Análise de podcasts nacionais apresenta uma gama de possibilidades para professores de diferentes níveis de ensino.
Silvania Silva de Oliveira
Sou professora de biologia formada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e durante a graduação participei vários projetos de extensão (microbiologia, agroecologia, inclusão de pessoas com deficiência no ensino superior) e de um projeto de pesquisa que trabalhava com escorpiões (eles se tornam bem bonitinhos depois que você os conhece melhor). Atualmente faço mestrado no Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências da Universidade Federal Rural de Pernambuco (PPGEC/UFRPE), onde trabalho com a temática da divulgação científica na formação inicial de professores de ciências. Adoro comer, treinar, consumir bastante da cultura pop e ficar em casa nos finais de semana.
18 de dezembro de 2023 | 16:00
O fortalecimento do negacionismo científico nos expõe à ameaça de regredir no que concerne ao nosso entendimento sobre a dinâmica da realidade da qual fazemos parte. É um desafio que cabe tanto aos pesquisadores brasileiros quanto às suas instituições fomentar a criação de programas bem estruturados para implementação da divulgação científica dentro dos ambientes acadêmicos, alcançando, ainda que vagarosamente, a sociedade.
Diante da necessidade de auxiliar professores na escolha de um recurso educativo de qualidade, os pesquisadores Luiz Felipe Santoro Dantas, do Consórcio CEDERJ, e Eline Deccache-Maia, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, realizaram uma investigação que lhes permitiu catalogar as principais produções nacionais de podcasts de divulgação científica que podem ser utilizadas por professores de ciências para a abordagem de diversos conteúdos científico-escolares.
No artigo, publicado no ano de 2022 na Revista de Ensino de Ciências e Matemática, os pesquisadores, a partir de um levantamento bibliográfico e da quantidade de programas disponíveis em um agregador de podcast, salientam a importância desse material para impulsionar a aprendizagem dos estudantes e democratizar o conhecimento científico.
Divulgação científica e tecnologia
A fim de guiar a investigação, Dantas e Deccache-Maia utilizaram de referenciais teóricos da divulgação científica e das tecnologias digitais de informação e de comunicação. Os autores também se aventuraram pelo contexto histórico do podcast e de seus principais precursores até chegar no formato atual com o qual estamos mais familiarizados em nosso cotidiano.
Cabe ressaltar o percurso seguido por Dantas e Deccache-Maia para alcançar o objetivo da pesquisa: os autores analisaram trabalhos científicos em bibliotecas digitais, espaço onde estudantes e pesquisadores divulgam as suas pesquisas desenvolvidas em parceria com as universidades, e realizaram um levantamento de dados no Spotify, plataforma de música e conteúdos digitais como o podcast. Este último se parece com um programa de rádio, mas com a praticidade de se ouvir em qualquer horário e se aprofundar sobre qualquer tema – com a possibilidade de baixar o episódio e ouvi-lo off-line no caminho para o trabalho.
Os autores conseguiram categorizar uma série de podcasts de divulgação científica de diferentes áreas do conhecimento, encontrando dados sobre o número de programas produzidos no decorrer dos últimos anos, especialmente a quantidade de podcasts criados no ano de 2020 – tempos sombrios da pandemia da Covid-19. Dantas e Deccache-Maia se apropriaram dessas leituras para compreender as potencialidades desse formato em situações de ensino, em particular ambientes formais de aprendizagem como a sala de aula.
O podcast e o professor de ciências
Os autores destacaram a tendência dos programas de acompanhar a dinâmica da realidade da época, abordando temas atuais e de interesse da sociedade. Foi discutida, em especial, a categoria sobre conteúdos relacionados à química, física, matemática, biologia e ciências, onde Dantas e Deccache-Maia observaram o número mais expressivo de podcasts de divulgação científica. Mas, então, como ajudar o professor de ciências a escolher um programa, dentre os que já existem, para ser utilizado em suas aulas?
Para alcançar tal objetivo, os autores agruparam os podcasts encontrados segundo critérios definidos por Carvalho, Aguiar, Maciel e Leite, pesquisadores da área da educação, tais como formato: áudio, vodcast/videocast (formato de vídeo), screencast (gravação da tela do computador com narração em áudio) e Enhanced Podcast (apresentação em imagens com adição de elementos como vídeos curtos e links, também com narração em áudio); tipo: expositivo/informativo, instruções/orientações, feedback/comentários e materiais autênticos (produtos feitos para o público em geral, não apenas estudantes); autor: profissionais e estudantes de diferentes áreas de conhecimento e níveis de ensino, respectivamente; duração: curto, moderado e longo; estilo: linguagem formal e informal, e, por último, finalidade: informar, incentivar, motivar, divulgar, orientar, questionar, sensibilizar, refletir, etc.
A discussão sobre os dados apresentados traz um compilado de podcasts de divulgação científica disposto dentre as dimensões elencadas anteriormente, o qual pode ser utilizado para guiar o professor de ciências que deseja abordar o conteúdo científico através de uma proposta menos engessada e mais persuasiva. E por que não criar o seu próprio podcast? O professor, de maneira individual ou colaborativa com estudantes e/ou outros educadores, também pode criar seu podcast com características específicas para atingir o objetivo desejado.
Como divulgar trabalhos acadêmicos?
A investigação de Dantas e Deccache-Maia parte da ideia do podcast de divulgação científica enquanto estratégia de ensino acessível e de baixo custo que pode auxiliar no combate à onda de negacionismo e desinformação gerada pelas fake news e contribuir para a democratização da cultura científica. No entanto, como fazer os resultados dessa pesquisa alcançarem as escolas?
Apesar dos avanços no ensino de ciências, o cenário educacional brasileiro é bastante preocupante, trazendo desafios como uma formação inicial e continuada que contemple a existência e as possibilidades de uso da divulgação científica em situações de ensino. São necessários novos estudos teóricos que discutam a sua finalidade no ensino formal, especialmente no que diz respeito ao podcast, proposta apresentada pelos autores.
Ficou interessado ou interessada? Saiba mais lendo o artigo completo:
DANTAS, Luiz Felipe Santoro; DECCACHE-MAIA, Eline. O retorno da era do áudio: analisando os podcasts de divulgação científica. Revista de Ensino de Ciências e Matemática, [S. l.], v. 13, n. 4, p. 1–25, 2022. DOI: 10.26843/rencima.v13n4a18. Disponível em: https://revistapos.cruzeirodosul.edu.br/index.php/rencima/article/view/3730. Acesso em: 28 jan. 2023.