Trabalho com notícias e fake news na sala de aula: experiências do PIBID no COLTEC/UFMG

Legenda: Imagem ilustrativa sobre a abordagem das fake news em sala de aula. Fonte: Freepik. Créditos: Macrovector.

Relato de experiência de professoras em formação do PIBID ressalta a importância da discussão sobre notícias e fake news em sala de aula.

Rosa Maria Duarte Veloso

Olá, pessoal. Meu nome é Rosa Maria Duarte Veloso. Sou Licenciada em Pedagogia com habilitação em Administração e Supervisão Educacional pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI), em Ciências Biológicas pelo Centro Federal de Educação Tecnológica do Piauí (CEFET_PI) e mestre em Saúde Pública pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Durante a graduação fui bolsista de Iniciação Científica pela FAPEPI e no mestrado fui bolsista do CNPq. Possuo experiência como professora e coordenadora na educação básica e no ensino superior. Sou integrante da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa - RBAC, no núcleo Maranhão e atualmente trabalho como professora em uma escola de tempo integral no Maranhão. Já recebi diversas distinções pelo meu trabalho: Selo Professor Transformador pelo Instituto Significare (2021), Prêmio Professor de Ciências do Ano 2021 (FeSBE)-finalista na categoria Ensino Básico, Prêmio Territórios do Instituto Tomie Ohtake (2021 e 2022) e Prêmio Perestroika Professores Criativos - finalista na categoria Ensino Básico (2022), Chancela 100 Professores Protagonista da Mudança Save For Tomorrow pela SAMSUNG (2022). O lugar de onde eu falo é reflexo dos 23 anos vividos de militância no movimento social e como profissional de educação, mediadora nos processos de ensino-aprendizagem na educação pública que me trouxe inquietações e desafios na busca de efetivação de uma educação ressignificadora e transformadora de vidas na tentativa de (re)descobrir novos caminhos para se fazer educação pública de qualidade. Perfil de instagram: @rosamariaduarteveloso

27 de novembro de 2023 | 10:00

As fake news cresceram com a popularização e acesso facilitado às mídias sociais e à internet. Apesar de algumas mensagens parecerem inofensivas, o compartilhamento desse tipo de notícia pode trazer grandes consequências, por exemplo, interferir em eleições presidenciais, ocasionar danos físicos ou psicológicos, colapsar o sistema público de saúde e contribuir para a propagação de doenças. O trabalho com notícias e fake news em sala de aula com metodologias ativas oportuniza ao educando a compreensão da importância da análise das informações recebidas antes de repassá-las.

O termo “fake news pode ser traduzido como “notícias falsas” e se disseminou, tão rapidamente quanto o vírus, durante a pandemia de COVID-19, prestando um grande desserviço no enfrentamento a essa doença. Por diversos motivos, as campanhas de prevenção e comunicação sobre a COVID-19 não foram eficazes na comunicação caminhando a passos lentos se comparada com a rapidez e quantidade de desinformação propagada na mídia que, ao invés de contribuir para o bem-estar da população, contribuiu para a disseminação da doença e até mesmo a morte de milhares de pessoas.

Abordando as fakes news em sala de aula

O trabalho desenvolvido pelas autoras Ana Carolina Rocha, Ana Luisa Duarte Gonçalves e Daniervelin Renata Marques Pereira, publicado na revista PERcursos Lingüísticos no ano de 2021,  traz um relato de experiência de duas bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) com uma turma do 2° ano do Ensino Médio do Colégio Técnico da Universidade Federal de Minas Gerais (COLTEC-UFMG). O PIBID-UFMG visa contribuir para a formação de professores da rede de ensino básico a partir da inserção dos graduandos em sala de aula antes da finalização do curso, os estimulando a utilizarem metodologias ativas e conteúdos significativos para os estudantes.

O tema proposto neste relato de experiência foi o impacto social decorrente da propagação de fake news, onde os estudantes propuseram uma série de atividades relacionadas à propagação de fake news através da abordagem do gênero textual Notícias, especialmente as que estão disponíveis no meio digital.

A importância da discussão nos meios educacionais

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s), documento nacional norteador voltado para boas práticas educacionais, orientam para o uso crítico e consciente de tecnologias da comunicação. Já, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), reforça a orientação para o uso  das  tecnologias  digitais  em  sala  de  aula.

Nos últimos anos as fake news têm se tornado alvo de discussões, seja pelo fato de estarem interferindo no contexto político atual brasileiro e na pandemia do COVID-19, trazendo sérias consequências à saúde pública e à educação. O que chama a atenção é que essas “notícias falsas” são forjadas de forma intencional sobre determinado tema para prejudicar terceiros, sendo disseminadas em massa “viralizando” rapidamente.

Sabemos que esse tipo de notícia sempre existiu, porém, o avanço da tecnologia e a facilidade de acesso à internet, pelo uso em massa das redes sociais e a popularização de aparelhos com acesso a essa tecnologia, como celulares e notebooks, promoveram a ampliação em grande escala do envio e do acesso às informações. A velocidade e a intensidade com que as pessoas recebem essas informações dificultam a sua verificação, ao mesmo tempo que facilitam o seu repasse para contatos próximos, carregando assim um selo de credibilidade. 

A onda de fake news, como disparo em massa de mensagens, é um fenômeno que tem chamado a atenção de estudiosos e reforça a importância de se analisar a informação recebida antes de repassá-la. Dessa forma, é urgente e necessária a discussão de fake news na escola.

A discussão sobre notícias e fake news em ação

No relato, as autoras fazem uma série de definições sobre o que seria notícia e fake news e explicam a razão da sua veiculação ser um problema social a ser combatido. Elas desenvolveram uma proposta didática que consiste em quatro passos: problematização, desenvolvimento da narrativa, aplicação e reflexão. 

A sequência didática foi dividida em quatro aulas de 50 minutos. Inicialmente, foi abordado o gênero “notícia” a partir dos conhecimentos prévios dos alunos; foi apresentado um vídeo sobre fake news de Pabllo Vittar, seguido de um debate sobre como os alunos leem as notícias e checam as fontes das informações; depois foi solicitada a escrita de um texto noticiando a chegada  de extraterrestres em MG. Na segunda aula, foi trabalhado o gênero “notícia” e o caráter subjetivo que as notícias podem apresentar, e, para isso, foram analisadas algumas manchetes. Na terceira aula, foram escritos e reescritos os textos produzidos pelos alunos, e, por fim, foi aplicado um QUIZZ para identificar a autoria de frases. Para a realização das atividades, usou-se da criatividade e recursos disponíveis na escola como computador, data-show e cartolina.

Foram elaborados diversos cartazes sobre fake news, produções textuais e foram desenvolvidas atividades lúdicas para estimular o posicionamento e a propagação de informações de qualidade pelos alunos que se mostraram empenhados na elaboração das atividades que colaborou no letramento crítico e digital e para a conscientização sobre a disseminação de fake news

As autoras, enquanto professoras em formação no exercício da profissão na sala de aula, perceberam a importância do planejamento de propostas didáticas dinâmicas e flexíveis, que intercalem os conteúdos do currículo formal com atividades interativas.

Qual a relevância do trabalho?

Diante dos desafios das aulas durante a pandemia e na pós-pandemia, a escola não pode continuar trabalhando como antes e negar os impactos do isolamento na volta às aulas presenciais. 

Cabe aos educadores trabalharem conteúdos mais significativos para os alunos e trazerem o que estamos vivenciando para dentro do currículo escolar, encontrando novas estratégias de ensino, haja vista a dinamicidade do processo de ensino e aprendizagem.

Segundo as autoras, esse trabalho foi importante para sua formação enquanto profissionais da educação e relataram a importância do planejamento flexível, colaborativo e dinâmico trazendo elementos da “linguagem dos educandos”, valorizando os saberes locais e abertos às novas demandas, possibilitando a efetivação da práxis pedagógica.

Para os alunos do COLTEC/UFMG foi importante porque fomentou o letramento crítico e digital e estimulou os alunos a não propagarem fake news. Além disso, os alunos puderam perceber estratégias linguísticas que se relacionam a fatores discursivos, como estratégias persuasivas ou argumentativas, escolhas semânticas e sintáticas, diretamente implicadas na vivência social.

Embora esse trabalho esteja circunscrito ao PIBID-Letras, é possível adaptar a proposta didática interdisciplinar com outras áreas, em especial às Ciências Naturais, como a Biologia, a Física e a Química, que constantemente são desacreditadas pelos movimentos negacionistas, inclusive, no contexto padêmico receberam inúmeros ataques desses movimentos em decorrência da produção das vacinas. Por exemplo, é possível relacionar situações de desinformação relacionadas às Ciências Naturais com a produção textual trabalhada na disciplina de Língua Portuguesa.

 

Ficou interessado(a)? Para saber mais, acesse:

GONÇALVES, Ana Luísa Duarte; ROCHA, Ana Carolina; MARQUES, Daniervelin Renata Marques. Trabalho Com Notícias E Fake News Na Sala De Aula: Experiências Do PIBID no COLTEC/UFMG. PERcursos Linguísticos[S. l.], v. 11, n. 27, p. 112–131, 2021. DOI: 10.47456/pl.v11i27.33924. Disponível em:  https://periodicos.ufes.br/percursos/article/view/33924. Acesso em: 24 fev. 2023.