Trilhas, cartas e tabuleiros como espaços estruturadores para discussões sobre saúde e vacinas nas escolas

Legenda: Livro disponibilizado de forma gratuita pela Pró-Reitoria de Extensão da UNIFAL-MG propõe jogos de tabuleiros para educadores que buscam explorar temas complexos de maneira atrativa. Montagem realizada no Canva a partir de imagens do livro e dos jogos.

Cyntia Ferreira compartilha conosco jogos sobre vacinas desenvolvidos para auxiliar o ensino de biologia.

Cyntia Silva Ferreira

Bacharel em Biotecnologia (UNIFAL-MG), mestra e doutora em Biotecnologia (UFOP) e mestra em Ensino de Ciências (UFOP), na área de concentração Ensino de Biologia. Atualmente, realiza estágio de pós-doutorado em Nanotecnologia na Universidade Federal de Ouro Preto e é editora da Revista Ensina Biotec, atuando também em atividades de divulgação científica. Mãe de dois meninos, gosta de música e viagens, e acredita no potencial da culinária como prática social e ato político. Perfil de instagram: @cyntia_sf

10 de julho de 2023 | 10:00

Notícias e discussões relacionadas à saúde ganharam notoriedade mundial após a pandemia da COVID-19, especialmente referente às vacinas. Mas, se por um lado observamos um aumento da curiosidade e interesse por temas científicos, por outro tivemos contato com os impactos da negação da ciência. Embora o número de casos da COVID-19 esteja diminuindo graças às campanhas de imunização, estamos longe de obter êxito em relação à conscientização da sociedade frente à importância das vacinas. Podemos comemorar 33 anos sem registros de poliomielite no Brasil, mas perdemos recentemente a certificação de “país livre do vírus do sarampo” e o Programa Nacional de Imunizações (PNI) não atingiu as coberturas vacinais recomendadas. Esse cenário nos estarrece com a ocorrência de novos surtos de sarampo a cada ano e com o risco de reintrodução da poliomielite em nosso país, além da preocupação emergente com a baixa procura pelas vacinas Pentavalente e Tríplice Viral, por exemplo. 

Tudo isso evidenciou a necessidade de ampliar os debates sobre a importância das vacinas e de medidas preventivas relacionadas a doenças transmitidas por microorganismos. Visando facilitar a discussão desses assuntos nas escolas, o grupo de divulgação científica “Ensina Biotec”, da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP-MG), e o grupo de pesquisa em Educação Ambiental "Pé de Água", da Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG) produziram o livro “Jogos didáticos para uma abordagem multidisciplinar do tema ‘vacinas’ em sala de aula”. A obra representa um recurso pedagógico lúdico direcionado a educadores que buscam explorar temas complexos de maneira atrativa, e está disponível para download gratuito no site da Pró Reitoria de Extensão da UNIFAL-MG 

Nesta obra, os leitores encontram temas transversais e interdisciplinares de educação ambiental e educação em saúde, que tratam da importância das vacinas para a sociedade. Em linguagem acessível, o assunto é abordado por meio de três jogos de tabuleiro, um jogo de cartas e um jogo do tipo “verdadeiro ou falso”. Os jogos são apresentados em formato de apostila e permitem extrair atividades e debates sobre os aspectos sociais, culturais e biológicos que permeiam o conteúdo sobre vacinas. Dessa forma, os organizadores consideram que é possível aproximar temas cotidianos das discussões científicas, oportunizando a formação de estudantes críticos, problematizadores e conscientes. 

No jogo “Pegue o vírus”, por exemplo, os jogadores devem percorrer o centro da cidade de Belo Horizonte na tentativa de encontrar um vírus que tem cada vez mais chances e meios para se disseminar entre ônibus, táxis, metrôs e helicópteros. O contexto proporciona o levantamento de discussões sobre o conceito de imunização como medida social, sobre a importância do controle de doenças, entre outras. Os diálogos iniciados a partir desse jogo também podem subsidiar a explicação de conceitos como os de “pandemia”, “epidemia”, “endemia” e “surto”, além de discussão sobre mecanismos evolutivos e adaptativos, mutações e variações genéticas. Além disso, podem ser abordados os aspectos climáticos, os tipos de migrações, o processo de globalização comercial e as políticas públicas urbanas, relacionando-os com a ocorrência de doenças e suas consequências para a saúde e o meio ambiente.

Assim, o diferencial da obra é a aplicação interdisciplinar e descomplicada dos jogos, por meio do recorte dos modelos gráficos propostos. Em cada jogo, os educadores encontram instruções detalhadas e indicações pedagógicas, tais como discussões socio-científicas, leituras complementares, sugestões de aplicação em sala de aula e conhecimentos prévios necessários (como sistema imunológico e relações entre micro-organismos e saúde). 

Além disso, os jogos propostos se alinham aos preceitos estabelecidos pela BNCC, considerando as indicações de uso de jogos didáticos como ferramentas pedagógicas para tornar a aprendizagem interativa e abordar competências e habilidades relacionadas à saúde e ao meio ambiente. Para relacionar as abordagens pedagógicas ao contexto curricular, o livro traz a indicação de faixa etária, unidades temáticas, conceitos, habilidades e linguagens abordadas. O jogo “Fato ou fake”, por exemplo, é indicado aos finais do ensino fundamental II, enquanto o jogo “Uma batalha no corpo humano” aos estudantes do ensino médio.   

Ao evidenciar que os jogos foram testados e validados em diferentes situações, os autores da obra dialogam com a perspectiva já defendida por outros trabalhos sobre a importância dos jogos educativos como instrumentos mediadores da aprendizagem. Nesse sentido, ao abordar assuntos relevantes por meio de jogos, é possível oportunizar a socialização entre estudantes e docentes, além de estimular a curiosidade, a criatividade e o desenvolvimento de raciocínio crítico nos sujeitos envolvidos. 

Em suma, considerando que a complexidade da comunicação da ciência nos convida a repensar nossas práticas educacionais, o livro representa um material de apoio diferenciado para a implementação de estratégias lúdicas a fim de auxiliar e estimular o aprendizado. Com abordagens problematizadoras e direcionadas para a valorização das ações de imunização e boas práticas de saúde, a obra também subsidia diversas discussões científicas a fim de contornar os efeitos negativos da circulação de informações falsas.

Ficou interessado em saber mais sobre os jogos? Leia:

FERREIRA, Cyntia Silva; et al. (organizadores). Jogos didáticos para uma abordagem multidisciplinar do tema ‘vacinas’ em sala de aula. Alfenas: Universidade Federal de Alfenas, 2021.