de poluição.

Se a poluição é um problema e a Educação Ambiental é uma via de solução, é comum entre os participantes conscientizar-se. Conscientizar é visto como um processo de mudança do comportamento e da visão perante nossa realidade socioambiental. É estar ciente dos efeitos de nossas próprias ações para tomar decisões que sinalizem essa preservação de recursos. É uma conscientização em campos éticos e morais, ressignificando sua relação com os outros e com a natureza. Essa mudança comportamental se daria, por exemplo, pelos processos de reciclagem. Descartes inadequados e excesso de materiais industriais são fortemente apontados pelos professores em formação como aspectos a serem trabalhados com os alunos. É explícita a defesa de ações sustentáveis por toda população.

Mas os autores nos fazem questionar: como trabalhar estas questões em sala de aula? Eles compreendem que estas ideias são importantes na inserção do trabalho dialógico com esses diferentes conceitos. Torna-se importante trabalhar cada uma dessas palavras com os estudantes, para auxiliá-los a compreender e a se apropriar desses conceitos e valores, trabalhando-se diferentes dimensões de aprendizagem, como quanto a pensar a poluição e reciclagem como práticas a serem tomadas. São ações que requerem uma dimensão atitudinal dos alunos, de responsabilidade para com a conscientização e preservação do ambiente.

Olhares para a formação inicial de professores das Ciências da Natureza

As ideias retratadas pelos ingressantes são apontadas como claramente conservacionistas, resolutivas e responsáveis, centradas no ato de conservar recursos e buscar informações para tomadas de posição. O estudo de Rafael e Marcos (2022) nos possibilita compreender aspectos que têm sido trabalhados na educação básica e que devem ser aprofundados ao longo da formação inicial de professores das Ciências da Natureza. Princípios como preservação e sustentabilidade são possibilidades de dialogar com as questões relativas à Educação Ambiental. Situa-se que estes princípios estão de acordo com alguns aspectos esperados ao longo desse percurso formativo, desvelando-se uma consciência crítica que possa ser incorporada em sua futura atuação. 

Os autores nos fazem refletir sobre a sustentabilidade como um eixo de destaque, como objeto de reflexão na formação de professores, no que diz respeito a seus princípios e práticas que são marcadas pelas relações entre ser humano e natureza, sinalizadas como relações ecocívicas (ou relacionadas ao ecocivismo). A defesa por uma Educação Ambiental não perpassa longe das discussões sobre currículo e formação docente. É necessário repensar como ela é (e deveria ser) trabalhada na formação inicial, tanto em termos de questionar as disposições curriculares dos cursos de licenciatura quanto na identificação e preenchimento de lacunas entre essas duas dimensões, regimental e teórico-prática, dos futuros professores. Por exemplo, no que diz respeito à ausência ou a escassez de atividades que auxiliem no estabelecimento de relações entre os conteúdos das disciplinas e discussões que versam a Educação Ambiental, à oferta de disciplinas optativas voltada a discutir tópicos particulares e à própria estrutura curricular, que muitas vezes se orienta pela fragmentação das disciplinas. Por serem egressos do ensino médio, deixa-se em aberto discussões acerca da relação entre essa educação e a ciência, em questionar o papel científico, na medida em que se possa construir caminhos pelos quais esses futuros professores também as façam com o seu público, dialógica e criticamente.

E então, ficou curioso pelo tema? Segue o link do artigo na íntegra:

FREITAS, Rafael Almeida de; VOGEL, Marcos. A Educação Ambiental pela representação social de alunos ingressantes e Cursos de Licenciatura em Ciências Biológicas, Física e Química da Universidade Federal do Espírito Santo. Revista Brasileira de Educação Ambiental, v. 17, n. 2, p. 239-259, 2022. Disponível em: <https://doi.org/10.34024/revbea.2022.v17.12622>. Acesso em: 11 jul. 2024.

MOSCOVICI, Serge. Representações sociais: investigações em psicologia social. 7ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010, 404 p.